
Confesso, logo a abrir, por escrúpulo profissional: vi o 'Supernanny' nas gravações, por obrigação que advém da responsabilidade de falar semanalmente com os leitores da 'TV Guia'. Não consegui chegar ao fim do programa. A meio, o meu incómodo era tanto, que desliguei.
Mesmo assim, parece-me pertinente partilhar algumas reflexões. Antes de mais: trata-se de um modelo internacional adquirido pela SIC em 2006, ou seja, há 12 anos. O director de Programas da altura, Francisco Penim, decidiu adiar indefinidamente a produção, e o programa nunca viu a luz do dia. Doze anos depois, foi retomado, e aí está no ar.
Trata-se de colocar Teresa Paula Marques, psicóloga clínica com 25 anos de experiência, a resolver problemas de comportamento de crianças. Na primeira parte, mostra-se a família em acção, para fazer o retrato do problema. Há, depois, o diagnóstico, feito em diálogo entre a 'Supernanny' e os adultos da família. Finalmente, a resolução dos problemas.
No primeiro episódio, a Margarida, de 7 anos, não cumpria as regras básicas, e Teresa Marques interveio. É tudo filmado, inclusive os castigos, a troca de insultos entre criança, família e psicóloga clínica, o choro e a resistência. Em resumo: o dia normal de qualquer processo de educação em família, exposto na TV por vontade, e com autorização, dos adultos.
A violência emocional vai para lá dos reality shows. Não é um formato que altere o perfil da SIC: é susceptível de o destruir. Se ainda houver algum bom senso na empresa, quando os leitores estiverem a ler esta crónica, o formato já terá sido descontinuado.