
Foi prática, que há umas décadas, se tornou popular nos clubes de futebol. Nesse tempo, foi determinado que não podiam jogar nos campeonatos nacionais mais do que dois ou três atletas estrangeiros. Então, para fugir ao regulamento, recrutavam-se jogadores por esse mundo fora, chegavam a Portugal, arranjava-lhe uma noiva por um punhado de escudos ou euros, passadas semanas estavam casados, e o brasileiro, o colombiano, o russo, automaticamente recebiam a naturalização. Tornavam-se portugueses em menos de um ai. A noiva ia ao Registo Civil, aqui conhecia o marido, assinavam o compromisso e ia à sua vida. O negócio estava realizado.
Muitos destes jogadores fizeram carreiras no futebol mas, muitos mais, acabaram com serventes de pedreiros, cabouqueiros, delinquentes porque a fama que os precedeu era bem maior do que o proveito que entregavam às equipas que os contrataram.
Julgo que esta prática obscena terminou há alguns anos. Porém, nos últimos tempos ressuscitou noutros moldes e a preços mais módicos. A crer numa decisão proferida pelo Tribunal que sentenciou uma angariadora de noivas a uma pensa suspensa de prisão, a coisa anda agora pelos trezentos euros. A procura é, sobretudo, de imigrantes ilegais que, fugidos da fome, da guerra, da miséria mais cruel, receosos de serem expatriados, procuram noiva por uma hora. Não lhes tocam, ou melhor, nem as conhecem. É indiferente que sejam bonitas ou feias, altas ou baixas, velhas ou jovens. O negócio é casar. Não é viver casado. Nem para viver juntos até que a morte os separe. Tão só o tempo do escrivão terminar o assento de matrimónio. Numa palavra, um crime de burla com a aparência de romance cor de rosa.
Vulgarmente são mulheres experientes, muitas oriundas da prostituição, outras das redes de controle de mulheres em servidão que procedem à mediação entre os falsos nubentes. Ganha uma comissão por juntar os documentos de cada um, marcar a Conservatória do Registo Civil e, pronto! Algumas ainda tratam dos papeis do divórcio que de imediato é acionado. Outras, nem isso. Os noivos que se desenrasquem. Julgará o leitor que estamos a falar de uma mão cheia de casos de brincadeira com a República. Desenganem-se. As noivas do Além estão por todo o País.