Carlos Paião morreu há 35 anos. Viúva conta como conheceu o génio da música portuguesa e como soube da tragédia da sua morte
Carlos Paião continua a ser um dos nomes maiores da música portuguesa. O cantor e médico viveu uma intensa história de amor com a médica Zaida Cardoso.
Carlos Paião morreu há 35 anos, no dia 26 de agosto de 1985. Portugal estava ainda no rescaldo do incêndio do Chiado, que destruiu parte daquela zona histórica da Capital, quando rebentou mais uma notícia triste: a morte do médico que se tinha tornado um dos mais populares cantores e autores nacionais.
Ia a caminho de um concerto em Penalva do Castelo quando tudo aconteceu: um acidente brutal de carro. A viatura embateu num camião causando a morte de mais uma vítima, um dos técnicos da equipa de Paião também chamado Carlos - Carlos Miguel Sousa. Jorge Esteves, o outro técnico que estava no carro, sobreviveu.
A viúva do autor de 'Play Back', Zaida Cardoso, referiu no ano passado, o marido morreu pouco após o acidente, mas que o pai tentou protegê-la e não deu logo a informação por telefone, preferindo dar a notícia pessoalmente. "Naquele dia, o Carlos tinha saído de casa umas horas antes com as brincadeiras dele habituais, despedimo-nos e foi buscar os técnicos de som e luzes. Passado pouco tempo fui trabalhar. O meu pai telefonou-me a dizer que o Carlos tinha tido um acidente grave e estava em estado grave", contou Zaida em entrevista à 'Casa Feliz', da SIC.
"Não me quis dizer logo. Só quando cheguei a casa dos meus pais é que soube exatamente o que é que se tinha passado e que o Carlos tinha mesmo falecido. Eles já tinham essa notícia só que não ma quiseram dar por telefone", lembrou a médica, que exerce num centro de saúde há largos anos.
"Conhecemo-nos no dia em que ele fez 14 anos. Deu logo para ver que ele era uma rapaz muito alegre, muito brincalhão, que gostava muito de fazer partidas a todos os amigos e a partir daí começamos a conhecer-nos melhor", conta a viúva de Paião, nesta entrevista à SIC. "Casámos dois dias antes dele embarcar para a Irlanda, quando ganhou o Festival da Canção, em 1981, com 'Playback'. "Ele respirava música, transbordava música. Tudo servia para tocar", recorda. "Senti-me profundamente amada, essa recordação tenho para todo o sempre".
"Foi um golpe duríssimo. Posso dizer que foi o pior dia da minha vida até hoje", diz a médica, que garante que o Carlos Paião tinha "muitíssimo mais para dar" no que diz respeito à música. "Ficou só a pontinha do icebergue", lamenta.
"Lembro-me do Carlos todos os dias, como é óbvio", reconhece Zaida. "Por mim, nunca será esquecido", disse ainda nesta entrevista à SIC.
Sem rasto de quando começou o "mito"
Em 2018, na altura em que se falava nos 30 anos da morte de Carlos Paião, a jornalista Joana Martins, mestre em Ciências da Comunicação e autora da tese de doutoramento 'A morte na imprensa: a evolução no tratamento mediático da morte de figuras públicas', comentou que chegou a procurar informações sobre a hipótese de Carlos Paião ter sido enterrado vivo, para incluir no documento, mas não encontrou nada na imprensa.
"Não encontrei nenhuma referência sobre isso nos jornais da época. Era um mito infundado e pouco credível, mas os jornais da altura nem sequer se sentiram tentados a pegar nisso e hoje em dia de certeza que pegavam", afirmou em entrevista ao 'Sapo24'.
Para além de autora da tese, Joana Martins tem também uma relação quase familiar com o cantor, apesar da idade que tinha quando ele morreu. "Ele era amigo da minha família, era amigo de infância da minha mãe e eu recordo-me vagamente de ele ter morrido, eu tinha seis anos na altura", afirmou.
No centro do boato está a história de que quando levantaram as ossadas do cantor encontraram o caixão arranhado por dentro e os ossos revirados. Tal como a FLASH! já tinha noticiado há dois anos, Zaida Cardoso desmentiu, sublinhando que o corpo do autor de 'Playback' e 'Pó de Arroz' foi autopsiado em Lisboa.