
O primeiro caso deu-se à porta d’A Barraca. Um grupo de atrizes cavaqueava, fazendo tempo para o espetáculo que daí a pouco iria à cena naquela casa de espetáculo. Dizem que foi o fato de uma delas ter uma estrela vermelha na camisola que fez vibrar de ódio três neonazis que passavam e a ofensa foi tal que decidiram insultar as moças.
Entretanto, um ator que protagoniza a peça, também estava de chegada e ao perceber o destempero da conversa, tentou apaziguar os ânimos e um dos neonazis esmurrou-o de tal forma que lhe destruiu parte do rosto. Conclusão: não houve espetáculo e o Adérito Lopes levado de charola para o hospital para lhe coserem o rosto.
Dois dias depois, noutro local, duas mulheres que dedicam o seu tempo livre a distribuir refeições para sem abrigos de Lisboa foram enxovalhadas por dois neonazis que as acusavam de dar de comer a ‘estrangeiros’.
Não são histórias tão graves que se apele a um levantamento geral contra os neonazis que a estupidez lusa os convenceu que são heróis de um filme negro onde são os protagonistas que dão ‘porrada’ e julgam que por estes pequenos gestos cobardes entraram para as hordas das SS que vagabundeiam pelo inferno de Dante.
Tenho a ideia, cada vez mais convicta que estes jovens com suásticas na alma, não são produto de catequeses sobre o Mein Kampf, são apenas indivíduos com graves problemas com a sua sexualidade. Não é por acaso que as mulheres são os seus alvos prediletos, amores frustrados, o conflito sexual entre aquilo que são (e daí a necessidade de exibir músculos, correntes e força) e a necessidade de repressão da feminilidade escondida, daí o ódio às mulheres. No fundo elas são o que eles desejam ver.
É certo que esta minha avaliação não tem como finalidade desculpá-los, ou procurar compreender os seus comportamentos. São bestiais, pejados de ódio, incapazes de raciocinar com a razão, disponíveis para a agressão pois no fundo sentem-se agredidos por aquilo que não são e desejavam ser.
O trauma sexual tem diferentes manifestações e brutalidade faz parte do cardápio das frustrações. E além do mais são crimes. Crimes de ódio, de ofensas corporais, de insulto gratuito a mulheres generosas que fazem o que eles não são capazes de fazer: trabalham.
Eles preferem cerveja e chega o tempo das autoridades públicas olharem estes crimes pela sua maior gravidade, acabando de vez com os termos de identidade e residência, agravando molduras penais e meter na cadeia estes alarves putativamente machos.