
Já passou um ano sobre a tragédia de Pedrógão, um acontecimento que parecia irrepetível, mas que acabou por se repetir quatro meses depois. As cerimónias de aniversário foram dignas, e constituem mais um sintoma de como mudou a relação da sociedade com os fogos e com a sua maior causa, a desertificação do interior.
Um ano depois, as televisões generalistas fizeram uma cobertura digna do que se passou. Todos nós descobrimos aquele país que está a morrer devido ao tsunami populacional que tudo leva em direção ao mar. Esse movimento resulta da procura individual de uma vida melhor, mas é agravado pelo encerramento de muitos serviços do Estado fora das principais cidades. Ora, também o jornalismo praticado pelas televisões mudou por causa de Pedrógão.
As redacções reconfiguraram-se, e deixaram de estar limitadas à zona confluente com as grandes auto-estradas. Os telejornais dos canais generalistas, feitos em directo da estrada 236, foram uma ideia simples, mas eficaz, para demonstrar que há um novo elo emocional entre o país e as suas televisões.
P.S. Ao contrário do que aqui se antecipou, a Altice não ficou com a TVI. Os remédios propostos pela dona da Meo não chegaram, e isso acabou com o negócio. As desculpas devidas aos leitores não invalidam o argumento principal: o desafio colocado pela força da TVI, mesmo mantendo a arquitectura accionista, exige que a Impresa e a SIC encontrem energias, ideias e capital suficientes para fazer jus ao património de Balsemão como histórico dos media e da democracia, património esse que é incompatível com o definhamento do projecto.
MUNDIAL DA RÚSSIA NA TV
A RTP1 tem sido quem mais beneficia com o Mundial, até por ter tido o grande Portugal-Espanha. A SIC ficou com a fancaria: na antena generalista, o efeito é quase nulo. Já no cabo, a dissonância entre o ADN da SIC Notícias e o futebol é tão grande, que o efeito é, pelo contrário, prejudicial. Pode alguém ser quem não é?
FPF-TV
Era previsível: mais tarde ou mais cedo, a Federação Portuguesa de Futebol teria de avançar para a criação de um canal televisivo. Já aqui o tínhamos previsto há cerca de um ano. A quantidade de selecções de várias idades, de jogos, de treinos, de entrevistas, de memórias, de conteúdos, enfim, exigiam um canal próprio. A escolha de Nuno Santos para liderar o desafio é a ideal.
MOMENTO SURREAL
A famosa novela Bruno de Carvalho teve nova série de episódios memoráveis na última semana. O maior entre todos? A surreal entrevista na SIC, cheia de pausas dramáticas e espantos artificiais, mas que, tudo espremido, trouxe muito pouca novidade, a não ser as ameaças a Jorge Jesus. A surreal entrevista teve, da parte da SIC, um surreal tratamento: no Jornal da Noite, de Pedro Mourinho, a entrevista foi conduzida por Luís Marçal, um pivô do desporto do cabo, que até fez um trabalho razoável, mas que pareceu fora do seu ambiente natural.
A GALERIA DOS ERROS
Eis outro exemplo de como o erro atravessa o processo de comunicação das televisões. Os casos da semana passada eram, genericamente, sintoma de como a debilidade das estruturas facilita o ruído entre profissionais, ruído esse que origina o erro. Desta vez, mostro o clássico "pontapé na gramática", a troca do verbo haver pelo verbo ouvir. Creio que é possível minorar os erros nas TV. Fica o desafio a todos nós.