
Todos sabemos que quando alguém toca à campainha temos de nos levantar, ir até à porta, abrir, cumprimentar. Provavelmente teremos de levar até à sala quem acaba de chegar. Imaginar que este movimento tem algum interesse televisivo é o maior erro do novo formato da TVI às 7 da tarde. A apresentadora atua como se tudo isto fosse um espetáculo. Não é. E não é porque a televisão não é igual à vida. Pelo contrário. A boa televisão é aquela que cria uma verosímil ilusão de realidade, que faz a elipse temporal e anula os momentos mortos, colocando no seu lugar tanta luz, cor e animação quanto possível. O programa Cristina ComVida sofre de uma espécie de síndroma infantil equivalente ao medo do escuro. O resultado é que, durante aquela hora, nada de interessante acontece. Se a isso juntarmos a falta de convidados de qualidade (na primeira semana, só se salvou Pedro Abrunhosa), o tique de colocar toda a gente na cozinha, e o humor de cariz pseudo-erótico de gosto duvidoso, temos aquilo a que se pode chamar um enorme aborrecimento. Ainda por cima, tudo se passa num local que não foi pensado para funcionar como estúdio de televisão, pelo que a falta de soluções de câmara deixa muitas vezes o realizador desamparado. Eis o retrato dramático da nova aposta da TVI, no acesso ao horário nobre. Resultado: a TVI está em queda, e vai continuar a perder grande parte do terreno que tinha recuperado.
INFORMAÇÃO - LARES DE IDOSOS
Com raras exceções, a cobertura noticiosa da pandemia nas estações generalistas continua marcada pelo tom unanimista. São raras as vozes que contestam um confinamento tão prolongado, são quase silenciados os que ousam criticar as opções das autoridades de saúde e do governo. A ida do Presidente Marcelo a um lar de idosos, no fim de semana passado, tem pelo menos o mérito de chamar a atenção para o escândalo mais silenciado desta fase da doença: os idosos que vivem em lares continuam isolados e sem visitas, numa tortura sociológica da qual ainda não se vislumbra a saída. Eis a magistratura de influência presidencial que por vezes falta.
PROGRAMAÇÃO - ENTRETENIMENTO SAUDÁVEL
The Voice Kids é a versão infantil do talent show da RTP, domingo à noite, e continua a funcionar como alternativa aos programas de cariz mais popular emitidos no mesmo horário, quer pela TVI, quer pela SIC. Dos graúdos para os miúdos muda muito pouco, e a estação pública mantém a qualidade da produção, a boa apresentação, e o cariz mais pedagógico e de entretenimento saudável para toda a família. E, surpresa: os resultados até nem são maus. Este domingo, o canal 1 registou uns miseráveis 10 pontos de share, e o The Voice fez acima de 15. Um caminho para o serviço público, o entretenimento de qualidade.
SOBE - NICOLAU SANTOS
Independentemente do enquadramento do processo de escolha, a RTP tem um Presidente que é profissional da indústria há muitos anos, e não um qualquer ET enxertado pela mera lógica partidária. Assim, leva o benefício da dúvida, porque se o seu mandato for um sucesso é o País que fica a ganhar.
MANTÉM - ANSELMO CRESPO
Na construção do share diário da TVI, a informação tem um papel cada vez mais relevante. O fim do Big Brother, o erro de algumas opções e as dificuldades de lançamento do programa de Cristina Ferreira colocam o Jornal das 8 muitas vezes acima da média da estação. Independentemente da qualidade do produto, esse é o facto que resulta deste arranque do mês de abril.
DESCE - GONÇALO REIS
O benefício da dúvida que deve ser dado a Nicolau Santos implica fazer-se o balanço da governação de Gonçalo Reis. Dois mandatos que nada acrescentaram à vida da RTP. Deixa como legado alguns dos piores registos na história da empresa: telejornais cheios de ministros, canal de informação no cabo a fazer mínimos históricos de 0,3 e 0,4%, RTP2 praticamente inexistente, canal 1 sem resultados nem ideias diferenciadoras.