Vingança serve-se fria: o regresso pela porta grande de Monica Lewinsky, para que não se adultere a história "daquela mulher”
Que pecados cometemos aos 22 anos? Ela fez sexo e gostou. Mais de duas décadas depois ainda estamos a julgá-la por isso. Mesmo com um movimento #metoo pelo meio... Agora a "estagiária" mais perseguida da história americana está de volta. Para contar a "sua" verdade.
Será que chegou o momento de Monica Lewinsky ter o seu pedido de desculpas? Foram necessários quase 20 anos para a ex-estagiária da Casa Branca sair de um stress pós-traumático, enterrar o vestido azul que quase tirou Bill Clinton da presidência dos Estados Unidos e encontrar a sua voz.
Após uma década de silêncio, a agora cronista da ‘Vanity Fair’ e ativista contra o ‘bullying’ agarrou na oportunidade de contar o seu lado da história. Este trajeto começou há sete anos num ensaio em que a estagiária mais famosa do mundo declarou que estava pronta para "queimar a boina e enterrar o vestido azul", criando "um propósito para o passado". Em 2015, Lewinsky foi convidada pela Ted Talk para falar de humilhação pública. E agora, aos 48 anos de idade, tem dois novos projetos como produtora.
No próximo mês, Lewinsky vai lançar na HBO Max o documentário ‘15 Minutes of Shame’, com o realizador Max Joseph; Ao mesmo tempo, os telespetadores dos Estados Unidos já podem ver o drama 'Impeachment: American Crime Story’, de Ryan Murphy, na FX. A série vai entrar também no catálogo da Netflix, mas só no próximo ano.
Todo o guião de 'Impeachment’ passou pelas mãos de Lewinsky, mesmo as cenas mais embaraçosas com o chefe, o homem casado por quem sentiu desejo. "Às vezes é difícil usar os dois chapéus, de personagem e produtora", afirmou em entrevista ao ‘Today’. O momento marcante em que mostra as cuecas a Bill Clinton é isso mesmo. "Percebi, como produtora, que, precisamente porque estava envolvida, a credibilidade da série seria significativamente afetada [se tirassem a cena], não achei que fosse justo para os outros. Mas foi mais do que isso: Eu não devia ter tratamento diferenciado e isso é difícil. Agora preciso de mais terapia!"
Em julho, na apresentação do primeiro episódio da série, Lewinsky deixou os convidados reunidos à frente do ecrã e saiu para uma sessão de terapia afirmando, segundo o ‘The New York Times’, que não tinha necessidade de rever o período mais humilhante da sua vida numa sala cheia de estranhos.
Lewinsky teve uma relação de 18 meses com o presidente dos Estados Unidos, o que a transformou na amante mais perseguida da política norte-americana, o primeiro caso de ciberbullying. Ele é um filantropo. Nem o facto de Bill Clinton ter sido apanhado a mentir de dedo no ar com a famosa frase "nunca fiz sexo com aquela mulher" acalmou os ataques e as piadas.
"Poucas coisas são mais ameaçadoras para a América puritana e moralmente histérica do que uma jovem fazer sexo e gostar. É precisamente disso que Lewinsky era culpada, e a punição era - e continua a ser – fazê-la passar vergonha", definiu Allison Yarrow no livro ‘90s Bitch: Media, Culture and the Failed Promise of Gender Equality’.
No Google, as informações mais pesquisadas sobre ela até esta semana são perguntas sobre o seu vestido, os seus rendimentos e se é casada.
A verdade é que a produtora nunca foi casada, apesar de manter o desejo de vir a formar uma família. Quanto à sua fortuna, calcula-se que ronde 1,5 milhões de dólares. Do vestido azul manchado, que serviu de prova que Bill Clinton mentiu sobre o ‘affair’, não há muitas certezas do que lhe aconteceu, a única coisa que se sabe é que, em 2015, Lewinsky recebeu uma proposta de um milhão de dólares para o expor num museu erótico de Las Vegas. Ela não respondeu.