Afinal, não houve concurso para escolher a nova administração da RTP. A revelação foi agora feita pelo Conselho Geral Independente, depois de uma providência cautelar para impedir a tomada de posse de Nicolau Santos e da sua equipa. O CGI reagiu de imediato à providência cautelar, precavendo-se com um comunicado onde diz que houve candidaturas, sim senhor, mas que foram selecionadas mediante um "mecanismo informal de escolha". Ou seja, Nicolau Santos foi uma escolha informal. Não, não é piada. Foi o próprio CGI que o escreveu em comunicado.
E assim se gastaram 70 a 80 mil euros com uma empresa que, pelos vistos, se limitou a recolher candidaturas, a consultora Boyden. É caso para dizer que, se era para tudo acabar numa escolha informal, mais valia ter sido publicado um anúncio nos classificados. Pelo menos teria ficado bem mais em conta. Este processo é trágico, mas esclarecedor: o CGI foi uma péssima concretização prática para uma boa ideia teórica.
A ideia inicial seria aumentar a independência da RTP através da criação de um organismo recheado de personalidades de reputada valia científica, detonadores de processos de decisão isentos e acima de qualquer suspeita de interferência governamental. Mas de boas intenções está o inferno da RTP cheio. A execução prática deste princípio de independência acabou muito mal, com o reforço do controlo político e a crescente inadequação técnica do chamado Conselho Geral Independente. O melhor é acabar rapidamente com este órgão, porque o seu epitáfio já está escrito. Aqui jaz o sonho de independência da RTP.
INFORMAÇÃO - MISTURA PERIGOSA
A forma como a TVI tenta casar informação e entretenimento, de manhã, pisa perigosamente todos os limites. O tema já aqui mereceu um alerta no arranque do projeto Esta Manhã, mas a passagem do tempo só tem agravado o problema. Misturar jornalismo com entretenimento no mesmo programa representa um risco altíssimo de descredibilização, risco esse ainda mais acentuado pela péssima gestão de redes sociais feita pelos profissionais envolvidos no projeto.
Um jornalista aparecer com nariz de palhaço ou dentro de uma bolha de plástico não reforça em nada a credibilidade de ninguém. Por isso, cuidado. Estão a brincar com o fogo.
E não é só a TVI que se pode queimar.
ENTRETENIMENTO - CRISE DE RESULTADOS
Assinaláveis dificuldades do formato do chef, na SIC. Já perde para a concorrência, e não deve justificar a aposta numa segunda série. Ljubomir Stanisic sem pesadelo na cozinha não é a mesma coisa, porque a principal estrela do formato era o próprio chef, e nesta nova aposta na SIC ele não tem ocasião para exibir à vontade o seu mau feitio que tanto apaixonou o auditório. Ou seja, a principal arma do programa está voluntariamente apagada, e tenderá a cair ainda mais. A primeira derrota frente ao All Together Now, esta semana, é mais um sintoma de algum desgaste da SIC em vários horários. As próximas semanas são decisivas para avaliar em que pé ficará
a guerra de audiências entre os dois principais canais FTA, sendo que uma divisão entre a SIC a liderar o dia e a TVI a liderar o horário nobre não pode ser excluída neste momento.
SOBE - MARIA DO CÉU GUERRA
Enche Festa é Festa com um talento raro. Dá corpo a uma personagem picaresca como há muito não se via na televisão portuguesa. É uma das principais razões para os bons resultados do arranque da novela da TVI. A crise na ficção da estação não era um dado adquirido, já aqui se tinha alertado há uma semana, e agora fica provado. No arranque, Festa foi poupada às interrupções para publicidade na sua faixa horária, com sacrifício de receita. Veremos como se comporta em grelha normal, com intervalos e tudo.
SOBE - TERESA GUILHERME
No horário que dominou, em nome da TVI, enquanto a TVI não decidiu despromover-lhe o formato ganhador e passá-lo de domingo para sábado, Teresa Guilherme apareceu na SIC, no programa de Araújo Pereira. Fez uma espécie de reality show dos candidatos autárquicos do PSD, e conseguiu dar ainda mais sal e pimenta ao humor politicamente corrosivo de RAP. A vingança sobre Cristina Ferreira foi um extra.
DESCE - DANIEL OLIVEIRA
As tardes de sábado da SIC têm cinema há várias semanas consecutivas. O resultado é uma derrota reiterada frente à TVI nesse horário. Compreende-se a razão: é preciso poupar nalgum horário, e os filmes ficam em geral mais baratos que a produção nacional. Mas muitas vezes é neste tipo de poupanças que se abre o flanco a perdas mais significativas.
