Os portugueses olham há quase 30 anos para Marisa Cruz como uma das mulheres mais bonitas e charmosas de Portugal, um título oficializado pela vitória no concurso Miss Portugal, em 1992.
Um momento chave na carreira da modelo, que lhe abriu as portas de televisão e de uma vida com glamour, com dezenas de capas de revistas e campanhas publicitárias que fizeram história pela sua sensualidade.
Mas tudo isto esconde um passado e uma infância marcada por muito sofrimento e drama, como a própria acabou por revelar este sábado, numa entrevista ao 'Alta Definição', da SIC. "Durante muito tempo tive vergonha tive medo de dizer o que passei. Mas percebi não há muito tempo que se passei por aquilo tudo e cheguei onde estou hoje, tenho de me orgulhar."
A atriz e apresentadora, hoje com 50 anos, admitiu que nunca teve uma família estruturada, fruto do divórcio dos pais, quando ainda era criança, com 10 anos. Aliás, a única memória que Marisa tem do progenitor foi quando o visitou uma vez na prisão: "Não sei porque estava preso nem nunca soube. Ele ofereceu-me um fio de ouro. É a única memória que tenho dele. As minhas tias dizem que ele fazia esquemas aqui e ali, mas sinceramente não sei."
O pai acabou por falecer no Brasil num acidente de automóvel, com Marisa a saber da notícia só bastante depois, no meio de uma discussão entre a mãe e o padrastro. "Isso marcou-me bastante. Desatei a chorar e fugi. Nenhuma criança merece isso."
Nas recordações desse tempo, em que tomava conta de quatro irmãos mais novos, Marisa assume que passou fome. "Lembro-me de não ter o que lhes dar, não havia o que comer. Muitas vezes íamos para a cama sem ter o comer. Pedíamos ajuda à Santa Casa mas nem sempre havia. A minha infância foi sempre tentar sobreviver. Aparecíamos em casa de amigos à hora das refeições para sermos convidados para comer."
Marisa Cruz explicou que a mãe desaparecia de casa - "não sei para onde ia" - e ficava sozinha a tomar conta dos irmãos: "Faltava muitas vezes às aulas para estar com eles. Ia aos cafés tirar pacotes de açúcar para termos em casa. Não tive a família que se calhar deveria ter tido."