
Existem crimes, que pela sua natureza malévola, que deveriam estar catalogados, tal como no Direito brasileiro, como hediondos. Não tanto pela consequência jurídica, sobretudo pelo que encerram de imoralidade e malvadez contra a vida humana.
Está neste caso o chamado Processo da compra de sangue, baptizado com o sugestivo nome de O Negativo. Negociatas feitas com compra de sangue que, esta semana, levaram mais um punhado de médicos a ser interpelados pela Justiça.
O sangue é fonte de vida. Pelo País existem centenas de organizações de dadores voluntários, gente de generosidade sem limites, que entrega um pedaço de si para salvar os seus semelhantes. Gente de todos os estratos sociais, de todas as cores, sem distinção de credos, que estende o braço e se oferece, desta forma, para salvar vidas.
A resposta do Estado a este voluntarismo generoso é escolher bandidos, ainda que engravatados e pomposos, para comprar através de concursos públicos manipulados, de negociatas escuras, o sangue que falta nos hospitais. A generosidade dos povos contra o banditismo do Estado. Nada existe de mais cruel, de desumano, de imoral para mostrar que este Estado e os seus vários governos, não merece os cidadãos que governa.
É verdade que a Saúde merece toda atenção, que os investimentos devem ser privilegiados pois que é o sector que cura, trata e cuida de doentes. Porém, não é possível que escorram milhões e milhões de euros por este sector da vida pública com critérios mínimos de fiscalização e controle. Quer no que respeita ao sangue, quer no que respeita à grande industria farmacêutica, quer no que respeita à gestão hospitalar. É um regabofe humilhante para quem paga impostos e espera seriedade do Estado. Há meses que a PJ persegue esta ‘máfia do sangue’ e, ao que parece, com resultados. Deve começar a perseguir as outras ‘máfias’ que na Saúde roubam milhões à custa de vidas e de sofrimento alheio. É tem de começar a dizer Basta!