Que comece o Conclave! Os segredos, mistérios e ritos em torno da eleição do novo Papa, que poderá ser português
Os fatos do novo Papa já estão engomados, as cadeiras onde decorrerá a eleição alinhadas e os 133 cardeais em isolamento para escolher o líder da Igreja Católica. Começa esta quarta-feira, a eleição do Santo Padre e uma hora e meia antes do arranque, todos os sinais de comunicação serão cortados para garantir o sigilo máximo da operação.No Vaticano, há o burburinho especial das horas que antecedem um momento histórico. É já esta quarta-feira, dia 7 de maio, que 133 cardeais, todos com menos de 80 anos, se reúnem na mítica Capela Sistina para escolher quem é o homem que sucede a Francisco, numa eleição denominada de Conclave.
A palavra vem do latim 'cum clave', que na prática significa "fechado à chave", numa referência ao momento em que os cardeais se isolam do mundo para tomar a decisão que muda o rumo da Igreja Católica. E se em tempos que já lá vão este era um momento que se podia arrastar por anos - o conclave mais longo da história durou quase três anos após a morte de Clemente IV, em1268 - a verdade é que, das últimas vezes em que foi realizado, o assunto ficou resolvido em dois ou três dias.
Para o momento, não só os cardeais, mas também todos os funcionários que, de uma forma ou de outra participarem na Operação Conclave - sejam médicos, enfermeiros, cozinheiros ou empregados de limpeza - têm de proceder a um juramento de confidencialidade - de forma a evitar fugas de informação.
Para aqueles que elegem, será fácil guardar segredo, uma vez que têm de entregar todos os equipamentos de comunicação e, de qualquer das formas, o sinal na Capela Sisitina - onde decorrem as rondas de votação - será cortado pelas 14h00 desta qaurta-feira, uma hora e meia antes de o arranque do Conclave. À noite, se não houver fumo branco, ou seja, se um nome não tiver sido escolhido por maioria de dois terços , os cardeais continuam a clausura nas Casas de Santa Maria Maior e Santa Marta, até ao dia seguinte, quando se repete tudo outra vez. As votações decorrem quatro vezes ao dia, pelo que é expectável que ao segundo ou terceiro dia já haja um nome vencedor.
Se tal não acontecer, ao final do dia de quarta-feira haverá fumo negro a sair pela chaminé do Vaticano, enquanto o fumo branco representa o famoso 'habemus papam'.
Depois disso, o Papa eleito passa para a chamada Sala das Lágrimas, onde o esperam três fatos brancos em diferentes tamanhos para usar aquele que melhor lhe assente. Um momento assente numa série de rituais, que no entanto têm sofrido pequenas alterações ao longo dos anos.
Por exemplo, para evitar que o conclave se estendesse no tempo, Gregório X ordenou que os alimentos fossem racionados à medida que os dias iam passando, sendo que ao fim de cinco dias, apenas havia pão, água e vinho.
Também em relação às celebrações, alguns dados novos têm sido incluídos, com João Paulo II, em 1978, a servir champanhe aos cardeais depois de aparecer diante da multidão na Praça de São Pedro.
OS FAVORITOS NAS CASAS DE APOSTAS
Entre os cardeais presentes, há quatro portugueses que têm direito a voto, e também podem ser eleitos: Manuel Clemente, patriarca emérito de Lisboa; António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima; Américo Aguiar, bispo de Setúbal; e José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, no Vaticano, sendo que a haver uma vitória lusa, todas as fichas estão colocadas em Tolentino.
Amigo de Francisco e com linhas progressistas, aquele que é considerado como o 'Cardeal Poeta', dada a sua paixão pelos livros – tem várias obras publicadas, é visto como um nome no seguimento do argentino e nas casas de apostas, onde disparam os investimentos para tentar adivinhar quem será o próximo Papa, Tolentino Mendonça aparece frequentemente entre os 15 primeiros classificados. Também o jornal 'La Republica' enalteceu as competências do cardeal do Funchal, que se destaca pelo "forte perfil cultural e capacidade de atingir um vasto público."
Apesar de a idade – Tolentino tem 59 anos de idade – ser visto como um entrave à eleição, pelo facto de as escolhas recaírem habitualmente sobre homens mais velhos – o português é visto como um ar de frescura no Vaticano, com ideias muito idênticas às de Francisco. "Sinto que a igreja precisa de crescer muito na linha do que diz o Papa Francisco numa cultura de acolhimento, há muitas pessoas que se sentem excluídas da Igreja, que não se sentem acompanhadas e toda a gente tem direito a isso. A própria igreja e o espaço cristão precisam de encontrar um outro discurso e atitude em relação às pessoas homossexuais, tem de ter um olhar de acolhimento. Os homossexuais são nossos filhos, irmãos, colegas, companheiros. Todos juntos temos de fazer um caminho", já fez saber.
Entre as principais casas de apostas, o grande favorito é o italiano Pietro Parolin. De acordo com vários especialistas em assuntos de Igreja Católica, aquele que era o número dois do Papa Francisco ou vice-Papa, agrada tanto a conservadores como a progressistas por ter uma chamada linha intermédia, não tão vanguardista como a do Argentino, mas que também não significaria um retrocesso nos avanços conseguidos pela instituição.
Mas entre as principais casas de apostas, há a grande convicção de que o novo Papa virá de fora da Europa. Numa das principais casas, a Polymarket, surge em segundo lugar Luis Antonio Tagle, nascido em 1957, nas Filipinas, sendo o atual cardeal-arcebispo de Manila. Foi presidente da Caritas Internacional e é conhecido por ser um acérrimo defensor dos Direitos Humanos e, além disso, era apontado como um dos favoritos do próprio Papa Francisco.
Por fim, em terceiro lugar, todos considerariam que seria um marco na Igreja Católica que se elegesse um Papa africano. Natural do Gana, Peter Turkson é visto como uma lufada de ar fresco no Vaticano, ainda que o próprio esteja reticente em relação ao cargo pela pressão que o marco representaria para si. Nascido no seio de uma família humilde, de dez irmãos, foi o primeiro membro do Gana a tornar-se Cardeal e é mais um a juntar-se ao rol dos que defendem o progresso e integração no seio da Igreja.