
1- Há uma pergunta que, de vez em quando, não resisto a colocar a mim mesmo: se José Eduardo Moniz e Emídio Rangel ainda estivessem no ativo, enquanto responsáveis máximos das duas estações privadas, que televisão existiria hoje em Portugal? Que papel teriam Cristina Ferreira e Daniel Oliveira na TVI e na SIC, respetivamente? Existiriam, tal como os conhecemos?
Será que a criatividade, a visão, a combatividade, a vontade de inovar, a atração pelo risco e a capacidade de comando daqueles dois homens – um remetido a consultor da Ficção, o outro já ausente do mundo dos vivos – teriam permitido que o panorama televisivo fosse o que é atualmente?
Será que teríamos passado por situações de rutura em modelos de programação, que se arrastam desde finais do século passado, ou ambos se acomodariam a esses modelos, que outros até vieram a adotar como heranças preciosas? Não há bolas de cristal que tragam respostas.
Não há. As perguntas estão condenadas a pairar como fantasmas sobre os atuais responsáveis. Mas difícil seria imaginar aquele último cenário, tendo em conta a personalidade de ambos e a inquietude de que deram mostras, em lutas sem tréguas.
Novas novelas se anunciam, novos reality shows se preparam, mas o que há de verdadeiramente diferente das linhas de orientação que aqueles dois "generais" desenharam, na ânsia de se vencerem mutuamente? O mundo da televisão já não se compadece com muitas das opções que ambos fizeram, é verdade.
Mas estou em crer que nenhum deles, Moniz e Rangel, se deixaria ficar sentado ou se limitaria a fazer mudanças de cosmética para mascarar tudo aquilo que, afinal, era para ficar na mesma.
Cristina Ferreira e Daniel Oliveira: o futuro da televisão passa mesmo só por eles? E, já agora, será que passa por José Fragoso, neste último caso, na RTP, que mirra a cada mês que passa, colocando legitimamente a questão de se saber para que serve o serviço público? Há dias em que só temos mesmo perguntas para fazer...
2- Carlos Areia, de 77 anos, dá uma grande entrevista, com substância, à 'TV Guia' desta semana. Recorda, por exemplo, que aos 13, já sem mãe, puseram-no, todo nu, a limpar o túnel de uma fábrica, que ia de uma chaminé à caldeira. "Ainda hoje sinto o cheiro e o calor daquela merda!" Felizmente, não estamos entregues só a atores-manequins-influencers...