Leia a carta exclusiva e sentida de Judite Sousa
É, pelo 3.º ano consecutivo, a única jornalista a integrar o grupo das 25 mulheres mais influentes do país. Judite deixou uma carta sentida para ser lida e fazer pensar neste dia 8 de março, Dia da Mulher, mas não só...
Por Judite Sousa
Como mulher, nunca senti que essa condição de género tivesse tido alguma vez impacto sobre o meu percurso profissional ou a minha formação enquanto pessoa.
No princípio era o Verbo e também Adão e Eva...
Homens e mulheres foram criados para estarem juntos, no amor , na vida, na plenitude da existência.
É claro que a realidade contradiz o que tomamos muitas vezes como exemplos de perfeição.
Uma vez, numa entrevista, José Saramago disse-me que durante séculos as mulheres contemplaram os homens, sendo que essa contemplação significava submissão.
Em diferentes culturas, a mulher é colocada em níveis de inferioridade, que consideramos ofensivos. Nos regimes teocrátivos, nem sequer existe um estatuto feminino.
Na Arábia Saudita, por exemplo, só há muito pouco tempo é que as mulheres foram autorizadas a conduzir; algo obscenamente chocante para a nossa civilização judaico-cristã.
Ocidentais – foi preciso esperar pela segunda metade do século XX para que as mulheres vissem reconhecidos os seus direitos políticos, na total acepção do termo. O mesmo aconteceu ao nível do acesso à educação. A partir de Paris, Simone de Beauvoir foi quem mais construiu um pensamento sólido sobre a revolução no feminino.
Nos nossos dias, à exceção das democracias mais avançadas, como é o caso dos países nórdicos, a política permanece como a última fronteira masculina. Porém, há ainda uma profunda assimetria nos salários e no acesso a cargos de elevada responsabilidade.
É curioso notar que em Portugal é escassa a presença feminina nas administrações das empresas do PSI-20.
Daí que não sendo, longe disso, feminista, entendo que é importante reflectir sobre o tema.
Se for no dia da mulher, que seja.
Mas pensemos.