Quando a realidade ultrapassa a ficção: a vida de crime de Antonino Quinci, o verdadeiro narcotraficante de 'Rabo de Peixe'
Um naufrágio levou um carregamento de cocaína a dar à costa em São Miguel, junto à pequena localidade de Rabo de Peixe. Os resultados foram devastadores e envolveram perigosos cartéis colombianos. Vem aí toda a verdade.Em 2001, um grande carregamento de cocaína foi encontrado em Rabo de Peixe, Açores. O naufrágio de um navio que transportava droga fez a carga encalhar na pequena localidade na costa norte da ilha de São Miguel, com 7.500 habitantes. Muitos habitantes locais, por não estarem habituados à droga e à sua pureza, acabaram por sofrer overdoses, levando alguns à morte. Anos depois, os efeitos são devastadores. O caso deixou marcas profundas, com muitos habitantes a continuarem viciados, como foi retratado na série da Netflix 'Rabo de Peixe', protagonizada por José Condessa, Helena Caldeira, Albano Jerónimo, Maria João Bastos ou Pêpê Rapazote, entre outros.
Para lá da ficção, a série documental com toda a verdade sobre os acontecimentos de Rabo de Peixe, da autoria de Rúben Pacheco Correia, estreia este domingo, pelas 19h30, na CMTV. A personagem central de 'Rabo de Peixe – Toda a Verdade' é Antonino Quinci, 'O Italiano', como ficou conhecido o narcotraficante que perdeu as centenas de quilos de cocaína que deram à costa em São Miguel, em 2001.
Quinci tornou-se numa lenda quase com tantas histórias quanto os míticos caçadores de baleias ou os diabretes que 'assombram' as fajãs de pedra escura. Mas quem é, afinal, esta personagem desconcertante, descendente de uma longa linhagem de traficantes de Trapani, na Sicília, sob as atenções das autoridades desde 1982?
Antonino Quinci concedeu várias entrevistas ao açoriano Rúben Pacheco Correia numa penitenciária brasileira em Ceará-Mirim. Já depois das conversas com o autor do documentário da CMTV, 'O Italiano' voltou a escapar às malhas da Justiça quando já se encontrava em prisão domiciliária, com pulseira eletrónica. Com 69 anos de idade, e uma vida dedicada ao crime, esta foi a quarta vez que o narcotraficante fugiu da prisão.
A nova série documental traz à tona os pormenores surpreendentes deste caso que haveria de mudar Rabo de Peixe para sempre. Uma rede de ligações perigosas. Vito, sobrinho de Antonino, veio para os Açores na companhia da mulher, para ajudar o tio em 2001. O casal acabou sequestrado pelo cartel da Colômbia a quem pertencia o carregamento de droga. Era moeda de troca até que a droga aparecesse.
Antonino Quinci escapou da prisão na Sicília, em Ponta Delgada – na sequência dos acontecimentos de Rabo de Peixe – e no Brasil. Em terra de Vera Cruz foi condenado duas vezes e de ambas escapou. Da primeira vez usava a identidade falsa de "José Aníbal”, com a qual foi condenado a 16 anos de prisão, pena que acabou por não cumprir. Acabou detido uma segunda vez, com outro carregamento de droga num veleiro. Nessa altura identificou-se como Antonino Quinci e, por isso, não houve cúmulo jurídico.