
O mal está feito. Primeiro, ao decidir colocar em grelha a 'Supernanny', a SIC errou, porque decidiu apostar num conceito do século passado, quando, nos dias de hoje, a mobilização da sociedade em defesa de causas e das vítimas, mesmo contra os media, já é muito diferente dos tempos em que as televisões tinham lideranças iluminadas, à maneira de Rangel e Moniz.
Pior: não contente com este erro de percepção, a estação ignorou os sinais dados pelas críticas feitas à primeira emissão, e manteve o formato no ar.
Ora, o programa ultrapassava todos os limites. Sim, o dano causado à reputação do canal será problema exclusivo de Carnaxide. Já o facto de a SIC ter aberto o flanco a uma intervenção judicial sobre um programa televisivo é um gravíssimo precedente ao nível da liberdade de expressão.
Na verdade, a estação deu motivos à justiça para intervir, escudada em princípios simples, cristalinos e perceptíveis por toda a sociedade: o tribunal decidiu em nome da defesa do superior interesse das crianças. Nada mais claro, e inatacável.
Aqui chegados, é imperioso perguntar: como foi possível? Como chegou a SIC a este patamar de degradação total da responsabilidade e do reconhecimento social da estação? Como foi possível o líder histórico da empresa, Francisco Pinto Balsemão, ter ficado sozinho, a liderar uma reunião com Luís Proença e Ricardo Costa, para colocar algum bom senso na companhia? O comunicado da SIC não fala em retomar o programa. Fez bem. O melhor é aproveitar este silêncio, deixar a 'Supernanny' cair no esquecimento, e trabalhar para recuperar o prestígio do canal.