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WEEKEND - Um Livro por semana

O que é que Colleen Hoover tem? Os segredos da escritora que voltou a colocar os livros na moda e agora chega ao cinema

É um fenómeno de vendas em todo o mundo e pôs os jovens a falarem de livros no Tik Tok. Colleen Hoover é uma das escritoras de quem se fala, ainda que nem sempre bem. Apesar do sucesso, os mais resistentes à mudança dizem que é demasiado light e há quem seja mais agressivo nas críticas. Mas será mesmo assim?
Por Rute Lourenço | 02 de outubro de 2024 às 21:50
Colleen Hoover Foto: Flash

A primeira vez que li Colleen Hoover foi há não mais de dois/três anos e, confesso, ia com expectativas moderadas. Em Portugal, o sucesso da escritora começava a despontar timidamente, mas lá fora ela já era um caso sério entre os mais novos e os seus romances uma espécie de fenómeno no Tik Tok onde, de repente, voltava a ser moda falar de livros ou ser, pelo menos, fotografado com um na mão. Especialmente se fosse um de Collen Hover.

No entanto, as opiniões dividiam-se: de um lado da barricada, havia aqueles que diziam que os livros da norte-americana eram um virar de páginas estonteante, que não dava para parar de ler, do outro aqueles que nem sequer os consideravam literatura, mas sim uma espécie de 'lixo' que espelhava toda uma nova geração de autores, que não respeitavam a nossa grande herança de escritores. Uma espécie de 'velhos do Restelo' que se recusam a aceitar que ou começamos a considerar (também) novos caminhos ou estamos condenados a adormecer à segunda página de mais um romance sobre a rainha não sei das quantas.

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Ora, se as grandes modas normalmente me aborrecem, não há nada que me irrite mais do que esta crítica preconceituosa que cataloga as coisas como 'light' só porque têm uma linguagem mais direta, ou porque se inserem no espetro do entretenimento. Porque é que hão-de ser lixo por causa disso? Não haverá, ou deveria haver, espaço para tudo? Bem, alguma coisa os livros tinham de ter para que, de repente, toda a gente os quisesse ler.

Como sugestão de uma autora portuguesa que sigo e faz curadoria de livros através do Clube do Livro Bookgang, a Helena Magalhães, acabei por pegar no 'Verity', que é basicamente um thriller psicológico e, decididamente, foi uma ótima escolha para aquela altura específica da minha vida. Queria um livro que se lesse de um fôlego, com twists e nós que causassem surpresa a cada página. Queria divertir-me, ser entretida, sem que tivesse de pensar muito e não queria nada demasiado deprimente ou pesado. Com o 'Verity' percebi porque é que os jovens adoram Hoover: porque é fresco, despretensioso e porque cumpre a sua função, causa surpresa constante para nos fazer passar à página seguinte sem ceder ao sono.

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Já não me lembro qual foi o próximo que li, se '9 de Novembro' ou 'Amor Cruel', mas gostei igualmente dos dois, sem adorar, atenção. Não acho que nos tragam daqueles grandes enredos, grandes sagas familiares ou personagens inesquecíveis, mas na verdade são perfeitos para quando queremos ser divertidos, a Hoover é uma boa contadora de histórias. E isso é talvez o que mais cativa as gerações mais novas a ler os livros da autora. Numa altura em que praticamente ninguém com menos de 20 anos pegava num livro, se há alguém que mude esse panorama, o que é deveríamos fazer? Explorar o filão para trazer de volta os mais novos para este mundo, tentar entender o que é que os cativa, mas claro é mais fácil dizer que são um esgoto a céu aberto...

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O FENÓMENO DE 'ISTO ACABA AQUI'

Praticamente todos os livros de Colleen Hoover chegaram ao top de vendas, mas foi 'Isto acaba Aqui' que a tornou conhecida em todo o mundo. De repente, a história de Lily e o seu caso de violência doméstica tornou-se no livro do momento.

É talvez aquele que tem o toque mais pessoal da autora, que também tem uma história de vida marcada pela violência. "A recordação mais antiga que tenho na vida é da altura em que tinha dois anos e meio. O meu quarto não tinha porta, em vez disso havia um lençol afixado à parte superior da ombreira. Lembro-me de ouvir o meu pai gritar, por isso espreitei para ver o que se passava, precisamente na altura em que o meu pai pegou na televisão e a atirou contra a minha mãe, derrubando-a", pode ler-se na nota da autora que no livro conta a história de Lily, uma mulher que se muda para Boston disposta a começar uma nova vida e que se apaixona pelo aparentemente encantador Ryle, acabando por cair num ciclo de violência.

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Na história vamos passando do amor ao pesadelo, de uma forma que nos faz sempre querer entender mais, porque é que as coisas se processam daquela forma, porque é que aquele homem, um cirurgião tão conceituado, esconde tantos demónios?

É outro virar de páginas constante de que gostei muito, aqui o único perigo, principalmente quando se fala para novas gerações, é que se possa romancear um pouco um tema como a violência doméstica, e humanizá-lo à luz dos problemas que uma determinada pessoa possa ter. Este é o ponto em que o livro - que chegou agora às salas de cinema e tem sido outro fenómeno - falha de alguma maneira, pois pode criar a ilusão de que o passado que carregamos pode desculpabilizar as nossas atitudes, neste caso a violência doméstica. Mas isto é apenas uma perceção minha, pois o livro deixa-nos também a pensar sobre um flagelo que continua a ser tão atual à luz dos nossos dias.

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E assim, com este livro, Colleen Hoover, pôs não só o mundo a falar dela, como de livros. Talvez o seu segredo seja esta humildade com que encara o seu próprio fenómeno. Nascida nos EUA, ela começou a escrever só porque adorava fazê-lo e distribuía as páginas para a família e amigos as lerem. Acabou por ser uma sua chefe da altura (2011) que a incentivou a tentar a sorte e levar as suas histórias mais além.

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Acabou por submeter, então, um livro na plataforma da Amazon para auto-publicação e ficou radiante quando seis pessoas comprar a história. No dia seguinte, já eram 60 e hoje são milhões aqueles que permitem que Hoover se dedique a tempo inteiro a fazer aquilo que mais ama: escrever e entreter. 

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