
É precisamente três anos depois de se ter concretizado a maior e mais polémica transferência na televisão portuguesa que o caso vai a tribunal. Está marcado para dia 21 de junho, no Tribunal de Sintra, o frente a frente que vai opor a SIC a Cristina Ferreira, processo no qual a estação exige mais de 20 milhões de euros à apresentadora.
E a três meses do grande embate, os nervos começam a apertar, até porque, finalmente, em sede própria, as duas partes vão poder contar toda a verdade, em versões que não irão coincidir.
E isso é parte do que preocupa a apresentadora, diretora e acionista da TVI. Numa fase em que o julgamento se aproxima a passos largos, a estrela já não esconde, aos mais próximos, o receio da versão que os antigos patrões poderão apresentar, ainda que isso não a desvie um milímetro da sua estratégia minuciosamente preparada ao longo dos últimos anos. Para Cristina, a derrota não é uma hipótese e, como tal, tem preparado ao pormenor toda a sua defesa, assente nas várias razões que a fizeram rasgar o contrato milionária que a ligava ao canal de Paço de Arcos para assinar pela concorrência. Mas do outro lado há números, as quebras publicitárias, um acordo assinado que Cristina não cumpriu pelo que os responsáveis da SIC se mostram confiantes na vitória.
Já para Cristina Ferreira esse cenário é impensável. Pretende fazer ver ao juiz responsável pelo caso como a SIC também não cumpriu esse contrato em vários pontos-chave. Ora vejamos, quando assinou pelo canal, ficou estipulado que Cristina não iria ser apenas apresentadora, mas que também teria uma palavra a dizer nas decisões relativas entretenimento do canal, através de um cargo de consultora, pelo qual recebia mais sete mil euros mensais a juntar ao ordenado. O que a estrela irá demonstrar é que qual nunca aconteceu e que foi, dia após dia, deliberadamente impedida de exercer as funções para as quais também tinha sido contratada.
Mas este não é o único ponto que estará em cima da mesa. Ao seu jeito habitual, Cristina Ferreira prepara-se para mostrar-se sem capas em tribunal e revelar o seu lado humilde que chocou de frente com os responsáveis da SIC, canal em que, irá afirmar, terá sido vítima de preconceito e atitudes machistas, onde alegadamente não lhe terão delegado poder precisamente por ser mulher e por uma convicção de que "a saloia da Malveira" não era talhada para outro tipo de cargos ou programas, como algumas ideias que terá apresentado e que nunca saíram da gaveta.
Por fim, há ainda o facto de ter sido precisamente na SIC que Cristina enfrentou alguns problemas de saúde derivados do stresse vivido em Paço de Arcos. E, por fim, a tentativa de "linchamento público" de que acredita ter sido alvo desde que abandonou o canal. A aposta, no fundo, será num relato honesto, sem filtros, em que a apresentadora espera convencer o juiz de que, na altura, tinha razões mais do que válias para 'rasgar' o vínculo que a unia à estação de Francisco Pinto Balsemão.
AS QUEBRAS PUBLICITÁRIAS
Esta será, sensivelmente, a versão que Cristina irá apresentar em tribunal, mas o discurso da SIC será muito mais 'frio e calculista', assente pura e simplesmente em números. Em factos. Primeiro, há um contrato que a apresentadora não honrou e que foi assinado por ambas as partes, com muitas alíneas, é um facto, mas que nenhuma previa a saída abrupta da estrela de um dia para o outro.
E, por outro lado, há as quebras publicitárias, os anunciantes a ressentirem-se imediatamente após a saída de Cristina, muitos deles que só se tinham vinculado precisamente à imagem da apresentadora. Isso e a natural quebra de audiências nos primeiros tempos. A crise e o cenário de devastação na estação que a estrela deixou após a sua saída vão ser os pontos chave numa guerra que se prevê tensa e com relatos fortes em tribunal.