O coração de ouro de Diogo Jota: dos presentes de casamento doados às chuteiras e alimentos que entregava a jovens carenciados
Em miúdo, passou por dificuldades e nunca esqueceu o quão difícil pode ser seguir um sonho quando não se tem condições financeiras. Sem a publicidade do Instagram, continuou a ajudar, sempre na sombra, os jovens dos clubes por onde passou e no dia do seu casamento teve o último gesto nobre.Diogo Jota cresceu nas dificuldades e sempre teve bem presente o esforço que os pais ergueram para que ele e o irmão se tornassem futebolistas. Trabalhadores fabris, esticavam os ordenados para garantirem que havia sempre chuteiras e o jogador sempre honrou esse esforço, empenhando-se em campo. Quem conhecia o craque do Liverpool - que faleceu no passado dia 3 de julho num fatídico acidente de automóvel - admite que Diogo nunca se deslumbrou com os milhões, tendo sempre presente o sítio de onde veio.
Usava-os, sim, para viajar, dar conforto à família e para alguns luxos, mas também para ajudar jovens que, tal como ele, sonhavam com o futebol, mas não tinham as devidas condições. Sabe-se agora que o craque enviava chuteiras, fatos de treino e garantia alimentação aos rapazes mais necessitados do lar do Paços de Ferreira, numa solidariedade que dispensava publicidade e posts nas redes sociais porque Diogo fazia-o na sombra.
Mais do que isso, manteve sempre contacto com as pessoas que o ajudaram nos antigos clubes e, volta e meia, brindava-as com gestos especiais, como aconteceu com a cozinheira do lar do Paços de Ferreira, que convidou para o seu casamento. "Foi para Inglaterra e, passados tantos anos, podia ter-se esquecido de tudo o que viveu aqui, mas não, nunca se esqueceu de mim. Convidou-me para o casamento e sentou-me junto dos familiares dele. Houve um episódio que me tocou muito. Estávamos todos à mesa e, quando acabou uma dança, passou por mim, agarrou-me na cabeça, deu-me um beijo e foi sentar-se no lugar dele”, contou ao JN Teresa Barbosa.
No casamento, aliás, não quis presentes, não fazia sentido, já tinha tanto. No convite, estava expresso que o que lhe quisessem oferecer devia ser transformando em donativos para os Bombeiros de Gondomar ou então para associações de apoio a animais abandonados, uma das suas grandes paixões. A par da família numerosa com três filhos, o jogador e Rute tinham ainda três da raça Beagle, que faziam parte do clã.
"Ele vivia com dificuldades, quando estava no lar (em Paços de Ferreira) e sabia bem o que era essencial, por isso é que a dimensão humana dele é enorme”, completou ao JN Manuel Sousa, que na altura trabalhava como olheiro no Paços de Ferreira.