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Pedro Chagas Freitas
Pedro Chagas Freitas COMO F***DER UM CASAMENTO Manual Prático para Mul

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Efémero

Efémero: adj. Aquilo que não é amado. Só se esqueceu o que nunca se sentiu. O que o tempo carrega. Só o irrepetível se torna inesquecível.
19 de dezembro de 2016 às 00:00

- Amas-me?

- Claro, mas depois do jantar.

É uma mulher meticulosamente organizada: tudo o que acontece está planeado, tudo o que vai acontecer tem de estar calendarizado. Se não estiver não acontece.

- Amanhã podemos ir ao cinema, mamã?

- Não, amanhã vamos ser felizes.

Tem uma dificuldade inultrapassável em separar o ambíguo do exacto, o concreto do abstracto. Para si, um sentimento é tão palpável como um quilo de arroz, e ambos são, em partes iguais, constituintes da sua vida. Não estranha, por isso, que muitas vezes não a entendam, como daquela vez em que se esqueceu do dinheiro em casa e quis pagar uma encomenda nos correios com um abraço.

- Claro, mas depois do jantar.

É uma mulher meticulosamente organizada: tudo o que acontece está planeado, tudo o que vai acontecer tem de estar calendarizado. Se não estiver não acontece.

- Amanhã podemos ir ao cinema, mamã?

- Não, amanhã vamos ser felizes.

- Quanto quer pela casa?

- O sorriso de todos.

Foi assim que fez aquele que nos dias de hoje descreve como "o negócio mais rentável de sempre", quando entregou a casa dos seus pais, que trabalharam durante décadas para a conseguirem pagar, a uma família de mendigos que, todos os dias, se cruzavam consigo junto à entrada do banco.

"Consegui precisamente o que pretendia, nem houve negociação. Propus o que queria e eles aceitaram logo, foram uns queridos, nem quiseram regatear", explica, vezes sem conta, ao mesmo tempo em que mostra uma fotografia daquela família, de sorrisos bem abertos, na sala faustosa da casa que ela lhes vendeu.

- O que fazes profissionalmente?

- Vivo.

Vive. Planeia cada passo com o rigor de um engenheiro – e é isso mesmo o que ela é, o que estudou, o que a fez ser, em pouco tempo, uma das maiores especialistas em engenharia dos sentimentos do mundo. Quando lhe perguntam para que serve uma engenharia sobre o que se sente, responde somente que serve apenas para tudo e para mais alguma coisa, e

- Vivo.

é esta a resposta mais abstracta que algum dia conseguirá dar a qualquer questão.

- Qual é o teu sonho? - Sonhar. É isso o que, diariamente, faz. Ontem ficou o dia todo a distribuir as roupas todas que tinha no guarda-roupa pela cidade onde mora. Anteontem cozinhou todos os alimentos que tinha em casa e entregou as refeições num bairro social. Antes de anteontem percorreu porta a porta o seu bairro a contar anedotas, e fez centenas de pessoas rirem.

Amanhã passará a manhã a abraçar quem lhe aparecer na rua, a tarde a beijar na face todas as pessoas que ama. Depois de amanhã estará pelos hospitais a confortar, da forma que puder, aqueles que esperam notícias

sobre cirurgias graves. E por aí adiante. Poderíamos ficar aqui muito mais linhas a descrever como serão ocupadas as suas horas nos próximos mil dias, uma vez que ela já os esquematizou meticulosamente e não permitirá qualquer tipo de desvios.

Felizmente não o faremos: o dia de hoje dela é dedicado, todos os segundos, a amar o homem da sua vida.

Sou eu, obrigado.

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