Marta Viveiros: "Nunca me intrometi em nenhum casamento"
A apresentadora da CMTV fala abertamente da sua relação com Jorge Moreira, o ex-marido de Ana Malhoa, dos sérios problemas financeiros da família que obrigaram os pais a emigrar para França e até do tempo em que lhe faltou comida na mesa.
Marta Viveiros é uma lutadora. Em criança começou a engraxar sapatos para ganhar "uns trocos" para comprar chocolates e gomas, "luxos" que os pais não lhe podiam dar. Já na adolescência, arregaçou as mangas e até limpezas fez para ajudar a família que passou por sérias dificuldades financeiras. Tão sérias, que os pais não tiveram outra alternativa do que emigrar para França, país onde ainda hoje vivem e trabalham. Segredos orgulhosamente revelados pela apresentadora da CMTV que também não se escusa a falar do namoro com Jorge Moreira, o ex-marido de Ana Malhoa, e que tanta tinta tem feito correr. Marta faz questão de esclarecer que não tem qualquer responsabilidade no divórcio da cantora e do produtor musical. Fica a entrevista de uma mulher que nunca virou a cara às dificuldades.
A CMTV celebra 4 anos de existência. Qual o balanço que faz?Ainda não tive tempo para fazer esse balanço, mas é fantástico tudo o que aprendi até agora e é ainda mais fantástico pensar que estou neste canal, que vou continuar a trabalhar e o tanto que ainda vou aprender no futuro. A CMTV cresceu muito mas vai crescer ainda muito mais.
Sendo um dos rostos da estação gostaria que revelasse quem é, de onde vem e onde quer chegar. Olha-se para si e vê-se uma mulher de bem com a vida, mas é público que teve uma infância difícil. Propunha que começássemos precisamente por aí.Não posso dizer que fosse difícil. A minha infância foi igual à de tantas outras pessoas que tiveram uns pais que trabalharam muito para dar aos filhos o essencial. O que não tive foram luxos, coisas supérfulas, mas tive muito amor. Garanto-lhe que se tivesse que escolher entre ter dinheiro ou ter amor, diria sem qualquer hesitação, que prefiro ter o amor da família. A união familiar é mesmo muito importante, tanto que foi isso que me permite estar aqui a dar uma entrevista ao fim de 4 anos de CMTV.
"JÁ PASSEI FOME"
Nasceu no Barreiro, mas viveu no Algarve.É verdade, nasci no Barreiro, vivi em Sintra e, mais tarde, mudamo-nos para o Algarve e fiquei lá até aos 20 anos. Entretanto, os meus pais perceberam que era impossível continuar em Portugal e emigraram para França. Levaram o meu irmão mais novo com eles – que neste momento está a viver comigo – e eu decidi ficar. Como se pode depreender pela ida dos meus pais para o estrangeiro, nunca fui habituada a grandes luxos, como aliás já referi. Comecei a trabalhar cedo para ajudar a família. Por exemplo, ajudava a minha mãe dos estabelecimentos comerciais que tivemos, mas isso foi uma opção pessoal. A minha irmã mais velha, por exemplo, também poderia ter trabalhado mas nunca o fez.
Está a dizer que não foi uma imposição dos seus pais?Exatamente. Aprendi com eles o quanto era importante trabalhar. Lembro-me de quanto me custava ver o meu pai a estucar casas pela noite dentro e nós irmos levar-lhe o jantar. São imagens que continuam na memória de tão marcantes que foram.
Os seus pais fizeram muitos sacrifícios pelos filhos?Não tenho qualquer dúvida disso. E sei que continuam a privar-se de muitas coisas por nossa causa. Uma dessas coisas é não viverem no país que é deles e do qual tanto gostam.
Alguma vez passaram fome?Nós, filhos, não. Os meus pais passaram.
Apercebia-se disso?Os meus pais protegiam-nos disso. Mas hoje tenho essa consciência, pois eu em adulta também já passei por dificuldades e aí, sim, passei fome. Foi na altura em que decidi vir para Lisboa.
Já lá vamos a essa altura. Voltando aos seus pais, tentaram sempre que os filhos não se percebessem que tinham sérios problemas financeiros?A única coisa que me lembro era de ir ao supermercado e eles não nos compravam tudo o que lhes queríamos. Mas isso até considero saudável. Hoje, olhando para trás, posso dizer que crescemos muito rápido. O meu irmão, por exemplo, só tem 15 anos e parece ter muitos mais. As circunstâncias foram propícias, mas nós também fizemos por crescer rápido.
Disse que começou a trabalhar cedo. Em quê?Bem novinha, engraxava os sapatos das pessoas do prédio da minha avó. Com as moedas que recebia já dava para um chocolate ou para gomas. Depois, e como disse, comecei a ajudar a minha mãe nos diferentes estabelecimentos que tivemos… padarias, restaurantes. Adorava cozinhar e fazia questão de estar na cozinha e ninguém mexia nos tachos para além de mim. E ainda ajudava a minha mãe numas limpezas que a minha mãe fazia… eram mais uns trocos.
Admitir tudo isso requer alguma coragem?Coragem? Isto foi a minha vida e não me envergonho de nada. Encaro isto como o curso que os meus pais me deram e fez de mim a pessoa que sou hoje. Foi um curso intensivo por escolha própria, digamos assim. Só tenho orgulho nisso, porque aprendi a fazer de tudo. Se alguma coisa correr mal, na minha carreira em televisão, posso dizer que não tenho medo nenhum em fazer o que quer que seja. Não me vejo a meter as mãos à cabeça a perguntar-me o que é que vou fazer… encontraria certamente o que fazer sem, no entanto, continuar a prosseguir o meu sonho.
Sendo a mulher tão forte que demonstra ser, nunca pensou desistir no meio de tanta dificuldade?Todo o percurso foi tão natural que nunca pensei sequer nisso. Desistir do quê? Há que trabalhar e ganhar dinheiro, portanto não há nada para desistir. Tinha uma ambição, que era a representação e quando os meus pais emigraram disse-lhes: "Não vou convosco porque tenho que ir atrás do meu sonho. Se dentro de um ano não acontecer nada, vou para França e vou estudar".
Foi muito difícil separar-se dos seus pais?Muito mas tenho consciência de que foi pior para eles. É claro que o sofrimento deles me afetou muito, ao ponto de eles nem sempre me contarem tudo para me pouparem.
Uma altura que a Marta também tinha de enfrentar os seus próprios problemas… estava sozinha em Lisboa, estava desempregada. Foi aí que passou fome?Quando mudeI para Lisboa não vim sozinha. Queria que o meu irmão, o que é filho apenas do meu pai, vivesse comigo para que atinasse. Arrendámos um T0 mas os 600 euros que eu ganhava não dava para tudo porque só de renda pagava 400. Dos 200 que sobravam era para comida e para as restantes despesas. Essa foi a fase mais complicada, admito. Mas isso, ajudou-me a saber encarar os problemas e a resolvê-los. Não passámos propriamente fome, porque tínhamos pão, arroz… enfim, não tínhamos era tudo o que seria suposto.
Que idade é que tinha?Estava com 21 anos.
Chorou?Chorei muito, principalmente quando o meu pai começou a vir. Sou muito agarrada ao meu pai, diga-se.
Uma das perguntas que tinha era mesmo essa. Há uma grande cumplicidade entre si e o seu pai. Fala mais nele do que na sua mãe.Há uma ligação que não sei explicar… nasceu comigo. A minha mãe estava muito mais presente na nossa educação do que o meu pai. Ele era o principal responsável por conseguir dinheiro e, por isso, esteve mais ausente. A minha mãe era a que nos "dava mais na cabeça", talvez pela falta que sentia dele tenha essa maior ligação.
"HÁ COISAS COM AS QUAIS NÃO LIDO BEM NA MINHA IMAGEM"
Quando chegou a Lisboa começou a trabalhar à noite. Isso tem uma conotação um tanto pejorativa. O que fazia?Há muita coisa que tem conotação negativa. Até trabalhar em televisão é visto, por algumas pessoas, como algo pejorativo e há até quem diga que só se evolui na horizontal e não é nada disso. Mas respondendo à questão, era relações-públicas do Guilty. Fazia o meu trabalho, era simpática na medida dos meus limites para que não houvesse confusões, ou seja, ter o retorno não desejado por mim.
Nunca foi assediada?No meu trabalho? Não, de todo. Nunca senti. Tentei sempre eu mesma, ou seja, se formos sinceros e ser sempre o que realmente somos, as pessoas percebem os limites.
Explica não ter acompanhado os seus pais com esta frase: "Posso ser bonita mas eles vão ver-me sempre como uma emigrante e não vou alcançar os meus objetivos". Que objetivos eram esses?Conseguir ser atriz e fazer carreira na televisão. O que vejo quando lá vou é que os portugueses são discriminados em França, portanto isso estar-me-ia vedado de antemão.
Vê-se como uma mulher bonita? A beleza abre portas?É muito complicado responder a isso, pois nem sequer me vejo tão bonita assim. Cheguei mesmo a ter problemas de bulimia quando era miúda. Isso da beleza tem muito que se lhe diga. O que vimos numa pessoa pode não ser aquilo que a própria sente.
Já admitiu que passou por uma altura que não gostava da sua imagem.É verdade. Não gostava e ainda há muitas coisas das quais não gosto. É um problema que muitas pessoas têm, ou seja, meter defeitos em tudo e não ver o melhor. Mas há uma coisa que eu sei e aí não admito a ninguém que me deite a baixo: é o meu interior. Já com a minha imagem, há coisas com as quais não lido muito bem.
EXCLUÍDA DOS 'MORANGOS COM AÇÚCAR'
Sonhou ser atriz e chegou mesmo a ser escolhida para um casting para a série ‘Morangos com Açúcar’. O que aconteceu?O que aconteceu foi ter crescido no seio do amor mas não haver dinheiro para muitos devaneios. Todos os meus colegas que foram escolhidos para fazer o mês de formação para a série eram de Lisboa ou dos arredores. Eu era a única que vinha de longe, e os meus pais não tinham dinheiro para me manterem tanto tempo em Lisboa. Enquanto eu ia ao Algarve todos os fins de semana buscar comida, os meus colegas iam jantar fora, beber café e eu não tinha dinheiro para essas coisas. A verdade é que isso começou a mexer comigo e a deixar-me muito fragilizada. Cheguei até ao final e fui excluída porque a professora percebeu que eu não estava em condições de passar por situações de maior stress ou pressão devido ao meu estado emocional.
Como é que se lida com a rejeição e perder uma oportunidade?Nem consegui ver a série.
O sonho de ser atriz está posto de lado?Não. Agora com a faculdade torna-se mais difícil investir nessa área, especialmente no teatro que eu adoro e que sempre fiz. Lembro-me de vir do Algarve aos fins de semana para ter aulas com o Raul Solnado. Trabalhava como doida para ter dinheiro para isso.
Recordações boas…Tal como quando vim para o casting dos ‘Morangos com Açúcar’. Lembro-me da minha mãe me vir deixar a Lisboa e eu ter o dinheiro todo contado no bolso. Quando cá chegÁmos ela perguntou-me onde é que eu queria ficar e eu respondi-lhe que no primeiro hotel que encontrássemos.
Lembra-se de quanto tinha no bolso?Já não me lembro, mas era muito pouco. Bem, encontramos um hotel e houve logo um senhor que me abriu a porta do carro. A minha sorte foi ter alguém à minha frente a fazer check in e deu-me tempo para olhar para a tabela de preços. Posso dizer que o dinheiro que eu tinha nem sequer chegava para pagar uma noite. Arranjei uma desculpa e acabei a dormir num hotel bem mais acessível.
A RELAÇÃO COM JORGE MOREIRA, EX DE ANA MALHOA
"Sempre tive mais amigos do que amigas". As mulheres intimidam-se consigo?Ou eu com elas… Acho que não tem a ver com isso. Os homens sempre se aproximaram mais de mim e tive alguns problemas por causa disso, pois havia aqueles que queriam passar da amizade a algo mais e eu não estava nem aí. Já perdi amigos por isso. Quanto a ter menos amigas, é a vida.
Nos últimos tempos o seu nome tem sido muito falado por causa da sua relação com Jorge Moreira, o ex-marido da Ana Malhoa. Como é lidar com todo este mediatismo?De facto, nas minhas anteriores relações não houve esta exposição.
Embora também fossem figuras pública, como o Caio Oliveira.Sim, mas não vinham de uma situação igual à do Joca – eu trato-o assim porque o meu pai também é Jorge e para que não haja confusão de nomes decidi-me por Joca. Mas sim, tenho conseguido gerir bem toda esta exposição.
Não se precipitaram a anunciar o vosso amor?Não nos deram muitas hipóteses. Foi por causa de uma fotografia do Instagram onde se via a minha mão com este anel que começamos logo a ser bombardeados. Começaram inclusivamente a falar com a família para tentar desvendar se era eu, ou não. Perante isto e para evitar que outras pessoas fossem envolvidas, decidimos assumir. Especialmente porque nem sequer estávamos a fazer nada de mal nem a cometer nenhum crime já que nenhum de nós estava comprometido.
O Jorge já estava separado?Separado há cinco meses. Assumimos cedo demais e eu não queria tê-lo feito tão cedo, mas como disse não nos deixaram qualquer alternativa.
A Marta não se intrometeu neste casamento?Nunca me intrometi em nenhum casamento. Nem neste nem noutro qualquer casamento. Estou de consciência completamente tranquila.
É-lhe difícil ver o seu nome envolvido nesta espécie de "triângulo", num divórcio que não está a ser fácil e que está a fazer correr muita tinta?É complicado e não queria nada estar nesta situação. Só o nome das duas pessoas envolvidas nesse divórcio é que deveriam ser referidos. Mas pronto, como namoro com o Joca acabo por ser envolvida, mas há que pensar que ele tem direito a seguir com a vida dele como eu segui a minha depois do meu último relacionamento. Ter o meu nome envolvido é contra a minha vontade mas não há forma de contrariar ou evitar que isso aconteça. Como também não consigo fazer ver às pessoas que vêm para as minhas páginas nas redes sociais tecer comentários menos simpáticos que não sou a responsável pela separação do Joca.
Quando é que se dá a vossa aproximação?O Joca foi para o Brasil em setembro e nós só começámos a falar no início de dezembro.
A sua família apoiou-a? Para além da exposição mediática, o Joca é também mais velho…A minha família só ficou um pouco mais triste por tudo o que veio escrito, pela tal exposição. Escrevia-se que era o marido da Ana Malhoa e davam a entender que eu era a culpada… foi isso que os deixou um pouco apreensivos. Mas acima tudo, respeitam a nossa relação e apoiam em tudo.
Diz-se que é a Marta que sustenta financeiramente o seu namorado porque ele está sem trabalhar. É verdade?Isso não é verdade. De facto não tem um trabalho com horário certo o que lhe permite uma maior liberdade. Quanto ele partilhar muitas fotografias na praia, e será isso que terá levado a essa especulação, posso dizer que moramos frente à praia. Quando nos juntamos decidimos mudar para uma casa maior e por opção dos dois fomos viver para a Costa de Caparica. Ele tem dinheiro, paga as coisas dele e eu pago as minhas. Há, naturalmente, uma divisão de despesas. E sim, ele trabalha e até recebe mais do que muitas pessoas que trabalham o mês inteiro.
O casamento faz parte dos vossos planos?Tenho esse sonho, mas não para já. A seu tempo.
E ser mãe? Já sente esse apelo?Já senti, agora não. Se Deus quiser daqui a uns anos… lá para os 31, 32 anos, penso em ser mãe.
Fotos: Carlos Ramos
Agradecimentos: Dom Pedro Lisboa, Business & Leisure Hotel e Veste Couture