O triunfo depois da dor. João Neves supera drama familiar e encontra o amor com direito a beijo no relvado no dia em que se sagra campeão
2024 foi o ano das emoções mais duras para o craque português, que perderia a mãe, com apenas 19 anos, para uma doença oncológica. Depois da dor imensa, reuniu forças, começou uma nova vida de sucesso em Paris e encontrou um amor que lhe daria um alento renovado para triunfar. No último sábado, João Neves sagrou-se campeão pelo Paris Saint-Germain, num desfecho merecido para um dos meninos de ouro do futebol português.2024 ficará para sempre marcado como o ano em que João Neves viveu dos sentimentos mais contraditórios da sua vida. Em fevereiro desse ano, descia aos infernos com a notícia mais dura: a mãe, Sara Gonçalves, de apenas 50 anos, perdia a vida de forma inesperada. A professora tinha sido diagnosticada com cancro há três meses e não houve tempo para digerir o que estava a acontecer. O quadro complicou-se muito rapidamente e acabaria por falecer no Hospital de Faro, na sequência de uma infeção generalizada.
João Neves, um algarvio a viver em Lisboa desde tenra idade, por causa do futebol, chorou ao lado do pai e da irmã, e também dos colegas do Benfica, onde há muito se vaticinava o seu futuro dourado, com o selo de uma das promessas do futebol português.
Se acreditasse em estrelinhas, João Neves poderia dizer que foi a mãe que, nesse ano de tanta dor, lhe colocou o Paris Saint-Germain no caminho e também a namorada, a atriz Madalena Aragão, por quem se acabaria por apaixonar perdidamente e com quem agora vive um romance entre Lisboa e Paris, onde está a sua nova vida.
No último sábado, dia 5, o casal foi um dos protagonistas da festa em que o Paris Saint-Germain se sagrou tetra-campeão francês. À sua maneira divertida, o craque protagonizou momentos de brincadeira com a namorada em campo e não escondeu a satisfação pelo momento que vive, numa altura em que já conquistou um lugar de destaque, muito pela sua postura, em que os pilares são descritos como foco, humildade, companheirismo e capacidade de trabalho, algo que nem sempre é fácil unir num mundo de egos como é o do futebol.
Juntos no relvado, houve beijos em público e uma cumplicidade que já é abençoada por ambas as famílias.
Nesta nova fase, Madalena Aragão tem sido fundamental para ajudar João Neves a sentir-se em casa na nova casa que é Paris, depois de toda uma vida no Benfica. Sempre que pode, a jovem atriz faz as malas e apanha o primeiro voo, com os dois a conseguiram contornar a distância com muito amor. "É uma casa cá, outra já", já admitiu Madalena.
UM PERCURSO DOURADO QUE DÁ QUE FALAR
Foi com apenas 12 anos que o algarvio se despediu dos pais, Sara e Pedro, para rumar ao Seixal e, sozinho, lutar pelo sonho de ser jogador de futebol, seguindo as pisadas do progenitor, que foi futebolista no Algarve e que Neves considera o seu mestre da disciplina. Apesar da distância, os pais sempre fizeram de tudo para a encurtar e eram presença assídua no Seixal e mais tarde na Luz, tendo visto crescer, de olhos a brilhar, o miúdo que conquistava os benfiquistas e se tornava num caso sério de sucesso na Luz.
Apesar do mediatismo, nunca se deixou deslumbrar, numa humildade que se alia ao talento para o tornar num dos jogadores mais promissores do futebol português, mas sempre sem esquecer as origens. Ainda hoje, faz questão de jogar com a camisola por dentro dos calções, uma das suas imagens de marca, e que é precisamente uma homenagem e um sinal de respeito ao pai, que lhe incutiu esse hábito desde novo, para evitar passar uma imagem de desleixo.
"Além de um futebolista com muito potencial, é um elemento adaptado à vivência do clube, que criou laços de amizade muito grandes com os colegas e com os treinadores. Aqueles miúdos eram colegas de equipa, colegas de quarto, colegas de brincadeiras. O João sempre foi um miúdo muito preocupado com o bem-estar de todos", já elogiou Nuno Gomes, que era diretor de formação nos anos em que João Neves residia no Campus do Benfica, no Seixal.
A fazer lembrar o duro momento de Cristiano Ronaldo, que fez questão de jogar pela Seleção depois de ter perdido o pai, João Neves também alinhou frente ao Toulouse, após as cerimónias fúnebres da mãe. Num momento arrepiante, ouviu o seu nome a ser ecoado pelos adeptos, num jogo que dificilmente algum dia esquecerá. "O último jogo em França foi muito emotivo para mim, como todos sabem. Não é segredo para ninguém. Dei o devido valor", abordaria depois.