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Maldita pandemia! Foi há dois anos que a nossa vida ficou de pernas para o ar. E começou a guerra contra um vírus fatal, um tal covid-19

Mais de 21 mil mortos em Portugal. 5.970.000 em todo o mundo. O vírus que surgiu num mercado de animais vivos e selvagens e frutos do mar frescos na cidade de Wuhan, na China, teve um efeito mais devastador do que apenas na vida humana. Matou economias, destruiu negócios e baralhou o futuro, tornando-o mais incerto, de uma geração de crianças e jovens. Recorde tudo o que já passámos...
João Bénard Garcia
João Bénard Garcia
03 de março de 2022 às 23:00
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Em finais de novembro de 2019, no mercado grossista de animais vivos e selvagens e frutos do mar frescos de Wuhan, um dos maiores da China, surgem notícias de um novo vírus que, durante vários dias, baralhou médicos e cientistas. O primeiro paciente oficial apresentou sintomas considerados como sendo de SARs-CoV-2 a 12 de dezembro desse ano.

Só um mês depois, a 12 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmaria a existência de um novo coronavírus como agente etiológico de um surto de pneumonias atípicas de causa desconhecida na cidade de Wuhan, província de Hubei, na China. Surto que fora reportado à OMS pelas autoridades da República Popular da China apenas a 31 de dezembro de 2019.

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A evolução do coronavírus no Mundo

No turbilhão de todas as suspeitas e acontecimentos, uma reportagem de fundo do jornal New York Times relata que "o saneamento do mercado era deprimente, com pouca ventilação e lixo empilhado em pisos húmidos e insalubres" e descreve "corredores estreitos e barracas muito próximas umas das outras, com animais vivos mantidos lado a lado com animais mortos esfolados".

A TEMPESTADE PERFEITA PARA O CAOS

Neste mercado – que vários estudos científicos ocidentais credenciados apontam como tendo sido o verdadeiro foco, o ponto de partida da pandemia (deitando assim por terra as teorias conspiratórias de que o coronavírus teria sido produzido em laboratório) – foram infetadas pelo menos 28 das 41 pessoas que inicialmente deram entrada nos hospitais da cidade com sintomas da atípica pneumonia. Em maio de 2020 foi revelado pelas autoridades chinesas que das 585 amostras de animais retiradas do mercado, 33 confirmaram a contaminação por SARS-CoV-2.

Tinha sido criada, seis meses antes, a tempestade perfeita para o caos.

A 7 de fevereiro de 2020, o oftalmologista chinês Li Wenliang, de 34 anos, que tentou alertar a comunidade médica internacional para a possibilidade de se estar perante um novo vírus quando apareceram os primeiros casos em Wuhan, e que fora perseguido e interrogado pela polícia chinesa, morreu vítima da doença.

Um mês e cinco das antes, a 2 de janeiro, o mundo tinha acordado com notícias de um surto, que poderia ser grave de pneumonia que teria sido transmitida de um animal para o homem (zoonose) e apontavam-se as culpas a cobras, morcegos, pangolins, e ao furão-texugo, mas nunca se conseguiu apurar qual destes animais foi a origem da disseminação.

Mercado de Wuhan, onde tudo começou
Mercado de Wuhan, onde tudo começou Foto: getty images

MARCELO VIU PERTURBAÇÕES... MAS LÁ LONGE

A 4 de fevereiro, ainda as autoridades de saúde europeias, e em especial as portuguesas, não sabiam bem o que poderia acontecer, e já Marcelo Rebelo de Sousa admitia que a epidemia do novo coronavírus SARS-CoV-2 na China "afeta a atividade económica de uma economia muito poderosa e, portanto, afeta a atividade económica do mundo, ou pode afetar". O Presidente admitiu também perturbações económicas devido à quebra de produção, mas estava longe de imaginar que o vírus lhe bateria à porta da nação e entraria sem pedir licença.

Em Portugal o primeiro caso só chegou a 2 de março de 2020 e foi diagnosticado no Porto. O doente foi um médico de 60 anos, que estivera de férias em Itália, tendo feito escala na Alemanha.

Dois dias depois, a segunda amostra positiva é recolhida do organismo de um homem de 33 anos que viajou de Valência, em Espanha, sendo portador de um vírus com uma sequência filogenética idêntica à dos casos detetados em Itália. Ambos estiveram internados no Hospital de São João, na Invicta. Ambos receberam a visita do primeiro-ministro António Costa.

Nessas datas, que parecem longínquas, estávamos longe de imaginar que, dois anos depois, a 3 de março de 2022, teríamos 3.294 691 casos confirmados de Covid-19, um total de 21.141 mortes, 2.799 531 pessoas recuperadas e que estaríamos a atravessar a quinta vaga desta pandemia. Nesta data, em todo o mundo morreram um total de 5.970.000 pessoa e mais de 440 milhões estão oficialmente contaminados.

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Carolina Deslandes faz alerta para nova preocupação no País

LOUCURA COM MÁSCARAS E ÁLCOOL-GEL

Há dois anos, a 6 de março de 2020, a Associação Nacional de Farmácias (ANF) noticia que a procura por máscaras e desinfetantes (o famoso álcool-gel) tinha aumentado 353,4% e 136,9%, respetivamente, em relação ao mês de fevereiro. O número da procura por máscaras torna-se assustador, se comparado com o período homólogo de 2019: as máscaras registaram "um aumento exponencial" de 1.829%.

A 13 de março de 2020, o Governo convoca uma reunião extraordinária da concertação social, com as confederações sindicais e patronais, para tomar medidas extraordinárias em relação à Covid-19. Dias depois fecha escolas, fronteiras, serviços do Estado, visitas a hospitais, lares e prisões, bem como competições desportivas estão suspensas e voos proibidos. É decretado o estado de alerta. Perante o vírus desconhecido, as autoridades encerram tudo, metendo o travão a fundo.

Lisboa vazia durante a covid-19
Lisboa vazia durante a covid-19 Foto: getty images

Os portugueses são obrigados a ficar fechados em casa, na maioria dos casos em teletrabalho e as crianças em telescola. As cidades, vilas e aldeias do país tornam-se lugares fantasma. Os carros deram tréguas ao alcatrão. Ovar e Felgueiras, duas cidades foco da doença são colocadas em cerca sanitária. Ninguém entra e ninguém sai. Estava imposta a quarentena.

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Rodrigo Guedes de Carvalho volta a usar Jornal da Noite para dar mensagem inspiradora

As audiências de televisão atingem picos inéditos em muitos anos, quer em canais generalistas quer por cabo ou em streaming. Os serviços noticiosos tornam-se tão populares quanto as novelas e os reality show e novos heróis das notícias, como José Alberto Carvalho, da TVI, e Rodrigo Guedes de Carvalho, da SIC, são dois dos muitos rostos do esperado dia da libertação. A aquisição de serviços de internet cresceu assustadoramente e até os canais de filmes para adultos dispararam em subscrições. Os portugueses não foram poupados no lazer.

Com o povo em casa ansioso que o vírus passasse, eis que a 18 de março de 2020 o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pede ao Parlamento a declaração de Estado de Emergência. Ela acontece a 19 de março, Dia do Pai. Um dia que muitos filhos não esquecerão por ter sido o primeiro em que tiveram o pai a tempo inteiro com eles e para eles. Nesse dia, as televisões abrem os noticiários com a notícia que todos temiam e ninguém queria ouvir: registou-se o primeiro óbito oficial por Covid/19 em Portugal.

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Drone da CMTV mostra Lisboa deserta

NATAL FATAL... E A CHEGADA DA VACINA

O verão e as altas temperaturas acalmaram a ira do coronavírus, os portugueses pensaram ter passado o pior e voltaram a respirar de alívio, mas tudo estava longe de estar resolvido. Em meados de setembro os casos da doença começam a crescer, o vírus dissemina-se em inícios de dezembro, eclode em força após algum alívio de medidas durante a quadra natalícia e os dois primeiros meses de 2021 são uma tragédia sanitária.  

Covid-19 em 2020
Covid-19 em 2020 Foto: getty images

Felizmente, a 27 de dezembro de 2020 começa a ser ministrada a primeira vacina aprovada da Pfizer em Portugal e, num mês, são vacinadas cerca de 950 mil pessoas. Hoje esses números, em muitos casos de pessoas com três doses ministradas ultrapassa os 12 milhões de inoculamentos.

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Centenas de idosos em fila para vacina devido a erro informático

EFEITOS COLATERAIS NA ECONOMIA

Ao nível da economia, a pandemia de Covid-19 teve efeitos devastadores. Em 2020 o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 7,6%, o consumo privado e a procura interna retraíram-se, muito por força da diminuição, em mais de 75%, do fluxo turístico. Perderam-se 100 mil empregos, deu-se uma redução de 10% nas exportações, a dívida pública aumentou 20,4 mil milhões de euros e muitas empresas sobreviveram com a almofada do Lay-off e o travesseiro das moratórias ao crédito. Os mais pobres voltaram a ser mais afetados. As crianças  e os jovens com menos recursos foram os que mais sofreram longe da escola.

A somar a tudo isto, estarão os nefastos efeitos psicológicos, as dificuldades económicas e sociais que ainda não foram contabilizáveis.

E como não duas sem três: depois da grave crise financeira do sub-prime entre 2008 e 2014 e da crise pandémica de 2019-2022, só faltava ao mundo ecos de bombas e o pronúncio de uma terceira guerra mundial.

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