
2023 vai ser o ano que vai ficar marcado pelo regresso de duas boysband portuguesas. Os D'ZRT e os Excesso. Ambas a preparar espetáculos que vão fazer os seus fãs recordar a sua adolescência, sonhar novamente com uma vida mais fácil, quase cor de rosa, sem dramas e sem contas para pagar.
Vai ser um apelo ao revivalismo... a que os portugueses, de resto, aderiram em massa. Os D'ZRT com 12 concertos já totalmente esgotados em Lisboa, Guimarães, Porto, Elvas, Madeira e Algarve (entre 29 de Abril e 19 de Agosto) e os Excesso com dois espectáculosos também completos a 19 de Maio no Altice Arena e a 17 de Junho no Super Bock Arena no Porto.
Assim Portugal entra finalmente, depois de muitos anos de espera, na corrida para estes regressos tão amados pelos fãs. Porque lá fora... isto tornou-se o habitual. E ninguém tirou partido deste filão tão bem como os ingleses. Desde 2005 que vários grupos voltaram à vida depois de espetáculos revivalistas. Os primeiros foram os Take That. Depois, de em 1996 terem anunciado o fim da boys band Gary Barlow, Howard Donald, Mark Owen Jason Orange e (ainda Robbie Williams) anunciavam o regresso aos palcos. Primeiro com 'The Ultimate Tour' Depois com uma série de novos discos que os tornaram talvez ainda mais populares que nos anos 90. Um documentário intitulado 'Take That For the Record', cimentaria ainda mais este regresso.
Em mais de 100 minutos a banda falava da sua estreia, dos momentos altos, das primeiras discussões, dos excessos loucos, dos concertos, dos bastidores da banda. Mostravam ainda pequenas amostras da vida após terem deixado os Take That e o que os havia levado a voltarem a estar juntos. O sucesso tremendo de Robbie Williams juntar-se-ia ao grupo em 2011 a quando do lançamento do aclamado 'Progress', o disco mais vendido de sempre no Reino Unido.
Foi o início de uma série de revivalismos. As Spice Girls fizeram-no em 2007, os New Kids on the Block em 2008, seguiram-se os Steps, também com um documentário muito aplaudido em 2011 (que pode ser visto na totalidade YouTube, mas sem legendas)... para se abrir uma catarata de outros regressos que culminaram mais recentemente com os Jonas Brothers, em 2019. Para recordar, algumas reuniões de bandas entre 1997 e 2005 basta andar pelo YouTube para ver partes do documentário 'The Big Reunion', do canal ITV, que uniu várias bandas.
UMA AGENDA BRUTAL
E agora chega a vez de Portugal. Para já sem documentários sumarentos.
Mas isso não tira a curiosidade do público, que além de querer ver os seus ídolos da adolescência se interroga... sobre o que é que lhes aconteceu. E se com os D'ZRT a janela e a porta estão mais ou menos escancaradas, com os três membros sobreviventes (Cifrão, Vintém e Edmundo) a falarem abertamente de tudo, inclusive da perda trágica de Angélico Vieira em 2011, sobre os Excesso há alguma névoa que só agora se começa ser perfurada pelo sol.
Duck, Melão, Carlos, João Portugal e Gonzo têm dado ao longos dos anos muitas entrevistas sobe o período de ouro da banda, entre 1997 e 1999, mas poucas vezes falaram sobre a implosão da banda de 'Eu Sou Aquele'. E mesmo agora, que a reunião dos cinco é já um facto, continua a pairar algum mistério sobre o que provocou o fim dos Excesso. Talvez porque atualmente estão todos mais concentrados em estarem em perfeita forma física, sintonia e sincronia para os concertos finais (pelo menos assim é divulgado)... que acontecem 25 anos depois da banda ter nascido.
A agenda tem sido "brutal" como nos contou Melão."Está a ser de doidos", começa por dizer à FLASH! "A ver que hoje todos temos vidas organizadas, cada um tem outro trabalho, alguns em pontos do globo bem diferentes, e juntar cinco agendas é de loucos. Tramado mesmo. É uma ginástica maluca. Por isso tentamos conciliar o máximo de coisas possíveis nos dias que estamos todos em Lisboa: entrevistas, ensaios vocais, de luzes, coreografias, conteúdos digitais, produções fotográficas. É literalmente das nove da manhã às nove da noite", conta o cantor que está muito entusiasmado com estes concertos. "Vamos dar mesmo tudo. Estamos atentos a todos os detalhes. Os concertos vão ser tudo o que possa passar pela cabeça de uma pessoa que pode ver num espectáculo... quando chegar o dia do concerto é só espreitar no Altice Arena", jura Melão.
A isto junta-se a preparação física, porque afinal os Excesso já têm pouco de miúdos. "Pois é... já temos quase 30" diz a rir. "Tá tudo cheio de ideias e energia. E não estamos mal... E eu acho que sou o que estou mais preparado fisicamente", continua com uma gargalhada bem disposta. Certo é que o cantor não cabe em si de contente. É que esta reunião já teve para acontecer diversas vezes. Duck foi o que tentou isto "desde o início", contou ele esta quarta- feira a Júlia Pinheiro. A primeira abordagem foi em 2008. Saiu furada. Depois em 2015. E 2020... acabou por cair por terra "devido à Covid", dizia. "E desta vez ninguém arredou pé" assegura-nos Melão. " O João (Portugal) acho que era o que estava mais reticente mas depois até ele alinhou e cá estamos"
Nos ensaios as coisas, segundo Melão tem corrido às mil maravilhas. "A química entre nós está lá", assegura. "Agora é só esperarem para ver", deixa no ar.
AS RAZÕES DA INFAME SEPARAÇÃO
Mas com tanta química, e com uma amizade que hoje parece inabalável, o que é que levou na véspera de entrarem no ano 2000, a que os Excesso implodissem? Teorias há muitas. E quase todas ditam uma zanga entre Carlos e João Portugal. Contudo, Melão assegura que isso são apenas teorias da conspiração. "O que levou ao fim dos Excesso foi o trabalho em excesso", garante ele.
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"Era a loucura. Juro", conta o cantor à FLASH!. " Era tudo muito giro, mas desde o momento em que começámos a vender discos que a coisa virou uma loucura. Não se parava. O ano tinha 365 dias e nós tínhamos por ano 400 espetáculos, fora entrevistas, presença em discotecas, e tudo e mais alguma coisa. O cansaço acumulou-se de tal maneira... não dava. Chegámos a ter que negociar horas de sono. Era impossível continuar. Era um ritmo alucinante..." revela-nos
Contudo, não nega terem havido zangas entre os cinco. "Claro. Mas onde é que não há? Claro que houve desacordos mas nada de grave".
No entanto, a Daniel Oliveira, no 'Alta Definição', não pintou algo tão simples. "Fomos nós que matámos o projeto estupidamente. Um porque queria o protagonismo, o outro porque tinha inveja, o outro porque queria cantar mais, outro porque queria ser o mais boneco", recordou Melão sobre o fim da banda. "Infelizmente acabou como acabou, na altura em que acabou. Não foi a altura certa. Aquilo poderia ter durado anos e anos. E depois houve o excesso de trabalho. Fomos levados ao nosso limite. Hoje quando olhamos para trás vimos que fomos todos burros. Deviamosos ter tido muito mais descernimento. Não tivemos. Éramos uns miúdos"
De resto a implosão da banda em 1999 estava mais que traçada. Segundo reza a história, os dramas estavam a acumular-se há algum tempo. Apesar de todos terem garantido, já em público, que foram anos "de pura diversão e algum excesso", como confirmo Gonzo a Júlia Pinheiro, não faltaram outros problemas a uma banda que diariamente era puxada em mil sentidos diferentes.
A isso tudo juntou-se o rumor que João Portugal ia sair da banda para um projeto a solo - que, de facto, aconteceu em 2000 com o super bem sucedido álbum 'Luz'. E a loucura, e o trabalho excessivo acabaram por, na véspera de ano novo, destruir os Excesso que meses antes já tinham perdido Carlos... como revelou Gonzo recentemente noutra entrevista. "Ele era a pessoa mais diferente de nós todos, ele era o elo de ligação, a pessoa mais reservada, menos maluca. Isso fazia-o sentir-se isolado em certos aspetos", recordou Gonzo sobre a saída do colega, primeiro para o projeto a solo e depois para os Hexa... que também não obtiveram o sucesso que ambicionavam. "Também houve algumas discussões que fizeram com que algumas coisas se fossem deteriorando e as coisas acabaram."
Contudo todos juram que os atritos físicos foram... mínimos. "Nunca houve mocada. No máximo uns empurrões", contou Gonzo a Júlia Pinheiro. Melão completou. "Era difícil gerir tantos egos."
Seja como for, os dramas estão mais que ultrapassados. E hoje os cinco preparam aquilo que todos apelidam de espetáculo "sem igual" onde os fãs vão poder cantar, dançar e rever Melão, Gonzo, João Portugal, Carlos e Duck... antes destes darem um adeus definitivo...
Mas será assim mesmo? Melão ri-se. "Não está nada nos planos. Tanto que eramos para fazer apenas um espetáculo, mas a malta do Norte fez tanta força que acabámos por fazer dois. Para já é isto: é uma reunião queremos que todos venham espreitar. Juro que não se vão arrepender. Estamos mesmo a trabalhar para 25 anos depois darmos aquele concerto de despedida que as pessoas realmente merecem"