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Luísa Jeremias
Luísa Jeremias No meu Sofá

Notícia

A vida faz-de-conta

No Facebook ninguém é pobre, ninguém tem problemas… Todo o mundo é rico, vai a lugares fabulosos, é lindo e tem amigos lindos. A vida é bela, no Facebook.
19 de maio de 2016 às 00:00

O meu bom amigo Rui, que faz da escrita vida e tem por regra dizer que a realidade é 500 mil vezes melhor do que a ficção – por muito que ele se esforce pelo contrário – é há muito um seguidor da vida faz-de-conta nas redes sociais. Diz ele, no seu eterno sotaque brasileiro: "Você já reparou, Luísa, que no Facebook, por exemplo, ninguém é pobre, ninguém tem problemas… Todo o mundo é rico, só come coisas maravilhosas, vai a lugares fabulosos, é lindo e tem amigos lindos. A vida é bela, no Facebook".

E é mesmo. Desde que as redes sociais se transformaram naquilo que as revistas de sociedade eram na década de 80, recheadas de festas e de "eu sou lindo, maravilhoso, influente, o melhor entre os que fazem o mesmo que eu e, melhor que tudo, rico", que a vida virou um enorme faz-de-conta. Pior, a ficção ultrapassou a realidade em esquizofrenia. Ou, se preferirmos, a vida ficcionada de cada pessoa que "posta" o seu dia a dia, com imagens e vídeos seus, dos filhos e dos amigos, das saladas, dos pés na areia (com photoshop) da praia, dos sumos detox e do rosto sem rugas, tornou-se na sua própria realidade.

Um universo cor-de-rosa, digno de revista, para fazer a inveja dos amigos e os atiçar a colocarem 'online' algo ainda mais impossível… mas que em tudo difere do duro dia a dia.

E daqui, do universo das partilhas e dos likes, passamos aos blogues, às não sei quantas mil visualizações de um vestido, uns ténis, um creme manhoso para o rosto. Quanto vale isso? Para quem cria o blogue, sim… Ou anunciamos a custo zero o tal creme horrível? Ou ganhamos em troca um "kit" amoroso que distribuímos às primas em troca de um pouco mais do seu afeto?

Depois, se formos o estilo intelectual e gostarmos de ler, até podemos partilhar uns quantos desabafos ressabiados alegadamente escritos por mulheres abandonadas, mulheres que nenhum homem merece porque, é claro, elas acham-se melhores do que eles todos.

Elas, entre lágrimas de traição e desabafos, são até capazes de partilhar a tal imagem do creme, do vestido ou dos ténis… simplesmente porque são giros e fica bem "no face". E depois voltam às lágrimas e à vida real que tudo fazem para não ter (ou mostrar).

Acho, francamente (e já lhe disse) que o meu amigo Rui tem de rever rapidamente a sua noção de realidade e ficção. Já não existe realidade! Essa é que é verdade. Por isso, ela não pode ser melhor do que a ficção. Porque quando a realidade ataca, abre-se a página "do face", baixa-se a cabeça sobre o telemóvel e reveem-se os likes e fazem-se partilhas. E não é que o sorriso volta ao rosto? O filme de ficção científica já começou há muito.

É bom que estejamos conscientes que somos personagens… que alguns heróis são vilões e algumas princesas, bruxas malvadas… Mas enquanto a foto do mar à frente dos nossos pés for azul Caraíbas… quem quer saber da roupa para passar a ferro lá em casa? Like!

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