
Ergueram-se as virgens ofendidas, vestais indignadas porque a PSP, no passado dia 25 de Abril, distribuiu algumas lambadas num grupo de patriotas que queria comer um porco no espeto no Martim Moniz. Diziam que era a sua festa de celebração do 25 de Abril e, vejam bem!, não tinham outro sítio para comer o suíno, sendo Lisboa do tamanho do mundo. Logo ali, onde vive uma grande comunidade islâmica que, segundo as suas crenças, a carne de porto é interdita.
A turba de indignados veio reclamar com o direito à liberdade de expressão e de reunião constitucionalmente consagradas.
Vejamos as coisas como devem ser vistas. Os dois grupos de extrema-direita que desejavam tal prerrogativa enganaram as autoridades. Mentiram a propósito da provocação que outra coisa não poderia ser. Em primeiro lugar porque, qualquer deles, o Ergue-te e o 1143, odeiam o 25 de Abril. O tónus dos seus abundantes discursos é insultar o que essa data significa e os protagonistas desse grande movimento militar e popular. Chamam-lhe a abrilada, quem o fez é traidor à Pátria, quem o celebra são os enganados.
Ora não se percebe como quem assim pensa, escudado nos melhores princípios neofascistas, argumenta que quer comemorar o 25 de Abril com um porco no espeto.
A PSP torceu o nariz a tão inusitada pantomima, deu conta disso à Câmara Municipal e o infeliz do porco escapou aos esfomeados ativistas políticos. A Polícia trocou o petisco por uma sopa de cassetete que, diga-se, não foi coisa do outro mundo pois eram poucos os manifestantes.
Ao lado, mesmo ao lado, descendo a avenida da Liberdade, milhares e milhares de pessoas comemoravam em festa e luta o dia libertador.
Toda esta conversa vem a propósito do direito à manifestação e do direito à paz social. Portugal abriu as suas fronteiras, convivem no território gentes que chegaram de inúmeros países, de várias etnias e religiões. Quem chegou, está obrigado a cumprir as leis portuguesas. Quem os recebeu, tem a obrigação de respeitar os valores ecuménicos da universalidade humana, porque, na verdade, sendo todos diferentes, somos todos iguais.
Correio do leitor
“Cada vez que oiço o André Ventura fico assustada com a emigração (…) é verdade que aumentou o crime por causa dos emigrantes?” Isabel Sampaio, Marinha Grande
Os números da Polícia contradizem esse discurso de propaganda. Os movimentos da nossa criminalidade correspondem àquilo que é o nosso desenvolvimento social e económico com pequenas oscilações no que respeita a valores absolutos. Somos um dos países mais seguros do mundo. Os grandes desafios prendem-se com a violência domésticae ao crescimento grupal da delinquência juvenil.