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Mundo

A cambalhota que mudou a vida de Jenner, o melhor atleta do mundo que agora quer governar a Califórnia como mulher

A 30 de julho de 1976, em Montreal, conquistou o ouro na modalidade mais difícil dos Jogos Olímpicos, o decatlo. Tornou-se no maior atleta do mundo até revelar ao mundo que afinal sempre se sentiu uma mulher. Passou a chamar-se Caitlyn e agora quer seguir os passos de Arnold Schwarzenegger.
Rui Teixeira
Rui Teixeira
29 de julho de 2021 às 23:53
Bruce Jenner nos Jogos Olímpicos de 1976
Bruce Jenner nos Jogos Olímpicos de 1976
Bruce Jenner nos Jogos Olímpicos de 1976
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Bruce Jenner nos Jogos Olímpicos de 1976
Caitlyn Jenner
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Bruce Jenner
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Bruce Jenner
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Bruce Jenner
Bruce Jenner nos Jogos Olímpicos de 1976
Bruce Jenner nos Jogos Olímpicos de 1976
Bruce Jenner nos Jogos Olímpicos de 1976
Bruce Jenner nos Jogos Olímpicos de 1976
Bruce Jenner nos Jogos Olímpicos de 1976
Bruce Jenner nos Jogos Olímpicos de 1976
Bruce Jenner nos Jogos Olímpicos de 1976
Caitlyn Jenner
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Bruce Jenner
Bruce Jenner
Bruce Jenner
Bruce Jenner
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Estamos em julho de 1976. Há precisamente 45 anos. Com o dorsal 935, o atleta Bruce Jenner, da equipa dos Estados Unidos da América, mostra-se imparável nos Jogos Olímpicos de Montreal, na modalidade mais difícil de todas: o decatlo - tão exigente que só existe no setor masculino (as mulheres disputam o heptatlo). Para conquistar o ouro, o jovem musculado de 26 anos tem de, em dois dias, ser o melhor no 100 metros, salto em comprimento, lançamento do peso, salto em altura, 400 metros; 110 metros barreiras, lançamento do disco, salto à vara, lançamento do dardo e finalmente os 1500 metros.

Depois de estabelecer recordes mundiais nas primeiras cinco disciplinas, Bruce é o grande favorito à vitória final. Mas tem concorrência à altura para o segundo dia de competição, vinda do ouro olímpico de quatro anos antes, os trágicos JO de Munique, o soviético Nikolai Avilov.

A guerra fria joga-se também na pista de tartan do estádio Olímpico de Montreal. Bruce tenta cumprir o objetivo a que se propôs na anterior olimpíada, quando terminou em décimo. Voltamos à ação em 1976: Nos 1500m, à entrada para a última volta, Bruce sprinta como um cavalo selvagem à solta na pradaria, abanando a cabeça de lado para lado, com os músculos do tronco a quererem saltar fora da vermelha t-shirt de alças. Termina em segundo, mas consegue a medalha de ouro no somatório da provas.

O MELHOR ATLETA DO MUNDO

No Jogos Olímpicos onde a romena Nadia Comaneci, de apenas 14 anos, foi a primeira a receber a nota perfeita de 10 em barras assimétricas, Bruce não lhe ficou atrás em notoriedade. Foi considerado o maior atleta do mundo. E correu ali o seu último decatlo, a apoteose de virilidade masculina.

A sua missão desportiva estava cumprida. Agora havia outras lutas para travar, mas que demorariam décadas até serem vencidas. Bruce afinal, desde os 10 anos, quando usava os vestidos da mãe às escondidas, sentia-se uma mulher presa num corpo de adónis.

QUANDO ELE VIROU ELA

Em abril de 2015, Bruce Jenner morreu. Ou melhor, o nome deixou de existir. O antigo atleta entregou a medalha de ouro ao Comité Olímpico e assumiu-se como transgénero. Uma mulher de nome Catilyn Marie Jenner.

Tal como em 1976, o mundo voltou a girar à volta de Jenner, agora Catlyn. A onda de choque teve impacto em todos os continentes. Mas começou pela última ex-mulher, Kris Kardashian (1991/2013), os enteados Kourtney, Kim, Khloé e Robert Kardashian e as filhas Kendall e Kylie Jenner. Já para não falar nas duas outras ex-mulheres - Chrystie Scott (1972/81) e Linda Thompson (81/86) – e os filhos destas: Burt Jenner e Casandra Marino; Brandon Jenner e Sam Brody Jenner.

Dois meses depois da revelação, e após ter sido estrela no reality Keeping Up with the Kardashians, Caitlyn estreou o seu próprio reality doc, 'I Am Cait' (Eu Sou a Cait), onde mostrou toda a sua história e fez contas com passado, nomeadamente com a fase em que mergulhou numa depressão e abandonou os filhos, a quem pediu desculpa e foi desculpado. A série teve boas críticas e Caitlyn tornou-se embaixadora global do movimento transgénero. Em 2017 publicou The Secrets of My Life (Os Segredos da Minha Vida), livro autobiográfico que conta todas estas e muitas outras histórias da sua travessia.

NOVA VIDA AOS 71 ANOS

E quando se pensava que Caitlyn estava em paz consigo e os seus fantasmas, ela mostra que está cheia de vitalidade aos 71 anos e determinada em continuar a agitar às águas. Chegamos ao presente. Em abril deste ano, sem ninguém esperar, a ativista e empresária anunciou que vai candidatar-se ao cargo de governador do estado da Califórnia. Tal como Arnold Schwarzenegger fez entre 2004 e 2011 e igualmente através do partido Republicano (embora não o tenha mencionado).

"Estou dentro! Vale a pena lutar pela Califórnia. Sou uma vencedora comprovada e a única outsider que pode colocar fim à desastrosa era de Gavin Newsom [Democrata] como governador", escreveu Jenner nas redes sociais.

A tarefa de Caitlyn não é fácil. Por duas razões: já não há tantos republicanos no estado da Califórnia como há 20 anos (os democratas são o dobro) e os próprios conservadores republicanos estão divididos quanto ao que fazer em relação a Jenner, uma mulher que já foi homem e uma crítica de Donald Trump [depois de inicialmente o apoiar]. Para que se perceba bem, numa recente conferência do partido um delegado chamou repetidamente Jenner de 'Bruce' e publicou depois um vídeo no Twitter chamando-a de 'sick freak' [uma espécie de aberração].

Jenner contrapôs de forma tão elegante como os vestidos caríssimos que usa: "Penso que é importante o partido Republicano ter a oportunidade de expandir as suas bases e eu espero fazer parte desse processo."

REPUBLICANOS DIVIDOS

Curiosamente, Caitlyn não reuniu ainda nenhum apoio oficial das associações LGBT para as eleições de 14 de setembro e algumas mesmo estão contra. Tudo por causa do partido e das leis anti-transgénero que este defende. E até Caytlyn, numa das suas raras intervenções defendeu que os trans "não devem" competir com outras raparigas. "É uma questão de justiça. É por isso que me oponho aos rapazes biológicos que são trans a competirem em desportos com raparigas, na escola. Simplesmente não é justo". E pronto, estalou o verniz agora aos liberais.

Foram precisos 77 dias desde o anúncio até que Caitlyn realizasse a sua primeira conferência de imprensa. E não durou mais do que 15 minutos. Fez uma curta declaração de 2 minutos - onde se queixou dos altos impostos na Califórnia e na falta de água -  e respondeu telegraficamente a 10 perguntas.

O interesse pela sua quase inexistente campanha - Jenner diz que vai andar mais ativa em agosto - tem -se desvanecido, mas isso não diminui a sua querença. "Para ser honesta convosco, já ganhei muitas corridas na vida e sei que vou ganhar esta também. Vou simplesmente trabalhar no duro."

E se a história nos ensinou algo é que Jenner, seja Bruce ou Caitlyn, não desiste até cruzar a linha de meta.

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