
Virginia Giuffre tornou-se, ao longo dos últimos anos, num dos nomes mais sonantes na luta contra o abuso e tráfico sexual. Foi a principal responsável por dar a cara pela denúncia dos abusos que perto de 250 mulheres sofreram às mãos do milionário Jeffrey Epstein, que as manteria em cativeiro na sua mansão, onde se tornariam famosas as suas orgias com magnatas e personalidades de todo o Mundo, entre os quais o príncipe André, que Virginia admitiu tê-la forçado a ter relações sexuais por três vezes, numa altura em que ainda era menor. Tudo terá ocorrido aos primeiros anos do novo milénio.
Virginia Giuffre, que teve a coragem de levar o caso à Justiça, apontando nomes, descrevendo as situações mais horrendas por que passou, morreu na última quarta-feira, dia 24 de abril, na Austrália, onde residia e exercia funções como advogada. A notícia foi comunicada pela sua família, que confirmou que Virginia pôs fim à vida.
"Virginia foi uma guerreira feroz na luta contra o abuso sexual e o tráfico sexual. Foi a luz que iluminou outras tantas sobreviventes", pode ler-se no comunicado da família, citado pela NBC. "No fim de contas, o peso do abuso é tão pesado que se tornou insuportável para Virgínia lidar com seu peso."
As denúncias dariam origem a um processo judicial sem precedentes, marcado, no entanto, por vários incidentes, o mais grave culminaria com a morte de Epstein, que pôs termo à vida na prisão onde se encontrava, em 2019.
Em 2022, Virginia chegou a um acordo extra-judicial com o príncipe André, que terá aceitado pagar-lhe perto de 16 milhões de euros. Em tribunal, o filho da Rainha Isabel II sempre negou os abusos, garantindo que Virginia Giuffre mentia. Segundo a advogada, os encontros foram promovidos por Ghislaine Maxwell, então companheira de Epstein, que lhe terá dito para fazer ao príncipe André o mesmo que ao milionário (as famosas massagens que tinham lugar na sua mansão).
O primeiro encontro terá ocorrido numa discoteca. "No carro, Ghislaine disse-me que tinha de fazer com o Andrew aquilo que fazia com o Jeffrey e isso deixou-me enjoada", recordou Virginia, que na altura era menor. "Ele é o dançarino mais horrível que eu já vi na vida”, declarou ainda a norte-americana, referindo-se à experiência com o príncipe André na discoteca. “O suor dele era [tanto], como se estivesse a chover por todo o lado.”
Mais tarde, o príncipe André acabaria por reagir formalmente a esta entrevista garantindo que tem um problema de saúde que o impede de suar. No entanto, Virginia sempre reiterou a sua verdade e pediu a empatia dos britânicos. "Isso é uma treta. Ele sabe o que aconteceu, eu sei o que aconteceu. E só um de nós está a dizer a verdade”. "Imploro às pessoas no Reino Unido que fiquem do meu lado, que me ajudem a levar a cabo esta luta, que não aceitem isto. Isto não é uma história sexual sórdida. Isto é uma história sobre tráfico [humano]. Isto é uma história de abuso e é uma história do tipo da vossa realeza”.
A ILHA DA PEDOFILIA
A denúncia de Virginia e outras tantas mulheres acabaria por colocar a nu um dos maiores escândalos de pedofilia e tráfico sexual nos Estados Unidos. O caso originaria, mais tarde, vários documentários. Em 'Sobreviver a Epstein', era relatado como, além de na sua mansão, o magnata organizava verdadeiras excursões sexuais a uma remota ilha nas Caraíbas, que comprou, para onde levava os amigos poderosos e dezenas de menores, vulneráveis, que eram recrutadas pela mulher com a promessa de trabalhos como massagistas que lhes renderiam um bom dinheiro.
Essa ilha - Little St. James - passou a ser conhecida como a da pedofilia e o Boeing que levavam as raparigas para o local 'Lolita Express'.
Os relatos das vítimas são avassaladores e descrevem um mundo de poder e perversão. "Quanto mais eu tentava resistir, mais ele se divertia", recordou uma das vítimas sobre o pesadelo que viveu na ilha às mãos de Epstein.
Virginia Giuffre, a principal acusadora, recorde-se, tinha revelado recentemente ter sofrido um acidente de automóvel, que teria embatido contra um autocarro escolar na Austrália, deixando-a com sérios problemas de saúde, inclusivamente renais. Na altura, a advogada tinha recorrido às redes sociais, afirmando que não teria muito mais tempo de vida. “Estou pronta para ir, mas só depois de ver os meus bebés pela última vez, mas sabem o que se diz sobre os desejos. M**** numa mão e desejo na outra e garanto que vai continuar a ser m**** no final do dia”, escreveu na rede social, acompanhada por uma fotografia dos hematomas na sua cara.
No entanto, a família assegura que Virginia pôs termo a uma vida que se tornou demasiado pesada e que nunca conseguiu verdadeiramente suportar.