Filomena Cautela, uma apresentadora com talento, tem agora um programa cuja primeira emissão foi má demais para ser verdade. O nome é bizarro, 'Programa Cautelar'. O formato não é original, apesar de isso não ser referido durante toda a emissão. Para o espectador português, o Cautelar é facilmente comparável aos programas de Araújo Pereira.
Um apresentador a lançar vídeos ou imagens, desconstruídos através do texto e das piadas durante os respetivos lançamentos. No caso de Filomena, em pé e com variantes de câmara e de cenário, à moda dos formatos peripatéticos que constituem o que de mais provinciano há na televisão portuguesa. No caso de Ricardo, sempre sentado, ao jeito de um telejornal clássico. Só que há um abismo filosófico a separá-los. Onde Araújo Pereira destapa a careca, os podres e as incongruências do regime, Cautela faz uma espécie de fundamentação da metafísica do poder. A emissão inicial foi uma defesa escandalosa, fraudulenta e parcial, da famosa carta dos direitos online, primeira tentativa jurídica de recuperar os valores da censura entre nós.
A sociedade civil tenta resistir a esse golpe perpetrado com a conivência do parlamento e o beneplácito presidencial. A RTP1 procura desconstruir a reação social de repúdio a tamanha ignomínia com propaganda high-tech em horário nobre. Filomena Cautela passou a ser a televangelista do regime?
Informação10 de junho Marcelo tem o dom de antecipar o espírito do tempo. Começou, muito antes dos restantes políticos, a explicar que a redução drástica do númerode mortos possibilitado pelas vacinas alterou profundamente o grau de ameaça da Covid. Um ano depois de limitar a oito o número de pessoas que puderam assistir ao Dia de Portugal, Marcelo ensaiou no 10 de junho, no Funchal, o primeiro banho de multidão no mundo pós-pandemia. O povo também está sedento de regressar à normalidade, mas o medo atrasa a recuperação. Estes diretos televisivos ensaiam o regresso da vida tal como ela era,e vão ajudar a recompor o tecido social que saiu da pandemia.
EntretenimentoMarco Paulo A estreia na SIC foi um sucesso, e anulou a tarde de sábado da TVI, tantas vezes líder por beneficiar da falta de comparência dos concorrentes. Já aqui se falou da história de amor que há entre os portugueses e o cantor, e esta é uma nova manifestação desse romance. Os portugueses gostam genuinamente de Marco Paulo e as audiências refletem essa admiração. Porém, é preciso melhorar. Na primeira emissão sempre se perdoa a falta de ritmo, que houve, e muita. Ana Marques tem de encontrar o seu lugar. Depois da primeira e folgada vitória, será sempre a doer.
Audências
(neutro) Euro 2020 A começar pelo nome, que engana, o Euro em 2021 está a tornar-se um problema para a UEFA. O adiamento por um ano devia ter concentrado tudo num só país. A permanente mudança agrava o risco da Covid. O torneio tem tudo para se transformar numa tempestade perfeita para o futebol.
(desce) Goucha O som de fundo tinha música da filha, e Tony Carreira não se conteve. Estava magoado. Goucha tentou ser eficaz a resolver a falta de sensibilidade, mas
o mal estava feito. É o mal de quem trabalha em televisão – lida tão profissionalmente com as emoções que o risco maior é tornar-se insensível.
(desce)Fernando Medina Um político pedir desculpa não é assim tão habitual entre nós, pelo que é curiosa a reação do autarca ao escândalo Rússia-gate, que diz respeito à passagem de dados pessoais de manifestantes à embaixada de Moscovo. Porém, o caso é tão grave que a posição de Medina sai muito fragilizada.