
Apesar de não ser totalmente pacífico entre a classe jornalística, a verdade é que sempre foi recebida com uma certa complacência a queda para um tom nacionalista nas transmissões, nos relatos e até nas notícias sobre futebol, em particular sobre a seleção nacional. Domingo passado, voltou a manifestar-se, e foi mesmo omnipresente o tom de desilusão durante a transmissão em direto do jogo frente à Bélgica, e, depois, na generalidade da cobertura das televisões portuguesas com direitos de imagem do Euro 2020.
Porém, em abono da verdade deve sublinhar-se que a eliminação da equipa portuguesa não apagou a necessária crítica a algumas decisões do selecionador, ou a certas exibições de jogadores. Limito esta análise aos três canais de cabo que partilharam os direitos do Europeu de futebol: SIC Notícias, TVI24 e RTP3. Entre estes, destaco a televisão do Estado. Teve o melhor acompanhamento da equipa no estrangeiro, evitou algum folclore que chegou a ser excessivo na TVI, e sobretudo em certas reportagens "de autor", digamos assim, nos jornais da SIC, reportagens essas que exageraram claramente no folclore e nos truques televisivos.
As transmissões de jogos na RTP também foram as mais sóbrias. Finalmente, a RTP3 teve aquilo que acabou por marcar a diferença. Na noite da derrota portuguesa, não embarcou no discurso complacente. Colocou em estúdio comentadores inesperados e exteriores ao sistema, como Blessing Lumueno e Marta Massada, que analisaram de forma desassombrada e com espírito crítico o que tinha corrido mal. Dois comentadores com foco e sem medo. Ao fechar com chave de ouro, a RTP ganhou o Euro aos seus concorrentes com quem partilhou os direitos dos jogos.
INFORMAÇÃO - DESILUSÃO
Na chegada da seleção a Portugal, o vazio das ruas trouxe a nostalgia da enchente sem fim de 2016, no regresso de Paris a uma capital em apoteose nunca vista. Nesse dia, foi bonita a festa, houve multidões por todo o lado, houve o hino e a taça, autocarros panorâmicos, novos, velhos, homens e mulheres, na estrada, nas janelas, em cada nesga de terreno. Agora, a melancolia agravou o trágico sentimento de abandono que afeta a sociedade portuguesa depois do pico da pandemia. Também por isso ficou a faltar um par de vitórias, pelo menos, para sarar algumas feridas no amor-próprio. Talvez para o ano, no Mundial.
ENTRETENIMENTO - STREAMING
O padrão de consumo televisivo trazido pela pandemia tem as plataformas de streaming como grande novidade. As grandes multinacionais dos conteúdos têm muita qualidade nos produtos novos, sobretudo séries, e em geral complementam-na com um fundo de catálogo muito extenso e atrativo. Em Portugal, as plataformas de streaming não concorrem com as operadoras de cabo, porque a ligação do nosso público às estrelas, à informação e às novelas em português é muito enraizada, e jamais será cortada. Não é à toa que já levamos quase 900 anos como nação. Porém, sendo complementares à oferta de cabo, as plataformas são uma nova fonte de rendimento para a indústria, e, aqui, a SIC, com o Opto, saiu bem à frente.
SOBE - CRISTINA FERREIRA
Finalmente, um dia em grande. Domingo, a grelha foi bem alinhada, o planeamento bem feito, o concurso foi partido em 4 segmentos, para ganhar ao Agricultor. Quando as coisas são bem feitas há muito mais probabilidades de correrem bem. Uma rara lição da TVI.
SOBE - SÍLVIA ALBERTO
Muito segura na apresentação do Got Talent, da RTP. Começa a configurar-se como sucessora natural de Catarina Furtado na apresentação dos grandes formatos de entretenimento do canal público.
DESCE - MARCELO
O Presidente assume-se cada vez mais como grande pedagogo da vida pós-pandemia. Contra a síndrome da nostalgia do confinamento, que ataca cada vez mais políticos e a generalidade dos chamados especialistas, Marcelo viu o jogo de futebol num restaurante e comentou, no final. O restaurante chamava-se Viriato, herói mítico dos lusitanos. Alta política.