A nora da polémica. Qual é a ligação entre a mãe do caso das gémeas e Juliana, a mulher do filho de Marcelo Rebelo de Sousa
O nome Juliana Vilela Drummond, a nora de Marcelo Rebelo de Sousa, continua a fazer na comissão de inquérito sobre o caso das gémeas que receberam o medicamento de 4 milhões de euros.
A comissão de inquérito que investiga a alegada influência do filho do Presidente da República, Nuno Rebelo de Sousa, no caso da administração do medicamento mais caro do mundo às gémeas Maitê e Lorena, de 5 anos, voltou a levantar um nome esta quarta-feira, 3, o da nora de Marcelo Rebelo de Sousa, Juliana Vilela Drummond. Desde que o caso veio a público a suposta relação de Juliana com a mãe das gémeas, Daniela Martins, tem sido questionada. É que Daniela foi apanhada num áudio em que dizia ter acionado "o pistolão" para tentar ajudar as filhas a receber o medicamento zolgensma. Questionada no mês passado sobre o quem era o "pistolão", a mãe das gémeas explicou à comissão: "Numa conversa, supostamente informal, vangloriei-me e afirmei ter havido uma rede de influências em que os médicos começaram a receber ordens de cima. Sobre isso, só posso pedir imensa desculpa a toda a gente de Portugal. Fui parva, errei, e errei porque disse algo que não era verdade por vaidade naquele momento".
No entanto, há outros pontos que ficaram sem explicação de Daniela, como o email que saiu da sua caixa de correio eletrónico diretamente para a da nora de Marcelo Rebelo de Sousa e que devia ser encaminhado ex-secretário de Estado António Lacerda Sales.
A argumentar que tinha um grupo de familiares a "disparar" emails e mensagens para vários contatos durante uma campanha de angariação de fundos, em 2019, Daniela declarou que não se lembra de nenhum email para Juliana e não sabe do que se trata o agradecimento ao ex-secretário de Estado António Lacerda Sales, tal como a FLASH/The Mag já tinha noticiado.
O email de dezembro de 2019 começava assim: "Bom Dia, Dr. António Sales". E prosseguia: "Gostaria de agradecer toda a atenção que vem sendo dada às minhas filhas".
"Eu não tenho conhecimento desse ‘mail’", respondeu Daniela Martins na comissão. "Não tenho conhecimento desse ‘mail’ a Juliana Vilela Drummond. Os pedidos eram direcionados a várias pessoas e não havia forma de saber. Os meus pedidos [de ajuda] foram feitos por grupos no WhatsApp de pessoas que me ajudavam a disparar. Não posso garantir que fui eu a escrever. Tinha diversas pessoas que tinham acesso à minha conta", explicou.
Apesar do 'mail' que saiu da sua caixa de correio, Daniela sublinhou na comissão de inquérito que só conheceu a nora de Marcelo Rebelo de Sousa num evento num shopping de São Paulo, em 2022, dois anos depois de as filhas terem recebido o medicamento de dois milhões de euros, cada dose, e também não tinha qualquer ligação com Nuno Rebelo de Sousa. "Afirmei que conhecia a nora do Presidente da República, mas somente a conheci num evento de Natal, já depois do tratamento".
Nuno Rebelo de Sousa, por sua vez, afirmou num documento enviado ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa que "não conhece pessoalmente nem Daniela Martins, nem [o pai das meninas] Samir Filho, nem as crianças". Segundo a revista 'Sábado', o filho do Presidente disse que apenas "tomou conhecimento da doença" das gémeas quando Daniela Martins lhe enviou essa informação "por WhatsApp, através de uma conhecida em comum que sabia que exercia funções na Câmara Portuguesa de Comércio de São Paulo, juntamente com os documentos médicos das crianças e um pedido de informação sobre o médico especialista em AME em Portugal".
Nuno garantiu ainda que Daniela nunca lhe pediu ajuda "para que o fármaco fosse administrado às suas filhas em Portugal". Mas esta quarta-feira, 3, o filho de Marcelo Rebelo de Sousa invocou o direito ao silêncio na comissão de inquérito.
O caso está a ser investigado por suposto abuso de poder e tráfico de influência que custou ao SNS quatro milhões de euros pelas duas doses do medicamento. Três pessoas foram constituídas arguidas, Nuno Rebelo de Sousa, o ex-secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales, e Luís Pinheiro, ex-diretor clínico do Santa Maria.