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O investidor que previu a crise de 2008 aposta em nova queda de Wall Street, mas haverá razão para alarmismos?

Michael Burry, o homem que ficou conhecido por ter previsto o descalabro do mercado imobiliário há 15 anos e foi interpretado por Christian Bale no filme ‘A Queda de Wall Street’, tem um novo palpite. Há razão para estarmos preocupados com o que pode vir por aí? Ou melhor: há indícios de que uma "bolha" está para estoirar? The Mag foi à procura de respostas.
Afonso Coelho
Afonso Coelho
24 de agosto de 2023 às 22:50
Michael Burry
Michael Burry Foto: Getty Images

A crise do subprime que ocorreu no final da década de 2000, com o zénite em 2008, permanece na memória coletiva como uma das grandes crises económicas da nossa geração, sendo a pior desde a Grande Recessão dos anos 30.

Rapidamente explicada, deveu-se ao mercado de hipotecas imobiliárias nos Estados Unidos, quando os juros baixos dos bancos levaram a uma explosão da procura por imobiliário, nomeadamente quando os empréstimos começaram a ser concedidos em larga escala a clientes com elevado risco, por apresentarem garantias insuficientes, mas que, por consequência, tinham elevados retornos.

O fenómeno, potenciado por regulamentação pouco estrita na indústria, criou uma bolha de especulação que espoletou uma grande quantidade de incumprimentos bancários, colapsando o mercado, com os bancos a assumirem consideráveis perdas e a congelar novos empréstimos, desencadeando uma crise que se expandiu pelo globo, com consequências nefastas.

Em Portugal, por exemplo, a taxa de desemprego saltou dos 7,6% para os 17,1% entre 2008 e 2013, e o PIB decresceu em quatro dos anos no período de 2009-2012. Em termos práticos, a crise levou a uma queda no rendimento disponível das famílias, com muitas delas a serem obrigadas a lidar com situações de desemprego no seio familiar e a falta de liquidez para fazer face às despesas.

O ORÁCULO 

Houve, contudo, um homem que conseguiu prever o futuro e usar a crise para seu próprio benefício. Em 2007, quando tudo começou, Michael Burry geria o fundo de investimento Scion Capital.

Anos antes, começou a analisar o mercado do subprime, antevendo o rebentar da bolha do imobiliário. Conseguiu convencer a Goldman Sachs, um importante grupo financeiro, a vender os seus ‘credit default swaps’, ferramenta que atenua o risco dos créditos, para esses ativos que considerava serem tóxicos – a aposta demorava a dar frutos e vários investidores desistiram, mas insistiu e o tempo acabou por dar-lhe razão.

Conseguiu ganhar 100 milhões de dólares em lucros, com dividendos de 700 milhões para os seus investidores, antes de liquidar a Scion Capital e concentrar-se nas suas finanças pessoais. Mais tarde, voltaria ao negócio dos fundos de investimento.

Este golpe de génio acabou por ser ilustrado no grande ecrã, através do "blockbuster" de Hollywood ‘A Queda de Wall Street’ (‘The Big Short’), baseado no livro homónimo de Michael Lewis, no qual Christian Bale interpreta Burry, num papel que até lhe valeu uma nomeação para Melhor Ator Secundário nos Óscares do ano seguinte.

 

A NOVA QUEDA DE WALL STREET?

O nome de Michael Burry voltou novamente a protagonizar cabeçalhos nas últimas semanas, após ter sido revelado, no dia 14 de agosto, que está a prever uma queda do mercado de ações.

De acordo com a CNN, o atual detentor do fundo Scion Asset Management terá apostado mais de 1,6 mil milhões de dólares em opções de venda contra fundos que acompanham a S&P 500 e a Nasdaq 100, dois dos principais índices da bolsa.

Haverá portanto motivos para preocupação? A resposta é inconclusiva. Mike Wilson, da Morgan Stanley, afirmou em fevereiro que acredita numa nova implosão: "Estão a operar um défice orçamental de 8% quando a taxa de desemprego está nos 3,5%. É algo sem precedentes. O que acontecerá no caso de um abrandamento no próximo ano? Por isso é que considero que esta tese de ‘boom-bust’ está correta".

No entanto, neste ano, a S&P 500 e a Nasdaq cresceram 16% e 38% respetivamente, não havendo sinais até ao momento de que a convicção de Burry se esteja a materializar. Em 2019 e 2022, refira-se, Burry falhara os seus prognósticos quanto a comportamentos negativos da bolsa.

Contudo, uma outra aposta acertada de Burry foi recentemente desvendada, relacionada com o mercado chinês: "O Michael Burry desfez-se de todas as suas ações chinesas antes do colapso da Evergrande", escreveu uma conta que acompanha as movimentações do investidor de 52 anos no mercado, referindo-se à queda de uma das mais conhecidas empresas imobiliárias da China, que começou em 2021 e já levou a que avançasse com um pedido de falência nos Estados Unidos.

Por outro lado, o natural da cidade de San Jose, no estado norte-americano da Califórnia, exibiu uma postura de indecisão em janeiro deste ano, quando, na sua conta do Twitter, escreveu "Vendam", tendo depois recuado com uma nova publicação na qual se lia "Estava errado em dizer para vender"

Mais uma vez, somente o tempo poderá comprovar se Burry voltou a acertar e, portanto, resta aguardar. 

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