Cristina revela-se na intimidade
Catarina Furtado ditou-lhe o futuro: “Vais ter muita sorte!”. E teve. Tudo por causa do número 13. Esta é a história da rapariga que tomava banho de alguidar, que ainda sonha casar vestida de noiva e ama o pai do filho.
Bastaram três dias para que ‘Sentir’, o livro autobiográfico da apresentadora da TVI, Cristina Ferreira, esgotasse os 15 mil exemplares publicados. Mas afinal, o que tem de tão fascinante o livro da rapariga oriunda de uma família pobre de feirantes da Malveira que um dia chegou a princesa de televisão? A FLASH! leu tudo e revela aos seus leitores as histórias e os seus episódios, contados em primeira mão pela autora.
Fique a conhecer a mulher que, aos 39 anos, ainda sonha casar de véu e grinalda, que deseja subir ao altar amparada pelo braço do pai, António; que aos 21 anos desenhava na areia da praia o nome Tiago, aquele que sonhava dar um dia ao filho que iria nascer; mas também a rapariga simples que acredita que as pessoas nos transmitem energias positivas e negativas, que são da luz ou das trevas, referindo também episódios de encontros com figuras públicas que mudaram para sempre a sua vida, como Manuel Luís Goucha, Teresa Guilherme, Júlia Pinheiro, Tony Carreira ou Catarina Furtado.
No livro ‘Sentir’ descobrimos como a família é o epicentro da sua vida, mesmo que uma parte dessa família tenha há cinco anos ficado fragmentada. "Eu sei que a imprensa não percebe como posso manter uma relação com o pai do meu filho. Há uma coisa que eu sempre soube, desde o início: uma vez família, para sempre família. Quando se ama, ama-se. Ponto. Mesmo que a vida não nos permita que seja celebrado da forma mais convencional. Estou a fazer as coisas certas. O meu filho teve a sorte de ter o pai e a mãe perfeitos", disse no programa da TVI ‘A Tarde é Sua’, citando-se a si própria no livro.
Embora quase não fale do ex-jogador de futebol António Casinhas, pai de Tiago, releva como soube sozinha que estava grávida, como escondeu esse facto da mãe Filomena, porque ainda não tinha casado, e como nas entrevistas, que deu na televisão a propósito do lançamento, confessou acreditar que sempre manteve os pés na terra: "Eu podia-me ter deslumbrado. Tenho um percurso de conquista. Podia ter virado parva", confessou, sublinhando que não está cá para enganar fãs e espetadores dos programas que apresenta. "Estou aqui cheia de verdade. Não se engana em televisão durante muito tempo. E eu levei muita pancada até chegar aqui e continuo a levar muita pancada porque estou aqui".
Senhoras e senhores, Cristina Ferreira, nua e crua, de viva voz...
Campismo, fogareiros e alguidares
"Ainda hoje gosto de camas no chão, talvez porque, com a passagem do tempo, foram sendo sinónimo de liberdade e felicidade (…) Por brincadeira, o meu filho, também já tomou, muitas vezes, banho num alguidar. Sempre que passo num parque de campismo, paro. Nem que seja para sentir o cheiro dos fogareiros."
Leu cartas de amor às escondidas
"Aquelas eram as palavras que trocavam quando a Guerra Colonial os afastou. Hoje, não imagino o meu pai a escrever. Nunca lhe vi uma manifestação romântica. Mas aí estava a prova. Demorei muito tempo até conseguir dizer à minha mãe que as tinha lido."
Os beijos na campa da avó
"Cresci a dar um beijo numa foto (da avó paterna) pregada numa lápide fria. Acompanhei a minha mãe todas as semanas ao cemitério que lhe guarda a morte."
A palmada do pai por culpa do ‘1,2,3’
"Poucas vezes vi o meu pai zangado (…) A este respeito guardo um outro episódio. Apenas sei que estava de castigo. Fiquei proibida de assistir ao ‘1,2,3’. Logo aquele programa, o do Carlos Cruz, que juntava as famílias ao serão. (…) A minha choradeira terá durado uns minutos (…) Até hoje sinto aquela palmada (do pai). Não a dor. Mas o constrangimento. A verdade é que não foi preciso mais nenhuma. Bastou-me aquela. Uma palmada na vida. Para aprender."
Assinaturas falsas
"Uma vez, assinei pela minha mãe um teste menos feliz. Apanhei o jeito de assinar e o ‘Maria Filomena Jorge’ daquele dia era meu. Foi a única vez. Confesso que, até hoje, me envergonho do que fiz. (…) Prefiro acreditar que foi o sentido de responsabilidade que me levou a essa pequena falsificação."
Perfume da professora
"Talvez por causa dela (professora Helena) eu nunca tenha usado perfume. Nenhum era igual ao dela, nenhum era tão bom como o dela. (…) Sei apenas que quando criei o ‘MEU’, ele tinha de ser isso. Meu. Como o dela, que não era de mais ninguém."
Doida por ‘Gorila’ de banana
"Ela (mãe) comprava-me pastilhas às escondidas. Pastilhas Gorila, de banana, as minhas preferidas. E aquilo era um trato secreto entre as duas. Em momento algum o meu pai podia desconfiar. (…) Ainda hoje não como uma pastilha à frente do meu pai."
Aprendeu as músicas ‘pimba’
"Aprendi todas as canções populares de as ouvir, repetidas, vezes sem fim na feira. E os artistas, cujas fotografias se estampavam naquele pequeno retângulo, passam agora pelos programas que apresento."
Sabe de cor o lugar das estacas
"Tudo fazia parte de um ritual de que sinto falta. E tenho a certeza de que, se um dia tivesse de voltar à feira, saberia de cor o lugar das estacas. Porque aquilo que nos faz gente jamais nos abandona."
Chorou morte de Lady Di na Ericeira
"Foi ali que soube da morte da princesa (Diana de Gales). Chorei-a como se fosse minha. (…) A verdade é que as coisas marcantes têm lugares. A Ericeira é o meu lugar. Onde me encontro, onde cresço e para onde levei o meu filho logo que nasceu. Ali vivemos seis anos."
Tinha vergonha do carro pobre
"Quando tive a carta na mão (o pai) deu-me um carro. (…) Era vermelho, pequeno e velho. Tão velho que quando chovia, entrava água. Aquele não era carro para uma adolescente se orgulhar. (…) Cheguei a ter alguma vergonha dele. Naquela idade é difícil assumir uma vida modesta diante dos meninos da cidade."
Roupa usada, mas em sacos chiques
"A mim, roupa nova só chegava em ocasiões especiais. Tudo o resto era herdado de uma prima de Lisboa, mais velha do que eu. As roupas vinham com um cheiro bom, como se tivessem sido acabadas de comprar. Nunca me importei de vestir roupa usada. Pelo contrário. Aqueles sacos, com nomes de lojas que pareciam chiques, faziam-me muito feliz."
Da banca da Manela aos ‘Louboutin’
"Na feira da Malveira, ao lado da banca da minha tia, estava a Manuela dos sapatos. Tinha uma banca a perder de vista. A melhor de todas. Ali cheirava a sola de couro genuíno, coisa rara nos corredores da feira. (…) Ali, durante anos, comprei todos os sapatos que me viram crescer o pé. (…) Até conseguir comprar os tais, os de sola vermelha (Christian Louboutin), aqueles que são considerados unanimemente como a jóia dos sapatos. A minha primeira extravagância. Custaram 450 euros. Uma fortuna, para quem estava habituada a escolher na banca da feira. (…) aquele par era uma espécie de troféu. E tinha de os merecer. Sempre que os calço, ganho balanço para continuar. No fundo, eu continuo a escolher daquela bancada. Só a Manuela é que mudou."
Depilação feita só mesmo no limite
" Já toda a gente sabe que não gosto de passar horas em tratamentos que reconheço serem essenciais, mas que não me dão prazer algum. Deixo as brancas aparecerem e adio pintar o cabelo. Depilação é quando já não dá mais para adiar, os pés as mãos vão a arranjar no mesmo dia e ao mesmo tempo (…) Massagens, nem vê-las."
Brincar às princesas na televisão
"Fazer televisão é também brincar às princesas. Nos vestidos, nas jóias, nos cabelos e nas maquilhagens. E sei que tenho de alinhar na brincadeira."
Ciúmes de não ser visita de Goucha
"Houve tempos que cheguei a pensar que não era suficientemente importante para ele. A casa, o seu espaço mais íntimo, não me era permitida – e estabelecia com ele como que uma barreira à amizade. (…) de vez em quando, eu sabia de alguns amigos que lá iam a casa. Seriam eles mais amigos? Não. Nenhum deles está mais tempo do que eu com o Goucha."
O Goucha não dava espaço aos outros
"O Goucha era aquele senhor a quem eu jurara, um dia, que ainda trabalharíamos juntos. O Goucha era aquele senhor que não dava espaço aos outros. O Goucha era aquele senhor que – comentava-se – não tinha deixado a Sónia (Araújo) brilhar. (…) Eu não queira ser uma boneca, um bibelô bonito para enfeitar o canto de um plateau."
Tímida com Judite e Zé Rodrigues
"Estagiei na RTP. No primeiro dia em que pisei a famosa 5 de Outubro, passei pela Judite Sousa e pelo José Rodrigues dos Santos. O encontro fez-me sorrir inesperadamente. Afinal nunca os tinha visto tão de perto."
Catarina Furtado ditou-lhe a sorte
"A Catarina (Furtado) perguntou-me: ‘Qual é o teu número no curso?’. Sem me ter apercebido, reparei naquele momento que era o 13 e disse-lho. Agarrou-me nos ombros e exclamou: ‘Vais ter tanta sorte na vida!’. Esta frase ficou em mim até hoje"
foi indiscreta com tony carreira
"Há uma entrevista que me marcou para sempre. Com o Tony Carreira. (…) E eu fiz-lhe a pergunta: ‘Estás preparado para ver a Fernanda (Antunes) com outro homem?’. (…) Terminei a conversa ali. E foi já quando desligaram as câmaras que o abracei e lhe pedi desculpa. Até hoje penso se devia, ou não, ter-lhe feito a pergunta."
Ainda não digeriu acidente de toureiro
"As primeiras notícias não davam conta da gravidade do estado do Zé (Luís Gonçalves) e a decisão de estrear o programa manteve-se. (…) Passaram-se mais de três anos e ainda não encontrei forma de digerir o que aconteceu. (…) A dança mudou-me enquanto pessoa, mas há uma página que ainda não consegui virar."
Pânico após descoberta de gravidez
"Fiz o teste sozinha, até porque os enjoos me pareciam diferentes das más disposições pontuais. Chorei mesmo no momento em que deu positivo, talvez porque não fora planeado para aquela altura. Levei tempo a contar aos meus pais porque lhe conhecia a vontade do ‘momento certo’. Primeiro o casamento, depois o filho."
Escolheu nome do filho dez anos antes
"Pouco tempo depois de começar a viver o grande amor da minha vida, soube que queria ter um filho. Só um. E dei-lhe nome, dez anos antes de ele nascer. Tiago. Escrevi este nome na areia várias vezes. Fi-lo com aquele que veio a ser o pai que sempre lhe desejei."
Casinhas nunca deixou de ser pai
"O Tiago tinha dois anos quando me separei. Em momento algum fiquei sozinha com o meu filho. O pai que desejei para ele, e que tive a sorte de conseguir, nunca deixou de ser pai. (…) Uma vez família, para sempre família."
Cifrão tirou-lhe a vergonha
"Nem sempre pensei em mim em primeiro lugar. Os medos que tinha – de falhar, de não ser perfeita – levaram-me a esconder características de personalidade, que infelizmente os momentos mais difíceis fizeram emergir. Precisei de fazer o luto de uma mulher, da qual me orgulho, mas que não tinha a força da mulher que sou hoje. (…) O homem que, sem querer, me deu a força necessária à mudança é um dos meus melhores amigos. (…) Até hoje, Cifrão."
Foge das energias negativas
"Raramente me manifesto. Não atribuo importância a energias negativas que, de algum modo, possam desviar-me do meu caminho."
Ainda sonha casar vestida de noiva
"Eu também sempre quis casar-me (sic). (…) Conhecia-as de cor, as lojas de noivas da Baixa, que tanto corpo davam ao sonho de mãe e filha. Conservo cada um desses minutos dispensados aos pormenores dos vestidos, dos véus, dos ramos. Eu imaginava o meu dia. Imaginava a festa e os convidados. (…) Tenho quase 40 anos. Talvez nunca venha a casar-me, mas, ainda assim, fujo deste pensamento sempre que o sinto instalar-se. Como posso eu, a mulher dos sonhos, deixar cair o maior de todos? (…) Por isso, continuo a parar e a suspirar por cada montra de noivas. (…) Até que surja o momento certo."
O primeiro namorado não a amava
"O meu primeiro amor era perfeito. Tinha os olhos claros, cabelo loiro, era magrinho, bonito, de voz doce e tudo o mais que lhe encontrava – fazia-me brilhar. (…) O meu amor perfeito não gostava de mim. As minhas pétalas não encaixavam nas dele. Demorei ainda uns dois anos a perceber que, quando o outro não ama, o nosso coração tem de adormecer. E deixei-o."
Acredita no poder das energias
"Fala-se em más energias. Eu acredito para além do olhar. Acredito que não existe só o que a minha vista consegue alcançar. Acredito em pessoas que roubam a força aos outros e que acendem velas para tirar a luz."
O acidente que quase a matou
"Foi precisamente, depois das festas do Natal (janeiro de 2014), que a vida me pôs à prova. (…) Chovia. Chovia muito. (…) Percorrera uns sete quilómetros daquela auto-estrada quando, num instante, perdi o controlo do carro. Vi um camião do meu lado direito e, à minha frente, um volante que deixei de conseguir segurar. (…) Acabei virada em sentido contrário. Uma viatura embateu de lado na minha e vi luzes de outras na minha direção. (…) Dez segundos. Uma eternidade. Meia hora depois estava, de novo, a caminho da TVI. Para trabalhar".