
A proibição de assistência aos jogos de futebol, devido à pandemia e ao confinamento, criou a expectativa de que este campeonato da I Liga decorresse sem turbulência, sem arruaceiros das claques, com a tranquilidade que resulta da própria tristeza de assistir a jogos sem público. Na verdade, o público é a alma deste jogo. Quando estamos a chegar ao final desta temporada e existe a forte possibilidade do Sporting ser campeão, para além de todos os atributos da equipa, considero que um dos fatores que pesou no sucesso deste clube foi, exatamente a ausência da sua claque. Todos se recordam que bastava o primeiro atleta pisar a relva e o clamor de insultos, de raivas, contra a equipa ou contra os seus dirigentes, transformava Alvalade num inferno para os seus próprios atletas.
Veio a acalmia. Porém, com o decorrer do campeonato, nas televisões, nos jornais, nas rádios, emergiram novos protagonistas que acenderam a quezília, o confronto, a balbúrdia. Os árbitros transformaram-se em astros. Sujeitos a um escrutínio inimaginável. E os dirigentes e adeptos no espaço público em verdadeiros comandantes da dissolução do resto de ética. Treinadores, transformados em profissionais do insulto, dirigentes revelando que são mesmo arruaceiros, incapazes de ensinar brio desportivo aos milhões de jovens que idolatram o espetáculo, espancamento de jornalistas. Enfim, um rol de brutalidade e violência que põe a nu a degradação do sistema de futebol no nosso País.
Que termine rapidamente esta época. Que os responsáveis governativos, dirigentes dos órgãos de decisão de futebol, presidentes de clubes tenham a coragem de se sentar a uma mesa, e em puro ato de contrição, decidirem um padrão de boas práticas para que seja um exemplo desportivo e não um bando de gente sem escrúpulos. Para serem o exemplo que nós queremos ver projetado em quem dirige, tal como nos revemos nos nossos ídolos que, no jogo, produzem a magia que existe no futebol. É essa dimensão cívica, pedagógica e espetacular que é exigido a quem é responsável. Nada mais!