_

- Lei Transparencia - Ficha técnica - Estatuto editorial - Código de Conduta - Contactos - Publicidade
Notícia
The Mag - The Weekly Magazine by FLASH!

EXCLUSIVO 'CHEFS MICHELIN'. Chef Pedro Lemos trocou a engenharia civil pela cozinha, "uma paixão que rapidamente se revelou vocação"

O País até pode ter perdido um bom engenheiro, mas a cozinha portuguesa ganhou um chef de excelência, reconhecido pelo Guia Michelin com uma estrela e uma recomendação. A "consequência natural de um trabalho diário rigoroso e apaixonado", como refere Pedro Lemos que, na cozinha, se sente "completo, com liberdade artística, emocional e sensorial". Fica a conversa.
Por Hélder Ramalho | 10 de julho de 2025 às 20:59
Pedro Lemos trocou a engenharia pela cozinha no Porto e no Douro Foto: D.R.

O chef Pedro Lemos trocou a Engenharia Civil pela cozinha, “uma paixão que rapidamente se revelou uma vocação”. “As minhas maiores inspirações vêm das memórias de infância, das cozinhas familiares, rurais, onde os sabores eram simples, mas profundos. A cozinha tradicional portuguesa constitui a minha matriz, que depois adapto através da técnica e do sentido apurado da cozinha francesa”, descreve o chef natural do Porto, de 45 anos.

A par do restaurante Pedro Lemos, no Porto, com duas estrelas Michelin, o chef está à frente do Bomfim 1896, no Douro, com a distinção Recomendado pelo reputado guia. “No Bomfim, cozinhamos a fogo, numa lógica mais rural e autêntica, mas a essência da minha cozinha permanece intacta: o sabor profundo e verdadeiro, a autenticidade e o respeito absoluto pelo território que nos acolhe.”

pub
Chef Pedro Lemos celebra a cozinha portuguesa com uma estrela Michelin no Porto e Bomfim 1896 no Douro Foto: D.R.

Com uma estrela Michelin desde 2014 no restaurante Pedro Lemos e distinguido agora com a distinção sde Recomendado pelo Guia Michelin no Bomfim 1896 with Pedro Lemos. Qual o verdadeiro peso destes prémios no dia a dia de um chef?

Antes de mais, é importante esclarecer que, até à data, nenhum restaurante no Douro foi distinguido com estrela Michelin. O Bomfim 1896 with Pedro Lemos está presente no Guia Michelin como restaurante recomendado — um reconhecimento significativo que reflete a valorização crescente da gastronomia regional. No caso do restaurante Pedro Lemos, a estrela Michelin representa simultaneamente uma honra e uma responsabilidade. É o reflexo de um percurso construído com consistência, rigor e entrega absoluta. No quotidiano, não altera a essência do nosso trabalho, mas reforça o compromisso inabalável com uma cozinha alicerçada na técnica, na elegância, no sabor autêntico e na excelência do produto. Mais do que um prémio, constitui uma motivação constante para continuarmos a evoluir e a superar-nos.

pub

Alcançar uma Estrela Michelin é causa ou consequência?

A estrela Michelin foi, para mim, uma consequência natural de um trabalho diário rigoroso e apaixonado, mais do que um objetivo deliberadamente traçado desde o início. Chegou em 2014, cinco anos após a abertura do restaurante, como reconhecimento da nossa consistência, dedicação e profundo respeito pelos produtos e pela matriz da cozinha portuguesa. Na época, representou também uma prova inequívoca de que um chef e empresário independente poderia alcançar com sucesso o caminho da alta cozinha. Foi a validação de que a autenticidade e a persistência têm lugar no panorama gastronómico de excelência.

Pedro Lemos trocou a engenharia pela cozinha e dirige dois restaurantes: no Porto e no Douro Foto: D.R.
pub

O que o levou a trocar a Engenharia Civil pela alta cozinha?

A cozinha surgiu como uma paixão que rapidamente se revelou uma vocação. A criatividade, o contacto direto com os sentidos e a possibilidade de criar experiências unicas para as pessoas foram mais determinantes do que qualquer plano inicial ligado à engenharia. Na cozinha senti-me completo, com liberdade artística, emocional e sensorial, e isso foi determinante para abraçar este caminho.

Quais as suas maiores inspirações na gastronomia e no seu crescimento como chef de cozinha?

pub

As minhas maiores inspirações vêm das memórias de infância, das cozinhas familiares, rurais, onde os sabores eram simples, mas profundos. A cozinha tradicional portuguesa constitui a minha matriz, que depois adapto através da técnica e do sentido apurado da cozinha francesa. Valorizo o receituário clássico e procuro interpretá-lo com criatividade e identidade contemporânea, sem lhe retirar a sua alma.

Chef Pedro Lemos celebra a cozinha portuguesa com estrela Michelin no Porto e no Douro Foto: D.R.

Essas vivências e memórias de infância estão também presentes na cozinha que faz hoje?

pub

Sem dúvida. As vivências e sabores que trago da infância estão sempre presentes na minha cozinha. São referências afetivas que se manifestam de forma natural e orgânica quando crio um prato. Não se trata de as replicar de forma literal, mas de as reinterpretar através de uma linguagem culinária mais sofisticada, com técnica apurada e refinamento contemporâneo. A cozinha que pratico hoje é, em parte, uma forma de homenagear essas memórias, segundo a minha visão, e de as partilhar com quem se senta à mesa.

E como define a sua cozinha?

A minha cozinha é autêntica, contemporânea e profundamente enraizada na tradição portuguesa. É uma cozinha que respeita o produto, valoriza o território e procura contar histórias através de sabores profundos, precisos e elegantes. Cada prato nasce de um equilíbrio delicado entre estrutura, tradição e inovação, mantendo sempre o foco no produto excecional e na experiência de quem se senta à nossa mesa.

pub

UMA EXPERIÊNCIA EMOCIONAL

Que tipo de experiência espera que as pessoas tenham quando visitam os seus restaurantes?

Desejo que se sintam genuinamente em casa, num ambiente simultaneamente acolhedor e familiar, mas também estimulante e surpreendente. Procuro oferecer uma experiência emocional, que conjugue memória, conforto e autenticidade, com rigor técnico e criatividade. No fundo, trabalhamos para que as pessoas se recordem e regressem, porque algo indelével lhes ficou gravado na memória e no coração.

pub
Chef Pedro Lemos trocou a engenharia pela cozinha e tem restaurantes no Porto e Douro Foto: D.R.

O Pedro Lemos, no Porto, e o Bomfim 1896 with Pedro Lemos, no Douro, complementam-se ou são cozinhas completamente distintas?

São cozinhas que se complementam, representando a essência da minha cozinha adaptada a contextos e propostas distintas. No restaurante Pedro Lemos, no Porto, a cozinha é moderna, técnica e precisa, embora sempre ancorada nos sabores portugueses, com foco na singularidade de cada prato e na projeção futura da gastronomia. No Bomfim 1896 with Pedro Lemos, no Douro, trabalhamos com fogo, forno a lenha, partilha e produtos locais, num ambiente mais informal e familiar, mas igualmente rigoroso. Ambos os projetos refletem o mesmo ADN culinário, mas com abordagens cuidadosamente ajustadas ao seu território e aos objetivos específicos de cada espaço.

pub

O que tem o Douro vinhateiro de tão especial, como inspiração para a sua cozinha?

O Douro é único. Tem uma identidade fortíssima, um território singular e uma ligação emocional ao tempo, à terra e às pessoas. A paisagem, os socalcos, as vinhas, os produtos autóctones, a ligação ao fogo, são uma forte fonte de inspiração. No Bomfim, cozinhamos a fogo, numa lógica mais rural e autêntica, mas a essência da minha cozinha permanece intacta: o sabor profundo e verdadeiro, a autenticidade e o respeito absoluto pelo território que nos acolhe.

Saber mais sobre

pub
pub
pub
pub

C-Studio

pub