
Donald Trump e Elon Musk sempre tiveram uma ligação conturbada, com altos e baixos, aproximações e afastamentos, concordâncias e discussões. Só que nunca, como agora, as divergências entre dois dos homens mais poderosos do mundo foi tão evidente e tão clara. Mas vamos ao início para perceber como tudo isto começou, ou seja, como foram da amizade à guerra de palavras... e até de atos.
A relação entre ambos tornou-se mais relevante a partir de 2016, quando Donald Trump chegou à Casa Branca como presidente dos Estados Unidos. Após a (primeira) eleição de Trump, Elon Musk foi convidado para fazer parte de dois conselhos consultivos do então presidente eleito, voltados para temas de negócios e inovação.
Em 2017, Musk participou em reuniões na Casa Branca onde procurava influenciar decisões sobre temas como energia renovável, regulamentação e tecnologia, profundamente ligados ao seu interesse empresarial visto que é dono da Tesla, da SpaceX e recentemente do X, antigo Twitter.
Apesar de ter apoiado Hillary Clinton nas eleições de 2016, Musk manteve um discurso de colaboração com o governo Trump, dizendo que preferia “tentar influenciar positivamente as decisões do que criticar à distância”. A relação entre ambos era, nesta altura, de grande colaboração.
Mais tarde nesse ano, Musk acabou por abandonar os conselhos consultivos da Casa Branca após Trump anunciar a saída dos EUA do Acordo de Paris sobre o clima, dizendo publicamente: “A mudança climática é real. Deixar o Acordo de Paris não é bom para os EUA nem para o mundo.” A partir desse momento, distanciou-se de Trump em temas ambientais e científicos.
Durante a pandemia de COVID-19, Musk criticou as medidas de confinamento o que o reaproximou de Trump. Também criticou algumas medidas democratas. Uma postura que acabou por alimentar especulações sobre uma reaproximação ideológica ao candidato republicano. No entanto, acabou por não declarar apoio a Trump nas eleições de 2020 e evitou tomar uma posição política. Nem Joe Biden nem Donald Trump mereceram o apoio formal de Musk.
Em 2023, começaram, no entanto, a surgir pistas que apontavam de forma mais evidente para uma aproximação, ainda que de forma indireta. Musk começa a adotar um discurso mais alinhado com ideias conservadoras, como críticas ao “wokeismo” e à censura online, reativou a conta de Trump no Twitter/X e participou em eventos com figuras e políticos republicanos.
MUSK ENTRA NA CASA BRANCA COMO ALIADO POLÍTICO DE PESO
Nas últimas eleições norte-americanas, em 2024, Elon Musk esteve ao lado de Trump em diversos comícios, sendo claro o apoio do bilionário ao candidato republicano, apesar de não o ter oficializado. Surgiram relatos de encontros privados entre os dois, sugerindo possíveis colaborações num futuro governo. Em abril de 2024, surgem rumores de que Trump poderá convidar Musk para um papel consultivo e em 2025 foi mesmo nomeado diretor do departamento de eficiência governamental. A partir daí tudo descambou. Apenas alguns meses depois, Musk abandonou as funções governamentais depois de uma discórdia e "profunda deceção" com o megaprojeto fiscal e orçamental do presidente republicano. Aos olhos do dona da Tesla, este prejudicava o trabalho que vinha a desempenhar como assessor na área da eficiência.
Seguiram-se discussões acesas e ataques pessoais entre ambos, sobretudo pelas redes sociais, algo a que todo o mundo pôde assistir. Musk começou as provocações e lançou farpas ao presidente na sua conta do X, disse que sem a sua ajuda Trump não teria ganho as eleições, chamou-o ingrato e até o acusou de estar associado a Jeffrey Epstein. "Eu e o Elon tínhamos uma excelente relação. Não sei se continuaremos a ter" disse Trump após trocas de ofensas com o bilionário.
A DISPUTA QUE ACABA COM A CRIAÇÃO DE UM NOVO PARTIDO
Elon Musk, em resposta aos desentendimentos com Donald Trump, publicou uma sondagem no dia 4 de julho, em que perguntou aos seus seguidores se gostariam de “independência do sistema bipartidário”. “Vocês querem um novo partido político e vão tê-lo!”, escreveu no dia seguinte. “Hoje, o Partido América foi criado para vos devolver a vossa liberdade”.
Trump reagiu, claro, acusando Musk de conspirar para semear “completa e total desorganização e caos” com este novo partido: “Acho que é ridículo”, disse aos jornalistas, “Terceiros partidos nunca funcionaram, por isso ele pode divertir-se com isso”. Mais tarde, fez uma publicação na sua rede social: “Estou triste por ver Elon Musk sair completamente fora dos trilhos". Aproveitou ainda para divulgar que o seu novo orçamento elimina subsídios a veículos elétricos, uma medida que afeta negativa e diretamente a Tesla.
As divergências entre ambos são cada vez maiores e espera-se que estes conflitos públicos não acabem por aqui. Haverá, garantidamente, uma escalada pública dos desentendimentos entre os dois antigos amigos.