Cândida Pinto, de 59 anos de idade, está novamente na Ucrânia, como enviada especial da RTP, e teme pela vida, entre mísseis, bombas e explosões. "O medo está sempre comigo, e o medo protege-me. Se não tiver medo, sou inconsciente. Oiço uma sirene e fico arrepiada, sempre, e fico a olhar para todo o lado. Não sou insensível a essas coisas, nem são coisas às quais me habitue... Se não conseguirmos avançar devido ao medo, não vale a pena estar aqui, mas se não tivermos medo, também nos tornamos inconscientes e colocamo-nos em perigo", conta a jornalista à 'TV 7 Dias'.
Já marcada pelos traumas da guerra neste país do Leste da Europa com a Rússia, mesmo tendo uma vasta experiência nesta matéria, a jornalista da estação pública aproveita para relatar a sua experiência em várias cidades ucranianas: "Em Kherson, há um som constante de artilharia de longo alcance sobre a cidade, que nunca se sabe onde é que vai cair. Tentamos estar atentos, preservar a nossa integridade. Tentamos usar os coletes, os capacetes e tentamos identificar as zonas onde há mais perigos. Quando estamos num local que está a ser bombardeado, temos sempre a sensação de não sabermos se vamos ou não sair de lá. Isso aconteceu-nos em Bakhmut e em Kharkiv. De repente, começámos a ouvir disparos e nem sequer percebíamos de onde é que vinham, porque não se via nada e só se ouvia o barulho dos disparos de arma automática perto de nós."
Com o país quase todo destruído, numa guerra que já dura há um ano, Cândida Pinto e o seu repórter de imagem, David Araújo, fazem apenas uma refeição por dia. Os restaurantes e os espaços comerciais abertos são poucos "Depois, temos o recolher obrigatório, as coisas fecham relativamente cedo e, com a diferença horária em relação a Portugal, trabalhamos até um pouco mais tarde. Há uma regra básica nestas circunstâncias: sempre que passamos por sítios onde há alguma coisa que possamos comprar, compramos, seja água, comida, para manter alguma reserva", justifica.