
No enfado monumental em que se transformaram as noites de domingo com a nova edição do 'Big Brother Famosos', na qual nada acontece a não ser percebermos quais as preferências semanais de Marie vindas diretamente "da loja do chinês" – como a própria gosta de divulgar, onde "é em conta e rende mais" (palavras dela) – ainda há coisas que nos entusiasmam. E não, não passam pelas galas intermináveis do reality show nem pela até agora concorrência, em segunda temporada de 'Hell’s Kitchen', de Ljubomir Stanisic (que desperdício o que lhe fizeram e como não defenderam – embora disto já tenhamos aqui falado) nem sequer do 'Got Talent', da RTP1, pródigo em chamar o sono e preparar-nos para a semana que se segue. O que nos alegra, enquanto produto televisivo, é poder ter em horário nobre um 'Isto é Gozar com Quem Trabalha', sem perder o humor acutilante, mordaz e inteligente. E, o melhor de tudo, com audiências a condizer.
Os resultados de Ricardo Araújo Pereira nas noites de domingo são a prova de que o bom trabalho pode ser recompensado, ou melhor dizendo, que não tem de ser a ‘trash tv" a vencer as guerras de audiências. O caso RAP em 'Isto é Gozar...' ganha ainda mais força num País onde, ao contrário do que acontece no mundo inteiro, os noticiários de horário nobre duram horas, como se de novelas da vida real se tratassem. Possivelmente o humorista ganha com essa característica portuguesa e aproveita-a da melhor forma, reanalisando o que é (ou não) notícia, descobrindo novos ângulos e trazendo-os a público com um olhar que descontrai, faz sorrir e nos abre a cabeça para que "nem tudo é o que parece" e, sobretudo, para a suprema necessidade de saber rir de nós próprios e das nossas fragilidades.
É claro que Ricardo Araújo Pereira tem momentos geniais e outros menos conseguidos – ou forçados, se preferirmos –, mas a verdade é que, no panorama televisivo geral, é sensacional ter alguém como ele num programa de horário nobre de um canal comercial. Prova que nem tudo o que ganha tem de ser óbvio, que o humor não se restringe ao popularucho e ao fácil (como, por vezes, nos querem fazer acreditar). Os portugueses não são burros. E não há melhor prova do que esta.