
A revista The Mag celebra um ano esta semana, um ano e 53 números, um ano em que vimos o mundo recuperar para tentar colocar a pandemia para trás. Vimos depois milhares de pessoas celebrarem o fim das restrições, conhecemos heróis improváveis e a herança que novos e velhos "inimigos públicos" estão prontos para deixar ao mundo – veja o exemplo de Donald Trump e Vladimir Putin.
O NOVO INIMIGO PÚBLICO N.º 1 E O QUE NUNCA DEIXOU DE O SER
Mas voltemos atrás no tempo. Há um mês e meio começou a comissão parlamentar que investiga o assalto ao Capitólio a 6 de janeiro de 2021, e esta quinta-feira, 21, a oitava audiência avaliou os pormenores do papel do ex-presidente Donald Trump naquela invasão.
"Donald Trump nunca pegou no telefone nesse dia para ordenar à sua administração que ajudasse", disse a vice-presidente da comissão, Liz Cheney, antes da audiência, citada pela ‘Lusa’. "Isto não é ambíguo. Ele não chamou o exército. O seu secretário da Defesa não recebeu qualquer ordem. Ele não telefonou ao seu procurador-geral. Ele não falou com o Departamento de Segurança Interna", afirmou a republicana.
A comissão investiga agora um "abandono" do dever de Trump como comandante supremo das forças armadas do país. O ex-presidente dos EUA demorou mais de três horas para reagir publicamente. Cinco pessoas morreram naquele ataque, incluindo um polícia que defendia o Capitólio.
Entretanto, da sua mansão em Mar-a-Lago, Flórida, Trump continua a causar polémicas e a tentar incendiar conflitos.
Um dia antes de Vladimir Putin oficializar a invasão à Ucrânia, em fevereiro deste ano, o ex-presidente dos EUA declarou que o presidente russo ia entrar no país vizinho "como um pacificador", uma declaração em contramão da posição norte-americana neste conflito. "Esta é a força de paz mais poderosa que já vi. Poderíamos fazer algo parecido na nossa fronteira sul. Isso é maravilhoso", disse ao programa ‘The Clay Travis and Buck Sexton Show’, distribuído a rádios.
Mas quatro dias depois, Trump mudou drasticamente a opinião no seu discurso no Congresso de Ação Política Conservadora: "O ataque russo à Ucrânia é terrível, um ultraje e uma atrocidade que nunca se deveria deixar ocorrer. Estamos a rezar pelo bravo povo ucraniano, que Deus o abençoe". Não se sabe o que poderá ter feito Trump mudar de posição em relação ao seu aliado político, com quem trocou vários elogios. Aqueles primeiros dias da guerra chocaram o mundo.
O MEDO
"Rússia começa guerra na Europa", "O alvo não é só a Ucrânia", "O fantasma de Chernobyl volta a assombrar a Europa", "Europa vive momento mais perigoso desde a Guerra Fria", estes são alguns títulos que pintam a tensão que começou a ser sentida.
O final da pandemia ainda nem foi declarado e outra crise começa a bater a porta. Após cinco meses de guerra na Ucrânia, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, admitiu o que é discutido há vários meses: que os objetivos militares do seu país na Ucrânia passaram a incluir "uma série de outros territórios", além da região leste ucraniana.
"A geografia é diferente agora. Já não se trata apenas das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk [os territórios separatistas no leste da Ucrânia], mas também das regiões de Kherson e Zaporijia [no sul] e uma série de outros territórios", declarou à agência russa de notícias Ria Novosti, citado pela imprensa internacional.
Atualmente, cinco meses depois, a União Europeia responde ao conflito com mais um pacote de sanções que está a ser preparado, o sétimo já.
OS HERÓIS IMPROVÁVEIS DO ÚLTIMO ANO
A guerra colocou o holofote no presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, o ator que ganhou as eleições com 72% dos votos e viu depois a sua popularidade cair para cerca de 30%. "Foi uma grande queda. De certa forma, a invasão aumentou a sua popularidade, mas eu aposto que ele preferia não ter a invasão", afirmou o jornalista Andrew L. Urban, um dos autores de 'Zelensky – O Herói Improvável', em entrevista à ‘The Mag’.
O autor acrescentou que Zelensky "não era o tipo de pessoa que se esperava que se opusesse a Putin. Por isso alguém chamou-o de ‘Churchill de t-shirt’, porque ele está a usar as palavras, ele inspira as pessoas e luta contra Putin".
Em Portugal, também vimos o nascimento de um "herói nacional", no ano passado: o atual chefe da Armada, o almirante Henrique Gouveia e Melo, que tornou-se conhecido por colocar ordem na vacinação nacional.
Questionado várias vezes desde o ano passado sobre a possibilidade de tirar a farda militar para seguir uma carreira na política, Gouveia e Melo mantém a mesma resposta. "Muita gente fala sobre muita coisa. O que é que lhe posso dizer? Continuem a falar, se quiserem. Eu não tenho nada a ver com isso. Sou militar, estou a fazer uma missão militar, estou muito satisfeito com o que estou a fazer", disse ao ‘Observador’ há cerca de duas semanas.
Mas a pressão continua. Uma sondagem da Intercampus para o Correio da Manhã mostra o atual chefe da Armada como favorito para as próximas eleições presidenciais, marcadas para 2026.
O VERÃO DA LIBERDADE
Henrique Gouveia e Melo é um dos rostos-chave para o momento de "libertação" que está a ser sentido em Portugal. Só com a vacinação em massa foi possível retirar a obrigatoriedade das máscaras (com exceção de alguns casos pontuais) e levantar as restrições de viagem.
De acordo com a DGS, 52% das pessoas com idades entre os 18 e 24 anos já receberam a terceira dose, até 11 de julho. Este valor salta para 97% quando se trata da população de maior risco, as pessoas com mais de 80 anos (98% para as pessoas com idades entre 65 e 79 anos; 87% dos 50 a 64 anos, 66% dos 25 a 49 anos).
Não à toa, uma das primeiras mudanças dos últimos meses foi o aumento da procura por viagens de avião. Segundo o ‘Negócios’, nos primeiros seis meses deste ano passaram pelos aeroportos nacionais mais de 23,9 milhões de passageiros, dos quais 12,1 milhões em Lisboa, 5,5 milhões no Porto e quase 3,5 milhões em Faro.
Parece ser a hora de celebrar o fim de dois anos de cansaço e proibições. O aumento do tráfico de passageiros provocou o fenómeno que ficou conhecido como o "caos nos aeroportos" da Europa. Aeroportos cheios, a desorganização das filas, as perdas de bagagens abalaram as tão desejadas férias. O aeroporto de Bruxelas foi o mais afetado, com 72% de atrasos dos voos e 2,5% de cancelamentos, divulgou a consultora Hopper Inc. O aeroporto de Lisboa está no sexto lugar do top 10 dos mais afetados: com 65% de atrasos e 4,8% de cancelamentos.
É MESMO O FIM DA PANDEMIA?
O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom, defendeu recentemente que "a percepção de que a pandemia da covid-19 acabou é compreensível, mas equivocada". Pouco depois destas declarações, a organização alertou que a doença continua a ter impacto a nível mundial, expressando "preocupação com reduções acentuadas nos testes". Para a OMS, existe agora "menor capacidade de interpretar tendências na transmissão" e o número de infeções está a aumentar.
Em Portugal, na semana passada houve mais 5419 casos confirmados, e 14 mortes.