
"Não se ganha um amor; apenas não se deve perdê-lo."
Não acreditava na existência da ciência: "isso é banha da cobra, para enganar e entreter aqueles que não sabem amar e a quem só resta estudar. Algo que estuda o que já existe é uma treta; algo que se baseia no possível é uma treta. Só o impossível existe; o possível é apenas uma réplica do que já existiu. Somos viciados no impossível, no que nunca existiu antes porque ninguém o julgou capaz de acontecer: todos os amores são impossíveis até prova em contrário, mas também todos os amores são possíveis até prova em contrário; mas quem é que quer saber de provas? Todos queremos, e ainda bem, é provar." Perdia – ganhava – assim o seu tempo a tratar de amar. Não precisava de o ganhar – "está ganho à partida; nascemos com a capacidade de amar, isso é o maior dom com que se nasce; depois só temos de não o perder, o que já não é pouco, como é bom de ver" - , apenas precisava de saber onde é que o podia ganhar.
"Quantos se atrasaram uns segundos e não chegaram a tempo de uma vida inteira?"
Aprendeu a ler para aprender a amar – e para aprender a escrever sobre amar. Construiu dezenas, talvez centenas, de teses sobre o sentimento maior: "sei em absoluto o que é, de onde vem, para onde vai. Sou um cientista sem ciência, aliás, para mim, o único cientista que existe. Estudar para ser cientista é como estudar para abraçar: uma boçalidade, uma perda de tempo. Ou se estuda com a alma ou não se estuda nada. Não é a experiência a base da ciência; é o prazer. Nenhum cientista sabe definir orgasmo se não for capaz de o sentir." Vive de esmolas, embora diga que vive de amor: "só aceito quem me dá dinheiro por amor; recuso muitos euros por dia, só por sentir que quem me dá a moeda ou a nota apenas o faz por obrigação; dar por obrigação é receber: dás para receberes a gratificação de não teres a consciência pesada; dás-te, no fundo, uma esmola. E eu não quero gente dessa na minha vida. Na nossa vida só deve ter lugar quem ganhar o lugar, e mais ainda quem queira o lugar." O seu lugar é onde calha, nos becos que calha. Na rua todos o tratam por maluco, e ele insiste que não percebe de onde vem – "agradeço a deferência mas não creio ser merecedor de tamanho enaltecimento" - a admiração que nutrem por si. Há sempre um maluco para nos fazer sentir sãos, e ainda dizemos que o maluco é ele.
"Sou médico porque foi a opção mais fácil."
Licenciou-se em medicina por acaso, pelo mais feliz dos acasos: "amo-a e ela é médica; não vejo motivo mais importante do que esse para tirar um curso. A minha vocação é amá-la, mas amo a medicina porque foi ela quem ma trouxe." Como o conseguiu também se conta em poucas palavras: arranjou um emprego num café, o café onde ela ia; juntou dinheiro durante mais de vinte anos, fez os exames com resultados brilhantes e depois foi o aluno mais velho da turma de uma universidade prestigiada. Só quando se licenciou e iniciou o estágio é que quis conhecê-la: "devemos querer sempre mostrar o nosso melhor a quem amamos. É claro que quem ama também tem de lidar com o pior, mas já basta quando tem de ser. Respeitar o outro é dar-lhe o melhor de nós." O azar foi que ela, então, já era casada, o que fez com que a sua ideia se esfumasse. Mas foi só durante três décadas.
"Andei a vida toda a aprender a amar-te, por favor diz-me se vires que aprendi mal."
Ela nunca disse nada.
Leve: adj. Aquilo que apenas os patetas dizem que a vida não pode ser; só o que nos pesa é insustentável – e quando estás apaixonado é tão pouco o que pesa muito. Os pobres de espírito são os podres de espírito.