Marcelo Rebelo de Sousa a contar os dias para a nova vida. O peso do fim do mandato, a dor com o filho e o anseio pela mudança
Faltam sete meses para o presidente da República se despedir de Belém e voltar a uma vida mais calma e longe de polémicas. Sobre os tão esperados dias, já disse que não o vão ouvir falar de política, enquanto há a expectativa se, longe dos holofotes mediáticos, fará ou não as pazes com o filho Nuno.Se sequer suspeitasse que o segundo mandato iria ser assim tão penoso, provavelmente Marcelo Rebelo de Sousa teria antecipado a reforma política e voltado mais cedo para 'os braços' da vida calma por que agora tanto anseia. O desgaste do eterno presidente das selfies está presente nos mais pequenos gestos e qualquer polémica que o envolve é agora passível de se tornar viral, a larga escala, como o momento que o colocou frente a frente a uma ativista na Feira do Livro de Lisboa.
Desde o caso das gémeas luso-brasileiras que parece que as controvérsias o perseguem, num momento tenso que provocou uma mudança em toda a sua vida tal como a conhecia. Pela primeira vez, viu a sua idoneidade posta em causa, ao mesmo tempo que todo o processo redundaria num corte familiar que deixa Marcelo mais isolado, aos 76 anos.
Por causa das implicações políticas do caso, deixou de falar com o filho, Nuno, numa dor que o desgastou não só profissional, mas principalmente pessoalmente. "Isso é imperdoável, porque ele sabe que eu tenho um cargo público e político e pago por isso", disse sobre o filho na altura. E se será quase certo que enquanto se mantiver como Presidente da República dificilmente enterrará esse machado de guerra, há a expectativa de que o cenário possa mudar quando Marcelo, já de regresso à sua pacata vida de banhos e mar em Cascais, e o momento possa redundar numa esperada comunhão familiar. Mas essa não será uma preocupação real de Marcelo até o seu mandato terminar.
O ADEUS A BELÉM
Falta menos de ano para o Presidente da República fechar de vez a porta de Belém, e uma coisa é certa: nada lhe deixará saudades. Mais, conta os dias, horas e minutos para que esse momento aconteça. Aos dias de hoje, Marcelo já sonha com uma vida anónima (tanto quanto possível, dada a sua popularidade e natureza) e, recentemente, até deu algumas luzes aos jornalistas de como será a sua vida longe dos gabinetes oficiais, sendo que uma coisa é certa: não o irão ouvir a falar de política.
Quando questionado se iria ter saudades da Presidência, Marcelo nem pestanejou. "Nenhuma, nenhuma. Nenhuma, neste sentido, a minha vida foi sempre assim: tenho uma vida enquanto tenho essa vida, terminada essa fase começa uma outra fase completamente diferente."
Sobre como vão ser os seus dias longe de Belém, Marcelo já tem um plano bem traçado. Quer continuar a trabalhar, sim, mas sem a exposição pública dos dias de hoje e, acima de tudo, a fazer coisas de que goste e o apaixonem. "Primeiro, não falar mais de política, é logo uma coisa importante, é uma opção que um ex-Presidente tem que fazer. Uns fazem de uma maneira, outros fazem de outra. Eu tenciono fazer da maneira que é não intervir, não falar, não me pronunciar. O que é que eu vou fazer? Vou dedicar-me, sim, às escolas, mas básico e secundário. Aprendi, por exemplo, com o Plano Nacional de Leitura, que há imensa coisa a fazer em que eu posso ser útil, em que há atividades culturais que eu posso desenvolver, formativas, conhecendo a rede de escolas como conheço, e com o ritmo que a minha idade me permitirá quando deixar de ter este ritmo", conta Marcelo, que terá 77 anos quando fechar este ciclo da sua vida e, espera, ainda com muita saúde para repetir os seus banhos de mar diários, colocar leituras em dia e desligar-se do stress que, como nunca, marcou a sua vida ao longo dos últimos dois anos.