
"Tempo de solidão e de incerteza; Tempo de medo e tempo de traição; Tempo de injustiça e de vileza; Tempo de negação", escreveu Sophia de Mello Breyner, em 1962. "Esta é a madrugada que eu esperava; O dia inicial inteiro e limpo; Onde emergimos da noite e do silêncio; E livres habitamos a substância do tempo", assinou a mesma poetisa, 12 anos depois, feliz com o 25 de Abril de 1974.
"Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida. Que sempre que o homem sonha, o mundo pula e avança, como bola colorida entre as mãos de uma criança", criou António Gedeão, em ‘Pedra Filosofal’, poema imortalizado pela voz de Manuel Freire. "Trocaram tudo em maldade, é quase um crime viver; mas, embora escondam tudo e me queiram cego e mudo, não hei de morrer sem saber qual a cor da liberdade", pôs no papel Jorge de Sena.
"Vejam bem, que não há só gaivotas em terra, quando um homem se põe a pensar", compôs José Afonso. "Pergunto ao vento que passa notícias do meu país; e o vento cala a desgraça; o vento nada me diz", redigiu Manuel Alegre. "Isto vai, meus amigos, isto vai; um passo atrás são sempre dois em frente; e um povo verdadeiro não se trai; não quer mais gente que outra gente", defendeu Ary dos Santos.
No 25 de Abril de 1974, eu estava na barriga da minha mãe. Obrigado, pais, pela coragem. Obrigado, Capitães e povo, a todos aqueles que tombaram pela liberdade, por terem ajudado a colocar um fim numa ditadura de 48 anos. Não há nada melhor na vida do que ser-se livre.