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Estamos apaixonados por malfeitores? A loucura das séries e documentários sobre personagens reais que enganaram tudo e todos e se tornaram estrelas da Netflix

Séries inspiradas em personagens reais, idealmente criminosos, têm dominado os tops das plataformas de streaming. Mas o que há em comum entre todas elas e porque é que fazem tanto furor?
Por Afonso Coelho | 24 de março de 2022 às 22:26
simon leviev Flash
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As séries e documentários baseados em histórias reais têm dominado os tops dos serviços de streaming nos últimos tempos. Numa tendência encabeçada pela Netflix, provavelmente a plataforma que mais apostou neste género, cada vez são mais os fenómenos televisivos que advêm de acontecimentos (principalmente crimes) reais.

Apesar da temática ser observável nas mais variadas formas de arte muito antes da chegada destas plataformas – na ficção, filmes como ‘O Lobo de Wall Street’ ou ‘Apanha-me se Puderes’ são até hoje considerados essenciais do cinema – o grande sucesso surgiu com ‘Tiger King’. Lançado de forma oportuna no final de março de 2020, quando a maioria dos países já estava ou começava a estar afetado pela pandemia de covid-19, a quase surreal história de Joe Exotic e do seu retiro de grandes felinos captou a curiosidade de milhões, tornando-se num dos maiores êxitos da Netflix.

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Tiger King, Joe Exotic Foto: Netflix

Se já pouco antes, em 2019, ‘Don’t Fuck With Cats’, que conta como um grupo de ‘vigilantes’ digitais tentou encontrar o autor de uma série de vídeos que exibiam crueldade animal explícita, antes da história se desenvolver para proporções ainda mais gravosas, foi muito falado nas redes sociais – um dos principais motores de difusão deste género –  ou, nessa mesma época, os documentários de empresas concorrentes sobre o falhanço do festival Fyre - o festival de música localizado numa ilha, publicitado por influencers famosos, como Bella Hadid e Kendall Jenner, que se revelou um desastre a todos os níveis - que ganharam uma tração análoga, os anos que se seguiram foram ricos no lançamento de séries que respondiam ao apetite pelas histórias de "grifting", num fenómeno que ganhou novas proporções nos últimos dois meses - aliás, não é por acaso que 'Fyre' voltou a estar nos tops da Netflix.

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OS IMPOSTORES

No dia 2 de fevereiro, estreou na Netflix ‘O Impostor do Tinder’, um documentário sobre Simon Leviev, um homem israelita que através da famosa app de encontros convenceu mulheres a emprestar-lhe dinheiro que nunca iria devolver. 

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Nove dias depois, surgiu no catálogo ‘Inventing Anna’, produção de Shonda Rhimes (criadora de 'Anatomia de Grey') uma série inspirada na história real de Anna Sorokin, ou Anna Delvey, uma mulher russa que fingiu ser uma abastada herdeira de uma família alemã rica em Nova Iorque, dando-lhe acesso a uma vida na alta sociedade nova-iorquina.

Fazendo um parêntesis, história semelhante originou ‘O Crime de Georgetown’, estreia de Christoph Waltz enquanto realizador que está atualmente nos cinemas – aí um homem (efetivamente alemão) enganou a elite durante quatro décadas antes de se ver envolvido num homicídio.

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Inventing Anna Foto: Netflix

Finalmente, na semana passada e na mesma plataforma, chegou ‘Falsa Vegana: Fama. Fraude. Fuga.’, uma minissérie documental de quatro episódios realizada por Chris Smith (autor de um dos documentários acerca do festival Fyre), sobre Sarma Melngailis, chef conhecida pelos seus restaurantes vegan em Nova Iorque, numa era em que esta gastronomia ainda não havia alcançado a difusão atual, e que acabou por ser condenada a uma pena de prisão por fraude cometida em conjunto com o agora ex-marido, Anthony Strangis, o cérebro por trás deste crime e que a convenceu a ajudá-lo por motivos insólitos. 

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Todos estes facilmente alcançaram o topo das classificações de popularidade que a plataforma exibe a todos os seus assinantes no ecrã inicial. De forma análoga, chegaram outros como  'A Arte do Engano - Caça aos Grandes Impostores', também na Netflix, ‘WeCrashed’, na Apple TV, um drama baseado na empresa ‘WeWork’, que também já havia sido alvo de um documentário, ou ‘The Dropout: A História de uma Fraude’, originalmente na Hulu e, em Portugal, na Disney+.

PORQUE NOS ATRAEM ESTAS HISTÓRIAS?

O que há em comum entre praticamente todas estas séries e documentários? Têm um protagonista fraudulento com certas características, podem ser charmosos, perspicazes ou manipuladores e apresentam-se com uma confiança que os permite colocar em prática um plano digno de Hollywood na vida real.

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Para os espetadores, há a qualidade adicional de, nestas séries e documentários, praticamente em todas elas é possível acompanhar a ascensão e queda deste (frequentemente carismático) indivíduo, transformando a história em linear, como se fosse um filme de ficção, e mantendo o suspense até ao final. Acima de tudo, há igualmente uma energia quase que cármica na forma como a ganância dos intervenientes se acaba por virar contra si próprios.

Existe, todavia, um outro ângulo, aquele no qual o espetador tenta compreender as ações do protagonista. "Procuro uma razão para querer acreditar neles. Procuro esperança, um sinal de que não é tudo preto ou branco, que eles não são assim tão maus. Mas eu não fiquei devastada quando ouvi o podcast, fiquei tipo 'Boa, ela teve o que merecia.'", explicou Amanda Seyfried, que interpreta a protagonista de 'The Dropout: A História de uma Fraude’, a empreendedora Elizabeth Holmes, conhecida por ter fundado e liderado a Theranos, empresa que fez furor na década passada por alegar ter revolucionado os testes sanguíneos, até que tudo se revelou um projeto fraudulento.

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Tudo indica que esta é uma fórmula de sucesso na qual as plataformas de streaming – e não só, dada a popularidade desta noutros meios de entretenimento, como são exemplo os podcasts – irão provavelmente continuar a apostar enquanto for extremamente rentável ou até que o público encontre um outro género predileto. Por enquanto, os fãs destas histórias não terão escassez de escolha na altura de encontrar uma nova série ou filme para ver.

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