O poder de Paula Amorim nos negócios há muito que está firmado e, provavelmente, neste momento só não é a mulher mais rica de Portugal porque a grande fortuna de família está nas mãos da sua mãe, Maria Fernanda Amorim, mais precisamente 5,4 mil milhões de euros, numa herança do marido, que tem crescido a olhos vistos. No entanto, quando falamos em continuidade do legado e da visão estratégica de Américo Amorim, não há dúvidas que Paula é a grande sucessora, que faz com que os milhões do clã se multipliquem ano após ano, sobretudo na Galp, com os números divulgados esta segunda-feira, dia 27, a serem para lá de impressionantes.
A petrolífera registou, nos primeiros nove meses do ano, um lucro de 973 milhões de euros, mais 9% do que no período homólogo do ano passado, e com uma marca de 407 milhões de euros no terceiro trimestre, o que equivale a mais 57%. Números que consolidam a Galp, mas principalmente Paula Amorim como a grande mulher de negócios em Portugal. Algo que encheria de orgulho o seu pai, com quem tudo aprendeu, apesar de nunca ter depositado nas três filhas a pressão de darem continuidade ao seu legado. "Não há uma sucessão obrigatória na família. A sucessão é aquela que deriva da capacidade das pessoas que sabem gerir uma empresa. A sucessão familiar, à frente das empresas, é um erro histórico. Eu acho que os filhos não têm de ser herdeiros de nada. O mérito é a única forma de se aceder ao poder. A herança é um direito adquirido, que não tem razão de ser, quando as pessoas não têm a capacidade de gerir", disse Américo Amorim em entrevista a Maria Filomena Mónica.
A questão é que Paula quis imiscuir-se nos negócios, aprender o ofício com as chamadas mãos na massa. Mais do que o curso universitário, que não chegou a terminar, sempre quis estar lado a lado com o pai, a ver como este fazia, a beber das suas ideias, num conhecimento do terreno que fez toda a diferença na sua aprendizagem. "O meu pai foi o meu mentor, a minha referência empresarial e o meu MBA. Começámos a trabalhar juntos quando eu tinha apenas 19 anos. Aprendi muito com ele e uma parte do que sou a ele o devo", já admitiu Paula que, entre os muitos conselhos que lhe foram deixados pelo pai, não se esqueceu de um especial: não ter horizontes curtos.
Foi, por isso, que a herdeira do império decidiu empreender por conta própria. Podia ter-se cingido à corticeira e à Galp, os negócios que lhe foram deixados pelo pai, mas em 2005, e sem que o partilhasse com Américo Amorim, fundou a Fashion Clinic, dando largas à paixão pelo segmento de luxo e também à máxima do progenitor, que sempre disse às filhas: "Saiam de Mozelos [sede da Corticeira Amorim]. Lavem a cabeça no mundo. Não se deixem aprisionar pela mentalidade do caldo-verde."
Paula não deixou e, pelo caminho, continuou a expandir o seu império, o que para muito contribuiu ter encontrado, em segundas núpcias, o parceiro certo para os negócios: o marido Miguel Guedes de Sousa. Se ela tinha a visão estratégica, ele tinha o conhecimento da experiência, fruto de vários anos a trabalhar em gestão hoteleira, em grandes grupos asiáticos. Da confluência de ideias dos dois nasceria o JNcQUOI, com restaurantes, um hotel a caminho e o sonho concretizado do casal em dar nova vida à Comporta com o seu ecoresort, que deverá estar em pleno funcionamento no próximo verão, e que mostra que, para Paula, o seu sucesso é muito vivido em família. É que, para além do companheiro, os dois filhos mais velhos, fruto do primeiro casamento com Rui Alegre, também já estão a seu lado lado nos negócios.
Rui, estudante na área do imobiliário, está ligado ao desenvolvimento deste projeto e já tem acompanhado, inclusivamente, o padrasto, Miguel Guedes de Sousa, em várias viagens de negócios.
Já Francisca, que acabou de se formar na École Hôtelière de Lausanne, vai estagiar para Nova Iorque para depois regressar com novos conhecimentos úteis para este desafio. São os herdeiros do império construído pela mãe que, apesar de não ter concluído os estudos universitários, reconhece, aos dias de hoje, a necessidade de os filhos traçarem um caminho diferente. No entanto, não os quer manter numa espécie de bolha de privilégio e faz questão que, tal como ela, desde tenra idade coloquem as 'mãos na massa' e tenham a perfeita noção da importância do valor do trabalho. Algo que seria confirmado por Francisca numa das poucas entrevistas que deu, à revista 'Hola'.
"A minha mãe é, sem dúvida, a minha maior influência a todos os níveis. É o meu exemplo de liderança feminina. Admiro a sua paixão, intensidade e total empenho em tudo aquilo em que acredita, a sua perseverança, consistência e determinação em cada projeto em que se envolve. Lembro-me de a minha mãe insistir sempre em levar-me com ela nas suas viagens a Paris e Milão para visitar showrooms. Penso que a primeira vez que visitei um showroom foi quando tinha 13 anos, e foi em Milão. Foram momentos únicos entre ela e eu, tanto a nível pessoal como profissional. Foi assim que comecei a ter uma voz ativa nas suas escolhas, o que me fez sentir envolvida nos seus projetos desde muito nova", afirmou a jovem, que estagiou na Farfetch, e desenvolve uma formação internacional, mas tal como a mãe tem bem presente um sentido de portugalidade e quer trabalhar no país em que nasceu.
"Venho de uma família empreendedora e trabalhadora; faz parte do nosso ADN. Nesse sentido, tenho muitas ambições profissionais, e uma delas é, sem dúvida, deixar a minha marca pessoal no Amorim Luxury Group, dando continuidade ao crescimento deste projeto familiar. A marca JNcQUOI tem potencial para se tornar uma marca global, consolidando-se como a primeira marca de luxo portuguesa com reconhecimento internacional. Sinto que estou destinado a desempenhar aqui um papel fundamental, especialmente junto da geração mais jovem — a minha faixa etária — e quero ser uma voz ativa neste processo", disse, mostrando confiança e ambição.
Uma relação estreita que faz com quem os filhos tenham vontade de continuar a trilhar lado a lado com Paula este percurso de sucesso, que se tem traduzido num multiplicar de contas em que, até agora, os cálculos têm sido sempre os de somar, isto entre o que empreende por conta própria e o legado do pai, que faz com que um dos locais preferidos da gestora para o ócio seja, precisamente, uma quinta que herdou de Américo Amorim, no Alentejo, e que lhe transmite esse equilíbrio com que encara a vida.
"O meu pai comprou esta quinta a uma família portuguesa em 1987. Representa passado, legado e responsabilidade, mas também presente e futuro através dos nossos filhos. É o lugar onde quero que a história continue a repetir-se ao longo de várias gerações", afirmou numa entrevista em que abriu as portas dessa mesma propriedade à 'Hola'.