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Como o 'Monstro de Fortaleza', Luís Miguel Militão, prepara a vida fora da prisão ao lado da mulher que o espera há 24 anos

A seis anos da liberdade, e durante uma saída precária, Luís Miguel Militão mostrou-se arrependido do crime bárbaro que ceifaria a vida a seis portugueses no ano de 2001, aliciados para crimes sexuais e enterrados vivos, depois de terem entregado todo o dinheiro e cartões de crédito aos seus malfeitores. Mais de duas décadas depois da 'Chacina dos Portugueses', Militão voltou àquele dia de Fortaleza cravado com horror na vida das famílias e pediu redenção para quando deixar a cadeia.
Por Rute Lourenço | 23 de setembro de 2025 às 20:22
Luís Miguel Militão mostra arrependimento pelo crime em Fortaleza Foto: Flash

Passaram-se 24 anos, mas poucos dos que viveram naquele início do novo milénio esquecerão o horror do crime que roubaria a vida a seis portugueses, empresários da construção civil, que no dia 11 de agosto rumaram a Fortaleza, no Brasil, para 10 dias de pura diversão. Tudo havia sido combinado entre António, um desses homens, e Luís Miguel Militão, que se tinha mudado havia poucos meses para o outro lado do Atlântico à procura de uma nova vida, depois de um divórcio que o fez mergulhar numa depressão, e prometia acolher o grupo. Terá sido logo nessa primeira conversa que surgiu a ideia do crime: aliciar o grupo de amigos, que partia em busca de uns dias de folia, até à barraca de Militão na Praia do Futuro, em Fortaleza, para lhes roubar todo o dinheiro, cartões de crédito, e posteriormente a vida.

“Não pensámos que seriam mais pessoas mortas, apenas que teríamos mais dinheiro nos nossos bolsos. Naquele momento, a vida de um ser humano não valia nada”, já partilhou Militão que, no entanto, tem limado o discurso à medida que os anos passam e a liberdade se aproxima – apesar de ter sido condenado a 150 anos de prisão, só poderá cumprir 30, o máximo que a lei brasileira permite, o que faz com que dentro de seis anos esteja em liberdade.

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Na última semana, durante a sua segunda saída precária da cadeia, falaria ao 'Correio da Manhã' e à CNN, para se mostrar arrependido e garantir que, apesar da autoria moral do crime, admitiu ter tido sempre muitos pruridos em matar. “Convidei apenas uma pessoa, de forma informal, para que pudesse vir nas férias usufruir das belezas do Nordeste brasileiro”, disse, negando agora o que em tempos já havia confessado, acrescentando que, à medida que o momento-chave se aproximava, sentia-se a perder a coragem. “Quando me induziram ao cometimento do crime, eu disse: ‘cara, eu não tenho coragem de matar ninguém’. E eles disseram-me ‘Ah, eu tenho.’”

Luís Miguel Militão, autor da "Chacina dos Portugueses" em Fortaleza, procura redenção Foto: Flash
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Luís Miguel Militão foi o autor moral dos crimes, embora, e para dar mais força a uma teoria de sequestro, não tenha sido ele a matar, uma vez que era o único elo de ligação com os portugueses. Todos foram espancados e atirados para um buraco de três metros, previamente cavado, e enterrados ainda vivos.

"A expressão das vítimas ainda era de pânico, de desespero. Recordo que um dos empresários usou tanta força para tentar desamarrar as mãos e sair do buraco em que foi jogado ainda vivo, que a corda rompeu a pele dele e estava junto à carne”, contou ao 'Diário do Nordeste' um dos delegados responsáveis pelo caso que a polícia começou a investigar, depois de vários e repetidos alertas das famílias portuguesas. 

Portugueses foram enterrados vivos em barraco de praia Foto: Flash
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Os homens não haviam ligado para casa a avisar que tinham chegado, como combinado, e nem sequer tinham feito check-in no Holiday In, onde tinham reservado dois quartos triplos. O derradeiro alerta: falharam o voo de regresso a casa. Numa época sem redes sociais e tecnologias tão apuradas, o processo tardaria um pouco mais e foi através do cartão de crédito das vítimas, de onde o dinheiro não pararia de ser retirado, e de um vídeo no aeroporto, que mostra Militão a receber o grupo, que a polícia teria as primeiras pistas. Quando o português foi apanhado, tinha em sua posse 3750 euros, sendo que no total esperavam lucrar com o roubo mais de 47 mil. Após inicialmente desmentir, confessaria ser o autor moral do crime, cumprindo pena desde então.

A MULHER QUE O ESPERA

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Quando foi preso, Luís Militão, então com 31 anos, encontrava-se numa fazenda, na zona do Maranhão, tendo a seu lado a mulher, Maria Leandra, de 23, que havia conhecido pouco tempo depois de se mudar para Fortaleza, e que estava grávida de quatro meses. O filho, Luís Diogo, nunca conheceu outra realidade: cresceu com o pai preso, mas em vez de o crime dividir a família, a companheira mantém-se ao lado de Militão, não falhando uma visita de domingo na cadeia.

 “Brincamos, conversamos… tento repassar para ele valores. Apesar de a minha vida não ter muito valor, acho que, por aquilo que aprendi, pelos erros que cometi — porque nós aprendemos com os erros, quer queiramos quer não –, eu tento repassar para ele valores. Tento sempre frisar situações de forma a que ele não discrimine outros povos, religiões, para que ele ame a natureza, para que não maltrate animais, para que se sinta bem", explicou há uns anos, numa reportagem feita da cadeia.

Luís Miguel Militão, condenado pela Chacina dos Portugueses, mostra arrependimento perto da liberdade Flash
Luís Miguel Militão, autor do crime em Fortaleza, prepara a vida fora da prisão com a sua mulher Flash
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Agora, quando a CMTV o encontrou, no Brasil, para a sua segunda saída precária, era também com a mulher e o filho, além da restante família, que se encontrava, nos dias que surgem como uma preparação para aquilo que irá viver dentro de seis anos, quando conhecer o sabor da liberdade.

"Monstro de Fortaleza" mostra-se arrependido pelo crime contra seis portugueses em 2001 Foto: Flash

Sobre o crime, diz que já pediu perdão às famílias, mesmo sabendo que aquilo que viria a ser apelidado como 'A Chacina dos Portugueses', não tem desculpa possível. "Ninguém me perdoa, nem eu mesmo". Nas entrevistas que agora concedeu, mostra-se uma nova pessoa, arrependido, mas a verdade é que, apesar dos cursos, e do trabalho dentro da cadeia, o seu percurso nem sempre foi imaculado. Tentou fugir várias vezes e em 2007 foi transferido para uma cadeia de alta segurança, confinado à solidária, depois de ter sido apanhado em negócios de tráfico de droga dentro da prisão e por liderar o plano de sequestro de um político brasileiro, que não chegou a concretizar-se. Apesar do cadastro, mostra-se disposto a começar uma vida nova quando, com mais de 60 anos, deixar a prisão.

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