Enterrado vivo? Afinal o que aconteceu realmente com o corpo de Carlos Paião
Há histórias passadas de boca em boca por mais de 30 anos.
Um dos maiores "mitos urbanos" de Portugal é que Carlos Paião tenha sido enterrado vivo após o trágico acidente de automóvel de 26 de agosto de 1988.
Não se sabe ao certo quando os rumores começaram a circular, mas ficaram no imaginário do público como factos e até levaram uma jornalista a procurar essas informações para terminar uma tese de doutoramento.
Para que não fiquem dúvidas: Carlos Paião morreu num acidente de automóvel a 26 agosto de 1988, à tarde, quando se dirigia para um espetáculo em Penalva do Castelo. A viatura embateu num camião causando a morte de mais uma vítima, um dos técnicos da equipa de Paião também chamado Carlos - Carlos Miguel Sousa. Jorge Esteves, o outro técnico que estava no carro, sobreviveu.
Na última sexta-feira, 26, a viúva do autor de 'Play Back', Zaida Cardoso, referiu que o marido morreu pouco após o acidente, mas que o pai tentou protegê-la e não deu logo a informação por telefone, preferindo dar a notícia pessoalmente. "Naquele dia o Carlos tinha saído de casa umas horas antes com as brincadeiras dele habituais, despedimo-nos e foi buscar os técnicos de som e luzes. Passado pouco tempo fui trabalhar. O meu pai telefonou-me a dizer que o Carlos tinha tido um acidente grave e estava em estado grave", contou Zaida em entrevista à 'Casa Feliz', da SIC.
"Não me quis dizer logo. Só quando cheguei a casa dos meus pais é que soube exatamente o que é que se tinha passado e que o Carlos tinha mesmo falecido. Eles já tinham essa notícia só que não ma quiseram dar por telefone", lembrou.
Sem rasto de quando começou o "mito"
Em 2018, na altura em que se falava nos 30 anos da morte de Carlos Paião, a jornalista Joana Martins, mestre em Ciências da Comunicação e autora da tese de doutoramento 'A morte na imprensa: a evolução no tratamento mediático da morte de figuras públicas', comentou que chegou a procurar informações sobre a hipótese de Carlos Paião ter sido enterrado vivo, para incluir no documento, mas não encontrou nada na imprensa.
"Não encontrei nenhuma referência sobre isso nos jornais da época. Era um mito infundado e pouco credível, mas os jornais da altura nem sequer se sentiram tentados a pegar nisso e hoje em dia de certeza que pegavam", afirmou em entrevista ao 'Sapo24'.
Para além de autora da tese, Joana Martins tem também uma relação quase familiar com o cantor, apesar da idade que tinha quando ele morreu. "Ele era amigo da minha família, era amigo de infância da minha mãe e eu recordo-me vagamente de ele ter morrido, eu tinha seis anos na altura", afirmou.
No centro do boato está a história de que quando levantaram as ossadas do cantor encontraram o caixão arranhado por dentro e os ossos revirados. Tal como a FLASH! já tinha noticiado há dois anos, Zaida Cardoso desmentiu, sublinhando que o corpo do autor de 'Playback' e 'Pó de Arroz' foi autopsiado em Lisboa.
Quem recorda todos os anos Carlos Paião, na altura do aniversário de nascimento e da morte do cantor, é António Sala, um dos amigos mais próximos do músico e que continua a sofrer com saudades. António Sala faz também questão de sublinhar no seu Facebook as condições trágicas da morte do amigo, no acidente do automóvel, sem qualquer referência a este bizarro mito urbano.