
O rei Juan Carlos e a rainha Sofia estão separados desde 2020, quando o pai de Felipe VI exilou-se em Abu Dhabi, mas, por mais que pareçam confortáveis com a distância, têm sido desafiados nos últimos meses a recordar os primeiros anos de casamento. Esta quinta-feira, 1 de junho, o cenário repetiu-se e eles estiveram mais próximos que nunca num dos locais onde foram mais felizes.
Os pais de Felipe VI reencontraram-se pela primeira vez em setembro do ano passado em Londres, a mesma cidade onde se apaixonaram há 62 anos, para assistir ao funeral da rainha Isabel II. Quatro meses depois voltaram a estar frente-a-frente em Atenas, a cidade onde casaram há 61 anos, no funeral de Constantino II, último rei da Grécia, irmão da rainha Sofia. Depois da cidade onde se apaixonaram e daquela onde casaram, Juan Carlos e Sofia estiveram em Amã esta quinta-feira, uma das primeiras paragens que fizeram como recém-casados na lua-de-mel, precisamente na primavera de 1962.
Felipe VI e a rainha Letizia dispensaram o convite de casamento do príncipe herdeiro da Jordânia, Hussein, com a arquiteta Rajwa Al Saif, para enviar os reis eméritos em representação de Espanha. E assim Juan Carlos regressou ao local que o recebeu com honras de Estado quando ele ainda não tinha nem reino nem trono, nem sequer era príncipe das Astúrias, e fez uma das amizades mais fortes da sua vida, com o já falecido rei Hussein da Jordânia, avô do agora recém-casado príncipe Hussein.
A relação do ex-monarca espanhol com o ex-monarca jordano era de "irmãos", como disseram várias vezes. Juan Carlos não media esforços para apoiar o amigo, fosse nas questões da política internacional da Jordânia, ao longo de crises económicas ou mesmo nos momentos mais dramáticos e pessoais, como quando o então rei Hussein perdeu a terceira mulher, a rainha Alia (mãe da princesa Haya do Dubai), num acidente de helicóptero, em 1977.
O ex-rei Hussein também recebeu de braços abertos Sofia, a princesa grega que levou Juan Carlos a pensar em casamento. Segundo o 'El Pais', ela era "majestade, irmã" para o rei jordano, tal como o amigo espanhol era "majestade, irmão", como disse num discurso num jantar em 1977. Desde os primeiros dias do casamento de Juan Carlos e Sofia, o amigo Hussein mostrou o seu apoio ao casal que ainda não tinha trono.
A admiração de Juan Carlos não é difícil de perceber, Hussein era só três anos mais velho do que Juan Carlos e era rei há uma década quando conheceu o jovem, em 1962. Hussein acompanhou de perto todo o percurso do príncipe espanhol, desde ser nomeado Príncipe da Espanha por Franco em 1969, até ser proclamado rei em novembro de 1975, seguindo ainda os desafios dos anos seguintes.
Os dois amigos também trocaram presentes como só as famílias reais sabem fazer. Em 1989, Hussein I deu a Juan Carlos a residência real La Mareta, em Lanzarote, onde a mãe do ex-rei espanhol morreu 11 anos depois; em 1995, o então príncipe Filipe atribuiu o Prémio Príncipe das Astúrias ao amigo do pai, de acordo com o 'La Vanguardia'.
Quando Hussein I casou pela quarta, e última vez, um ano depois de ter ficado viúvo, a rainha Sofia foi um dos maiores apoios de Noor, a nova rainha da Jordânia, uma arquiteta natural de Washington que se converteu ao islamismo. Segundo a imprensa espanhola, Noor encontrou conforto no palácio de Marivent, em Palma de Maiorca, no verão de 1999, após a morte de Hussein I, vítima de um cancro linfático. A amizade das duas rainhas se mantém até hoje e continua a influenciar a família real espanhola. Noor é presidente do grupo United World Colleges (UWC), que detém o colégio no País de Gales para onde Felipe VI e Letizia decidiram enviar as filhas, Leonor e Sofia, nestes últimos anos de ensino secundário.
JUAN CARLOS E SOFIA: DEPOIS DA SEPARAÇÃO, NEGOCIAÇÕES EM CURSO?
Não é de estranhar que Felipe VI sinta-se à vontade para enviar os pais ao casamento do príncipe herdeiro da Jordânia, Hussein, de 29 anos, filho da rainha Rania e do rei Abdullah II. Os laços dos reis eméritos com aquela família real e com aquele país poderão ser o cenário ideal para um acordo entre Juan Carlos e a rainha Sofia.
Após quase três anos de exílio em Abu Dhabi, Juan Carlos está mais perto do que nunca de regressar a Madrid. Diante dos vários pedidos do pai, Felipe VI terá pedido a Juan Carlos que esperasse uma mudança de governo espanhol - mais favorável ao seu regresso, noticiou esta semana o 'El Nacional'. E os resultados das eleições regionais e municipais em Espanha, do último domingo, em que o PSOE foi o grande derrotado, podem acabar por beneficiar os planos do rei emérito.
O presidente do Governo, Pedro Sánchez, antecipou as eleições gerais para 23 de julho e, se perder o espaço que tem hoje, Juan Carlos já não terá impedimento político para regressar a Espanha. Os partidos de direita não se importam com os escândalos do rei emérito, nem com as investigações por alegada corrupção, e não deverão criar empecilhos ao regresso do pai de Felipe VI.
Além disso, outra data importante aproxima-se: em outubro, a herdeira do trono espanhol, Leonor, vai celebrar 18 anos e fazer o juramento ao rei e à Constituição, uma cerimónia que Juan Carlos não deverá querer perder depois de ter sido exlcuído recentemente da gradução da neta.