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Luto

O que foi lido na Igreja de São Roque que deixou família e amigos de Teresa Caeiro em lágrimas

Houve um momento muito especial no último adeus à antiga deputada do CDS.
Por FLASH! | 22 de agosto de 2025 às 15:50
Teresa Caeiro Foto: Flash

Para além de ter trabalhado com Teresa Caeiro, Adolfo Mesquita Lima foi também um dos amigos mais próximos. Ontem, quinta-feira, 21, o advogado e político leu um texto em que traçou o  perfil da já saudosa Tegui: "Os que fizeram um percurso político com a Tegui, no CDS ou fora dele, não precisam de escolher bem as palavras para falar dela. Não há hesitação que nos ocorra. Basta uma palavra para a definir. Essa palavra é: amor. Não a escolhemos ao acaso. O amor de que falamos é o amor inteiro, como São Paulo o descreveu aos Coríntios: paciente, que não se envaidece, que não procura o seu interesse, que tudo desculpa, tudo crê. Amor no princípio; e amor sempre."

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A leitura que emocionou todos os presentes na Igreja de São Roque prosseguiu: "A Tegui era amor. Vinha sempre de ajudar alguém e já ia a caminho de ajudar outro. Havia sempre alguém à sua espera: um amigo aflito, uma família em apuros, ou aquela senhora num sítio recôndito que lhe tinha escrito. Havia quem lhe telefonasse a pedir ajuda para arranjar uma cama articulada, outros para conseguir que a carrinha da junta passasse a tempo, ou até para saber a quem recorrer porque a lâmpada da rua não era mudada há meses. Como na parábola do Bom Samaritano, ela não perguntava de onde vinham, quem eram, ou se mereciam: apenas ajudava. Não conheço imagem mais fiel da sua vida."

"'Ter um anjo entre nós não é cómodo', escreveu a Maria Gabriela Llansol. E não é: confronta-nos com aquilo que deixamos por fazer, com a medida do que poderíamos dar e não damos. A Tegui, sem o saber, lembrava-nos disso. Foi a primeira governadora civil a ser conhecida pelo nome — e conseguiu a proeza de transformar um dos cargos mais cinzentos do Estado num vendaval de energia e proximidade. Ia a todo o lado, com a pressa de quem não suportava ver problemas por resolver", recordou Adolfo Mesquita Lima.

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Continuou: "Como Secretária de Estado da Segurança Social, não se limitou a despachar dossiers: conhecia as instituições, os dirigentes, os trabalhadores; sabia nomes, rostos, histórias. E foi ela quem começou o cruzamento de dados entre a Segurança Social e as Finanças, que durante anos ninguém fizera avançar. No Parlamento lutou — e conseguiu — que as mulheres tivessem acesso à vacina contra o HPV no plano nacional de vacinação. Lutou — e conseguiu — que todos pudessem comprar genéricos em vez de ficarem limitados aos medicamentos de marca. Conquistas que se devem à sua incansável persistência, feita de perguntas, recomendações e diplomas, e à sua recusa em desistir. São medidas que levam o nome da Tegui e que lhe ficarão associadas."

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O político fez também saber: "Vivemos tempos estranhos. Procurar consensos parece suspeito, ter amigos em vários quadrantes soa a traição, dialogar é uma fraqueza. A Tegui era o contrário de tudo isso. Fazia política sem trincheiras. Não escondia convicções, mas também não levantava muros. Tinha a rara liberdade em política de ser amiga sem pedir cartão. E por isso era respeitada por todos — da esquerda à direita, da portaria do Parlamento aos Presidentes que tão brilhantemente serviu. Poucos políticos conseguem gerar uma emoção tão transversal; menos ainda os que nunca procuraram ser consensuais. A Tegui conseguiu-o com a sua profunda humanidade. Num tempo em que a crispação é regra, ela foi a excepção luminosa do diálogo."

"Com a Tegui, tanto se falava da canção da Dina na Eurovisão como de um ensaio da Anne Applebaum. Num instante discutia as sombras morais de Graham Greene e no seguinte ria-se de uma comédia banal. Num Mundo feito de rótulos, recusava viver fechada numa gaveta. 'Não gosto de posturas dogmáticas. A vida não é como vem nos livros' dizia ela. Tony Judt chamou-lhes edge people: os que vivem nas margens, entre mundos, sem se deixarem prender. A Tegui era isso: viveu entre tribos sem se deixar reduzir a nenhuma, e foi isso que a fez maior", descreveu Adolfo Mesquita Lima.

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Acrescentando: "Havia depois esta outra dimensão da Tegui: a capacidade de nos ampliar. Ninguém saía de uma conversa com ela a sentir-se menor; saíamos a acreditar que podíamos tudo. Como seu adjunto no Governo pude ver como sabia encontrar o melhor em cada um e, com isso, ergueu um gabinete extraordinário. Era para ela que remetíamos os jornalistas que queriam escrever o nosso perfil: se falassem com ela, sabíamos que o retrato nos faria mais brilhantes do que merecíamos. Elogiava-nos com a sinceridade desarmante do amor. Nunca era lisonja — e se fosse, notar-se-ia, porque a Tegui mentia mal. Um dia pediu-me músicas intelectuais para levar a uma entrevista na rádio. Mas em direto não aguentou e confessou que eram minhas. Só à Tegui ocorreria pedir a um fã da Eurovisão que lhe sugerisse músicas intelectuais."

E terminou: "A Tegui era a nossa amiga genial. E a genialidade não é barulho, é claridade: é ver o que outros não veem, dizer o que falta, rir no ponto exato. Ela nunca pareceu certa dessa genialidade. Disfarçava-a com humor, ria-se de si própria como quem tenta reduzir a grandeza a leveza. Mas cada piada, cada resposta, cada referência certeira revelava o génio. O humor era a forma mais fulgurante da sua inteligência. Na atual política portuguesa, raros foram os que, como a Tegui, nos desconcertaram tanto, obrigaram tanto a pensar de novo. Não se refugiava em certezas; sabia que a grandeza do mundo está na multiplicidade de vidas possíveis e no direito de cada um construir a sua. Foi nessa visão que nasceu a nossa cumplicidade. E foi a mão dela que procurei no dia da votação mais difícil da minha vida parlamentar. Foi de mão dada com ela que votei. A morte de um amigo genial deixa sempre uma marca particular: uma auréola de inacabado, como escreveu a Agustina. É assim que nos sentimos hoje: com um espaço por preencher, com o vazio que só deixam aqueles que participam da genialidade."

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