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A vida depois da morte. O que acontece a Maria de Jesus Rendeiro e ao corpo do banqueiro morto na África do Sul

A viúva de João Rendeiro já se pode movimentar mas continua sem acesso à fortuna "congelada" do marido e com as contas e os bens arrestados. Maria de Jesus pode precisar, inclusivamente, da ajuda dos amigos do marido para a trasladação dos cadáver. Toda a história da morte macabra de um homem que viveu rodeado de... polémica.
Por João Bénard Garcia | 19 de maio de 2022 às 23:33

O corpo do ex-banqueiro João Rendeiro, de 69 anos, deverá ser cremado na África do Sul e as suas cinzas serão transportadas por um familiar ou amigo que as levante naquele país. Esta é uma das hipóteses mais fortes que está a ser equacionada pela família para evitar os custos, de cerca de 20 mil euros, da trasladação do cadáver no português, que se enforcou ao final da noite do passado dia 12 de maio, na cadeira de Westville, na cidade costeira de Durban.

Com as contas congeladas e libertada da prisão preventiva domiciliária com pulseira eletrónica apenas na passada quarta-feira, dia 18, a viúva Maria de Jesus Rendeiro, também de 69 anos, só passou agora a ter maior margem de manobra, embora com extremas limitações, para tratar de dar ao marido um funeral condigno.

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João Rendeiro e Maria de Jesus Foto: arquivo
João Rendeiro e Maria de Jesus Foto: arquivo
João Rendeiro e Maria de Jesus Foto: arquivo
João Rendeiro Foto: arquivo
João Rendeiro Foto: arquivo
João Rendeiro Foto: arquivo
João Rendeiro Foto: arquivo
João Rendeiro Foto: arquivo
João Rendeiro Foto: arquivo
João Rendeiro Foto: arquivo

Fonte próxima do casal, que nesta fase dolorosa prefere manter o anonimato, sublinha à The Mag que alguns amigos de João e Maria de Jesus "estão a ponderar a possibilidade de custear as despesas da trasladação para ajudar a viúva a fazer cá o funeral, mas ainda nada é certo ou garantido", resume.

MARIA SEM PULSEIRA NEM PRISÃO DOMICILIÁRIA

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Dias depois da morte do ex-banqueiro, o tribunal de primeira instância de Lisboa acabou por "libertar" Maria de Jesus Rendeiro, que ainda há uma semana tinha visto ser renovada, por mais três meses, a medida de coação de prisão preventiva domiciliária com pulseira eletrónica. Com a morte do marido, o tribunal decidiu ter terminado o risco de fuga e sujeito-a agora a uma medida de coação menos gravosa – a de apresentações semanais no subdestacamento da GNR de Alcabideche, em Cascais, e à proibição de viajar para fora de território continental.

Maria de Jesus Rendeiro foi, em novembro último, constituída arguida no âmbito do processo de investigação criminal D’Arte Asas, acusada de desobediência, branqueamento de capitais, falsificação de documento e descaminho de algumas obras de arte da Coleção Ellipse, de que tinha sido constituída pela Justiça como fiel depositária, e que é um dos maiores acervos privados nacionais de pintura e escultura, composto por quase 900 obras de arte.

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CORPO NÃO RECLAMADO PODE ACABAR COMO INDIGENTE

Uma das notícias vindas a público - durante a semana em que o cadáver de João Rendeiro foi sujeito a autópsia na morgue de Pinetown, processo que durou duas horas, para despistar quaisquer suspeitas das causas da sua violenta morte na prisão sul africana - foi a de que os restos mortais do ex-banqueiro poderiam ficar para sempre na África do Sul. E que as autoridades locais poderiam cremar o corpo na condição de indigente (equivalente a um sem abrigo sem família).

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Tudo porque, até à hora de fecho desta edição da The Mag, a família do ex-banqueiro ainda não tinha dado qualquer indicação de que pretendia dar início ao burocrático e oneroso processo de trasladação dos restos mortais para Portugal.

Elias de Sousa, o cônsul honorário de Portugal em Durban, foi quem reconheceu o cadáver do ex-banqueiro, e é quem tem mantido contactos com os representantes da viúva de João Rendeiro. Segundo este representante consular, esta ainda não lhe terá dito a si, ou às autoridades sul africanas, qual o destino que pretende que seja dado ao corpo do marido. E a trasladação só será possível se a família a solicitar. O corpo tem permanecido na morgue e, se não for transportado para Portugal, será tratado como indigente e acabará por ser cremado na África do Sul.

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Independentemente da decisão final sobre o destino dos restos mortais, os resultados da autópsia serão apenas comunicados à família, cabendo também a Maria de Jesus Rendeiro submeter o pedido de acesso ao respetivo relatório.

HERDEIROS COM TUDO (O QUE É CONHECIDO) CONGELADO

João Rendeiro era filho único, os pais já faleceram, e não teve filhos do casamento de 49 anos com Maria de Jesus. Esta tem uma irmã e sobrinhos, que poderão ser seus herdeiros, embora todos os bens conhecidos do casal, como a mansão de 14 assoalhadas na luxuosa Quinta Patiño, em Cascais, estejam arrestados e as contas bancárias detetadas congeladas para ressarcir os milhares de credores de centenas de milhões de euros de depósitos resultantes do colapso financeiro do Banco Privado Português (BPP) em 2010.

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João Rendeiro e Maria de Jesus Foto: arquivo
João Rendeiro e Maria de Jesus Foto: arquivo
João Rendeiro Foto: arquivo
Maria de Jesus Rendeiro Foto: Facebook

As autoridades policiais e judiciais continuam no encalce de outros bens e contas bancárias em paraísos fiscais que possam estar associadas a João Rendeiro ou a Maria de Jesus ou a seus familiares próximos.

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FUGA E CAPTURA DIGNAS DE SÉRIE COM GUIÃO DE LUXO

João Rendeiro, de 69 anos, foi encontrado morto na quinta-feira dia 12 na prisão de Westville, depois de uma saga com um guião com contornos de série de plataforma que 'streaming', começou em setembro de 2021 com a fuga do ex-banqueiro num jato privado de Londres para o Dubai. Aí o fugitivo permaneceu umas semanas, antes de rumar à África do Sul, onde começou a preparar a sua defesa e bloqueio a uma extradição, antes de ter acabou detido num quarto de um hotel de luxo a 11 de dezembro, três meses após a fuga à Justiça portuguesa. À qual se recusava entregar-se para cumprir várias penas acumuladas de prisão em Portugal.

Alegava, para justificar a fuga, "legitima defesa" contra "uma justiça injusta".

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João Rendeiro, Forest Manor Boutique Guest House, Durban, África do Sul Foto: D.R.
João Rendeiro, Forest Manor Boutique Guest House, Durban, África do Sul Foto: D.R.
João Rendeiro, Forest Manor Boutique Guest House, Durban, África do Sul Foto: D.R.
João Rendeiro, Forest Manor Boutique Guest House, Durban, África do Sul Foto: D.R.
João Rendeiro, Forest Manor Boutique Guest House, Durban, África do Sul Foto: D.R.
João Rendeiro, Forest Manor Boutique Guest House, Durban, África do Sul Foto: D.R.
João Rendeiro, Forest Manor Boutique Guest House, Durban, África do Sul Foto: D.R.
João Rendeiro, Forest Manor Boutique Guest House, Durban, África do Sul Foto: D.R.
João Rendeiro, Forest Manor Boutique Guest House, Durban, África do Sul Foto: D.R.

O ex-banqueiro tinha sido condenado em três processos distintos relacionados com a falência do BPP, tendo o tribunal dado como provado que retirou do banco para seu usufruto pessoal 13,61 milhões de euros. Antes de fugir às autoridades, Rendeiro tinha, já sem mais recursos judiciais, para cumprir penas acumulada de 19 anos e 2 meses de prisão por vários crimes de fraude fiscal, branqueamento e abuso de confiança, falsidade informática e burla qualificada.

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A condenação acabou por nunca transitar em julgado. Este é um caso inédito, que promete ficar para a História da Justiça portuguesa e será deveras estudado e debatido, ao detalhe, nas faculdades de direito nacionais.

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