
Numa das ruas mais típicas de Alfama há um azulejo pintado à mão, onde se pode ler: "Quando o fado era cantado/ pelas tabernas de Alfama/ Ninguém diria que o fado/ viria a ter tanta fama". Mas tem... e pelo menos uma vez por ano, ele toma, legitimamente, conta daquele que é o mais antigo e um dos típicos bairros de Lisboa. O mesmo é dizer que o festival Santa Casa Alfama está de regresso ao coração da cidade, esta sexta e sábado. Durante dois dias, igrejas, ruas, largos, becos, janelas ou sociedades recreativas transformam-se em palcos, fazendo soar algumas das melhores vozes da canção de Lisboa. À semelhança dos anos anteriores, o evento volta a reunir o passado, o presente e o futuro do fado.
Se é verdade que, no início, o festival Santa Casa Alfama até causou algum ceticismo junto dos moradores do bairro pela confusão que poderia trazer à pacatez quotidiana, a verdade é que hoje o evento já faz parte da vida de todos. Caracterizado por ser uma espécie de festival volante (na sua génese foi inspirado no Mexfest que decorria na Av. da Liberdade), o evento volta a proporcionar uma série de concertos em simultâneo, sendo que o mais difícil é mesmo escolher. Então tome lá notas.
DESTAQUES DO PROGRAMA
SEXTA:
No primeiro dia de Festival (sexta-feira) o Palco Santa Casa (palco principal) recebe a juventude de Beatriz Felício e a veterania de Camané, mas o grande destaque vai para o espetáculo de homenagem a Hermínia Silva, com as vozes de FF, Lenita Gentil, Anabela e Filipa Cardoso.
No Centro Cultural Dr. Magalhães Lima cantam Pedro Moutinho e Teresinha Landeiro.
Já no Rooftop do Terminal de Cruzeiros de Lisboa há ‘Fado ao pôr-do-sol’ com a recriação do ambiente de uma casa de Fados, neste caso da ‘Mesa dos Frades’, com a atuação de Ana Sofia Varela, Rodrigo Rebelo de Andrade e Tânia Oleiro.
SÁBADO:
No sábado, o Palco Santa Casa começa por receber o jovem fadista Miguel Moura, na mesma noite em que se ouvirão a vozes de Teresa Salgueiro (essa mesmo, a eterna cantora dos Madredeus) e Sara Correia, aquela que é o grande nome do fado da atualidade.
No Palco Caixa atuam Lenita Gentil e Edu Miranda com o seu "Fado no Chorinho". Enquanto no Rooftop do Terminal de Cruzeiros, o público é convidado a entrar "Em Casa d'Amália" com o anfitrião José Gonçalez que recebe um grupo de músicos e fadistas que dispensam apresentações: Raquel Tavares, Jorge Fernando, Vânia Duarte, Ângelo Freire e Flávio Cardoso Júnior.
Ao longo do festival, não esquecer também o ‘Fado à janela’ no Largo de São Miguel. Os músicos Jorge Silva, Miguel Monteiro e José Manuel Rodrigues terão nas suas mãos uma guitarra portuguesa, uma viola e um baixo, respetivamente, para encher de Fado as ruas e ruelas de Alfama.
Mas durante os dois dias haverá muito mais Fado em lugares como o Palco Bogani no Grupo Sportivo Adicense, a Igreja de São Miguel e a Igreja de Santo Estevão, o Palco Amália no Auditório Abreu Advogados, o novo palco no Hotel Memmo Alfama, a esplanada do Museu do Fado, o Palco Santa Casa Futuro na Sociedade Boa União ou o Palco Santa Maria Maior no Largo do Chafariz de Dentro.
CASAS DE FADO E GASTRONOMIA
Na edição deste ano do festival , as casas de Fado do bairro são chamadas a participar de forma mais ativa, protagonizando a abertura do Palco Santa Maria Maior. Serão oito as casas de Fado envolvidas, sorteadas pela Associação de Comerciantes do Bairro de Alfama, quatro em cada dia do Festival com o elenco de dois músicos e um fadista.
Sexta-feira, o público ficará a conhecer um pouco melhor o trabalho de espaços como As Lucindas, São Miguel d'Alfama, Esquina de Alfama e A Fama de Alfama enquanto no sábado é a vez de apresentar Alfama Grill, Tasca do Jaime, Bohemia Lx Sé e Tasquinha Canto do Fado. O público vai poder ouvir as vozes de Jéssica Crispim, Carolina Gomes, Cristina Madeira, Joana Amendoeira, Henriqueta Baptista, João Soeiro, Tina Santos e Luís Carlos. Falta dizer que durante o Festival, cada espaço participante terá, ainda, um menu dedicado ao Santa Casa Alfama.
O FESTIVAL DA INCLUSÃO
Ao segundo ano de trabalho pela inclusão da comunidade Surda, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa volta a inovar através do Santa Casa Alfama: além de interpretação em Língua Gestual Portuguesa, no Palco Santa Casa, a equipa de interpretação terá duas pessoas Surdas nativas para interpretarem alguns fados e fazerem representar a sua comunidade. Também será o primeiro festival de música a implementar coletes de vibração sensorial para que o público surdo sinta o ritmo da música.