O megamilionário caído em desgraça, Sam Bankman-Fried, arrisca ficar para a história como o carrasco da criptomoeda

Antes de começarmos esta estranha história, permitam-nos uma pequena e sucinta aula de economia: O que são afinal as criptomoedas? É um tipo de dinheiro, tal como qualquer moeda que utilizamos no nosso dia-a-dia, mas digital, baseada na tecnologia e sem ser emitida por um governo ou Estado.

Uma das premissas à sua criação foi acabar com a corrupção do sistema financeiro tradicional. Ou seja, pode transferir fundos com Bitcoins – a criptomoeda mais conhecida – para qualquer parte do mundo sem necessitar da interferência de um terceiro elemento envolvido.

No livro, 'Bitcoin: A Moeda na Era Digital', Fernando Ulrich faz a seguinte analogia: "O que o e-mail fez com a informação, o Bitcoin fará com o dinheiro". Isto é, antes de termos internet precisávamos dos correios para fazer chegar uma mensagem a alguém que estivesse distante. Agora podemos fazê-lo de forma direta, sem intermediários.

A tecnologia deveria tornar os mercados financeiros num ambiente automatizado e sem conflitos, em que as falhas humanas e as instituições corruptíveis seriam substituídas pela lógica infalível do código. As criptomoedas dariam finalmente uma hipótese ao pequeno investidor, obrigando todos os intervenientes a jogar pelas mesmas regras codificadas.

É neste cenário idílico que surgem empreendedores visionários como o norte-americano Sam Bankman-Fried, também conhecido por SBF.

DE MEGAMILIONÁRIO FILANTROPO A CRIMINOSO PROSCRITO

Sam Bankman-Fried, 30 anos de idade, fundador da FTX (2019), até há pouco tempo uma das maiores corretoras de criptomoeda do mundo. A notoriedade de SBF cresceu ao sabor do seu estilo pouco ortodoxo e em igual proporção à sua fortuna pessoal, que chegou aos 26 mil milhões de dólares – cerca de 24,5 mil milhões de euros.

Debaixo do culto da excentricidade – jogava videojogos durante as reuniões de negócios e publicava fotos a dormir nos sofás da sede da FTX, nas Bahamas –, Sam tornou-se num dos empresários mais influentes em Whashington DC. Foi ele o maior financiador particular das eleições intercalares do EUA, com 40 milhões de dólares (37,6 milhões de euros) em donativos políticos, maioritariamente ao partido Democrata. A meta era alcançar os mil milhões de dólares em doações a campanhas eleitorais.

É neste cenário idílico que surgem empreendedores visionários como o norte-americano Sam Bankman-Fried, também conhecido por SBF.

DE MEGAMILIONÁRIO FILANTROPO A CRIMINOSO PROSCRITO

Sam Bankman-Fried, 30 anos de idade, fundador da FTX (2019), até há pouco tempo uma das maiores corretoras de criptomoeda do mundo. A notoriedade de SBF cresceu ao sabor do seu estilo pouco ortodoxo e em igual proporção à sua fortuna pessoal, que chegou aos 26 mil milhões de dólares – cerca de 24,5 mil milhões de euros.

Debaixo do culto da excentricidade – jogava videojogos durante as reuniões de negócios e publicava fotos a dormir nos sofás da sede da FTX, nas Bahamas –, Sam tornou-se num dos empresários mais influentes em Whashington DC. Foi ele o maior financiador particular das eleições intercalares do EUA, com 40 milhões de dólares (37,6 milhões de euros) em donativos políticos, maioritariamente ao partido Democrata. A meta era alcançar os mil milhões de dólares em doações a campanhas eleitorais.

Afirmou que o objetivo era doar 99% da sua fortuna (24,5 mil milhões de euros) no primeiro semestre deste ano. Nos últimos anos, também financiou meios de comunicação e doou dinheiro para causas sociais, para além de ter salvo da falência empresas mais pequenas de criptomoeda.

Porém, aquilo que parecia ser o conto de Natal feliz - à época em que a história "explodiu" - o futuro perfeito do sistema financeiro - "o dinheiro do futuro"-, colapsou e o castelo ruiu por terra.

Segundo a SEC, comissão de valores mobiliários dos EUA - correspondente à CMVM em Portugal - a FTX era um "castelo de cartas baseado em fraudes" que começou a desmoronar "enquanto ele [Sam Bankman-Fried] gastava de forma generosa em escritórios e condomínios nas Bahamas e investia milhares de milhão de dólares em fundos de investimento especulativo".

Ainda de acordo com a mesma instituição, SBF terá lesado em mais de 1,8 mil milhões de dólares (1,7 mil milhões de euros) clientes da FTX desde 2019 através de um "esquema descarado" no qual desviava dinheiro para a Alameda Research, um fundo criado por Bankman-Fried em 2017. Segundo a acusação, também os clientes da Alameda terão sido enganados por contas fraudulentas.

As investigações avançaram após a FTX declarar falência a 11 de novembro (três dias após as eleições intercalares norte-americanas), depois de um site especializado, CoinDesk, apontar coincidências nas contas da corretora e da Alameda. Os investidores retiraram os seus recursos da FTX em massa. Em apenas algumas horas, a corrida aos depósitos abriu um buraco de 8 mil milhões de dólares (7,5 mil milhões de euros) nas contas da empresa, uma das mais poderosas da emergente indústria da criptomoeda que simplesmente implodiu, naquela que é considerada como uma das maiores fraudes financeiras dos EUA. A fortuna de Sam Bankman-Fried caiu 94% e ele saiu da lista dos multimilionários de um dia para o outro.

SBF foi detido nas Bahamas a 13 de dezembro e aguarda extradição para os EUA. De acordo com a acusação, Bankman-Fried pode ser condenado a 115 anos de prisão. As acusações incluem fraude eletrónica, conspiração de fraude eletrónica, fraude de valores mobiliários, conspiração de fraude de valores mobiliários e lavagem de dinheiro, segundo fonte ligada ao processo e citada pelo 'New York Times'.

RESPONSÁVEL PELO FRACASSO DA "MOEDA DO FUTURO"

Antes de ser acusado de ser responsável por uma das maiores fraudes financeiras dos EUA, Sam Bankman-Fried era considerado uma das grandes personalidades do mercado da criptomoeda, ao lado de Changpeng "CZ" Zhao, fundador da Binance, e Brian Armstrong, da CoinBase. Dias antes do colapso da FTX foi capa da revista 'Fortune' com o título "O próximo Warren Buffett?" - investidor e filantropo norte-americano, principal acionista, presidente do conselho e diretor executivo da Berkshire Hathaway.

Filho de professores da Faculdade de Direito da Universidade de Stanford, em São Francisco, uma das mais prestigiadas do mundo, Bankman-Fried é formado em Física pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

SBF começou a sua carreira em ações e fundos de investimento na corretora nova-iorquina Jane Street, no centro financeiro de Wall Street, em 2014, antes de enveredar pelo mundo das moedas digitais. Antes de fazer 30 anos de idade já era multimilionário. Em 2017, cria a sua primeira plataforma de transação de criptomoeda, a Alameda Research e, em 2019, a FTX, considerada uma das maiores corretoras de moeda digital do mundo. Agora, pode vir a ser o responsável pelo fracasso da "moeda do futuro" e ficar para a história como o carrasco da criptomoeda.